quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Pelo que me permite dizer, escuso-me de ter de entender, clarabóia minha é só um sofrimento irracional de disciplina que me liga à vida. No casulo do tempo rezo o futuro perdendo o presente e é tudo uma beleza feia que me sorri irónica a verdade, só intelectual, de existir. Preferiria olhar ao lado, não ver mas sentir o corpo a ir, sei lá onde, interagindo como se só mais um e a dor que era minha passaria para os outros e me retornaria positiva. Há tanto tempo que morro que já não sei viver… Como se fosse um tabu, um dogma, o sentir o ar sem lhe reflectir pensamento. Anseio sempre mas nada faço, e o recorrer ao pensamento é a minha forma de viver. Triste ser. Sozinho, cansado de fumar, acende outro para esquecer. Além que tem sempre forma de se entregar, entrega-se ao nada porque, diz ele, tem tudo. Um idiota portanto.
…pois tenho amor em barda
E o egoísmo supremo
Para o procriar sozinho!
Promessas singelas
Estas tuas que me deste.

E no principio da noite
Encontro-me no reverso
Da ideia essa
Que me permite ser alado
Como a nuvem,
Sem tecto ou consciência,
Perigoso do medo,
Pois viver é procura.

Ó doença essa que me come a tristeza
Metendo os restos numa gaveta do coração.

Quem eras tu, meu irmão,
Que num jogo de dados
Descobriste, sem razão,
Me mimar com tua inteligência
Como se só houvesse ontem
E o amanhã, tão certo, aqui entre nós.

Noites de diamantes
Carecem-me as palmas da mão
Em turbilhão de desconforto
Que encerra a busca no outro,
Salvação.

E na beira da morte eu olho e escrevo
Como que descobrindo a vida em cada letra
E em seguida chorar a reacção física do pensamento.

Ó deuses de todos os tempos
Rogo a vós poder infinito
Que sou de principio voador
E só por descuido do criador
Apareci aqui nu e corpo só!

Havias de me ver quando não sou.
Não sei de qual sossego o meu
Te veio apagar maior prazer
Mas fugiste de minha terra
Colonizando outra
Convertendo nativos desconhecidos em teus amigos.

Já me eras Deusa
E eu um simples dono de terras
Mas quando te juntei a mim
Corrias as persianas da casa
E só te querias ver livre dela,
Com ou sem eu.

Na altura, como deusa
Eras a meus humildes olhos,
Sorria de te poder ver,
Por vezes, como minha
E essas tuas correrias
Lá por fora
Só me cresciam
Ousadia ao te pensar.

Mas houve um dia,
Em que era já tarde,
Que te foste
E madrugada, dia e noite seguintes
Não soltaste teu terno grito de retorno.

Pensei que voltarias
E mantive
Assim uma vida casta
Até que te decidisses
A retornar a minha casa.

Ainda hoje te espero
Embora que te já não acredite retorno.
E ciente que tudo isto
Um grande meu sonho,
Te espero ainda como poderia,
Com um muito menor sabor,
Esperar essa antiga e derradeira morte.

Vivo para te ver chegar
E sabendo que não chegas
Como que me acalma a alma
E aquece a cama
Pois sem ti descobri
Como viver contigo.
Energia a mais faz
Com que qualquer pensamento ou emoção
Ganhem tamanhos colossais,
Em parte, maiores que eu.

Porque vivo possuído, deixo-me andar
Por onde o vento me entende
E lembro-me da cultura de meu passado
E passo bem o presente.

Mas com tempo a seu tempo,
E concreto movimento que me tenho
É a expressão matemática dessa equação.

Acaso, fico-me empastado em antecedência de morte
Por preponderante recusa de vida.

Ai, pensamentos intrigados
Renovam pausa essa de racionalidade pretensiosa,
Quando é a raiva dessa puta de vida louca
Que dá frutos mais que lindos
Porque não cuidados,
Nascem sozinhos.

Reconheço uma punheta de responsabilidade no que escrevo
E o resto é escrito pelas circunstâncias, ambiente.

A vida é um fim em si mesma
E só o sonhar
Vive esta mortalidade com honra e coragem,
Cara de selvagem.

Depois o esforço
É pôr o sonho em dia e à luz do dia.
Dar-lhe vida, simplesmente
Porque é o dever de quem cria.


O amor é bem mais extenso que uma só vida,
Façamos amor com o mundo, sem medo,
E se manifestará o Mundo aos olhos de quem sonha a vida
E vive a sonhar.

Os Deuses já pisaram a terra em tempos ancestrais
E esses não a prensavam,
Pisavam como uma carícia
Pois seu peso era-lhes consciente.

Hoje é só manadas de trabalhadores inconsequentes
Pisando o chão sem qualquer noção
De que são.

Ah, vamo-nos juntar aos Deuses!
Dar-lhes vida, por nossa já tão vivida!

Façamos amor,
Não para nascerem putos
Mas nascerem possibilidades, sonhos e mundos!

Liberdade jorrada por ejaculações altas,
Abraçadas por esse ventre menino
De mulher fértil!

Ai, o deixar de tanto pensar
Para poder em silencio partilhar nossa terrena
Emoção por quem nos está próximo sem senão.

Colher o que há e sorrir,
Porque há, e por haver, acontece.

Que complicada será a vida se a certeza
É que se vive e se há de morrer?

Tranquilo.
Todos antes de nós o fizeram
E todos o hão de fazer.
Unimo-nos na morte
E assim a morte é a derradeira Mãe,
A quem todos devem o privilégio da vida.
Ligada a ramos
De suplicio de lua
O encarnado se dissolve
E pasta-se na tela
Negro como a noite.

Ah, maravilhas de comer sentimentos
Que se cheiram dengosos a mexer.
Pedras, que não pesam, brilhantes
Que iluminam o caminho, aceso, sozinho.

Que honra o fazer o que me apetecer,
Querer o que se pode ter
E o buscar sem mal dizer.

Famílias sentadas a comemorar o jantar
Que corpo e alma agradecem.

Depois, casa, televisão.
Em breve o sono para restabelecer um mais dia.

Concreto e simplório
Reconhece a veste curtida
Que me aperta em saída.
(Pouca, pouca é certo…)

Corrida a cortina de quem vê,
Vê-se quem passa
E fala-se a quem olha
Porque hoje apetece comunicar.

Graça, aquela menina
Que engraça comigo
E eu que me acho um zero
Nervoso de meu enleio
Mas nele ajo em cheio.

Quais promessas e ilusões?
Ontem aqui estive
E hoje o estou,
Amanhã sim levarei pancada para cá não estar
Pois criava aqui já raízes de um outro lugar.


Vejo o longe perto
E é-me seguro assim
Embora que o incerto seja
A segura certeza que se vive
E se está atento.
Felizmente acompanhou-me até casa, escovou-me e disse que era um menino bonito. Fiquei a olhar-lhe as pernas até onde a saia o permitia, e sorri e gani para que ela viesse uma vez mais, mas não veio. Passei pelo quintal tentando encontrar algo para fazer mas nada havia que me esquecesse da namorada do meu dono. Devem andar lá em cima a pinar, pensei eu. O que se faz quando não se tem nada para fazer? Sendo um cão, dorme-se.
Além tempo de comunhão
As asas a pousar na mão dela.
E eu no sangue da vida
Sorrindo, encantado.

Hoje a nobre velhice insensata
Para adquirir o que não já mereço,
Veneno do ousado.

Vestes escuras e cara magra.
O corpo dorido de dores cerebrais
E a canção do sol só dá
Quando escreves,
Não é meu velho?

Juventude espremida.

Não sei…anseio ser velho.

Gosto da lentidão, do frio,
Do cansaço e da desculpa fácil
De poder dizer: “estou velho”.

É algo muito católico,
Devia-me ofender com isso
Mas assim sinto
Assim digo.

Só sei quando algo está certo
Quando o sinto antes de o fazer ou ser.

Sentir é a dádiva dos Deuses,
Como costumo dizer.

Não o ir às cegas
Que é só uma partida da formiga humana.

Nesta existência ou se serve a si como
Ser racional e individual
Ou se serve Deus,
Que pode ou ser um Deus exterior
Ou que tem porta-voz dentro de nós mesmos.

Há maneiras infinitas de ser quem se é
Mas é a que se escolhe
Ou pela qual se deixa ser escolhido
Que realmente vai ter valor em crer.
A morte é um belo Deus
Porque se não deixa conhecer,
Permite-se a ser inventada.