quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vida aurora pronta. Sentados na luz da memoria, meus amigos e acontecimentos passados sempre presentes acompanhando-me a fustiga luta que se torna, aos poucos, a vida adulta. Tão mais fácil seria ser cínico e inconsequente, perdido na inconsciência de ter consciência própria. Sou mais calado do que devia e vivo bem menos do que devia. A propósito disto direi que me preservo como um rei mas não será isto não mais que cobardia? Só o tempo dirá. Há espaços em branco e amanhã serei outro. O parar é a antítese do que me possui e assim resisto ao que posso, dou-me a quem me dou porque recebo deles o que quero. Amálgama de vida solta, medo de pousar responsabilidades num meu não-lugar e pré-dizer futuros quando nem o presente consigo ter em mão. Porventura, sentado na estante da sala, eu perscruto o que viveria se houvesse aqui mais que a minha vida, mas pareço lançado no coração do órgão máximo da desilusão: Cérebro. Lançado em tão pérfida mudança civilizacional em que o ser cínico é a ostentação… Poderia me, enfim, esquecer disto e lembrar-me apenas que o tempo não é nada mas uma memória que se ganha dele por hábito e palermice.
Que me sinto um com a vida e a criação.

Vivo como que eterno pois tão centrado no que sinto.

Se tiver que ser, morrerei jovem
No limiar de me acontecer.

Sem pena vou para a frente,
Reconhecendo que sei o que sei
Porque me cumpro sempre no que serei.

A vida é tão bonita,
E mais a sinto
Quando incompleto vejo o completo
Que é a vida sem mim.

Tudo isto…tão bonito.
Entre o dado esquecido e o encontrado,
A espera de paciência que forma
O pequeno homem em aprendiz de sábio.

Silencio na sala de estar
Porque o povo saiu à rua para discutir
A diversão com aversão.

Colho uma cerveja do frigorífico
E fico me a olhar o silêncio
Como se ele matéria-prima da criação.

Lembranças encantadas em solidão afunilada
Pela pacificação minha de directa consequência
Dessa consciência altiva de me enojar minha aparente burguesia.

Espaço ao certo quando fecho os olhos
Engulo e desapareço
No magnifico incerto da imaginação.

Recrio passado para viver o recreio do tempo livre
E olho e creio que tudo é belo
Porque aqui não estou para ver o feio.

Parar, para escutar o avançar.

Depois, além do além a conquista.
Mas essa, além bela,
Não me espera só me inspira:
Sou seu servo,
Seu discípulo,
Seu crente.
Nem triste.
Estou em parte morto,
Mas um morto optimista
E produtivo
Amigo de seu amigo.
Cortamos pétalas de flores não nossas
E de memorias fazemos filmes de Hollywood.

Maçada a vida burguesa
E maçada a solidão forçada
De quase todo o meu serão.

Haverá estrelas no meu caminho.
Por muito que poucas
Serão e sendo,
Eu as verei reflectir em mim
Futuro que creio já neste passado
Que de momento é presente.

Tenho os amigos todos no chão,
Confusos e em senão.

Eu que me há tanto habituei
A contradizer meu desejo
Para desfrutar da infinita arte,
Fico como que não sabendo
Ao certo o que dizer.
Porque dizendo conselho
É errado
Que conselho eu só o sei o meu.

Um está na rua em Paris,
O outro sem trabalho no funil do amor
Assim-assim,
Mais amado porque temido mas facilitado…

A outra mandou-me agora mensagem
A dizer que ainda cá
E não lá vai no futuro próximo.
Que está farta da família e está sozinha em casa
Com os pés na areia dessa praia Algarvia.

Os outros dois estão longe demais
Para saber estes detalhes,
No fundo, superficiais.

Tenho a arte
E a arte é casa primordial
Desde que a sejamos,
Sacrificando nossa interesseira vida
Pelo bem maior da criação.

Tenho a arte e por isso me não queixo.

Há que negar o que se possa
E há que se resignar, para compreender
E assim evoluir, ao que se é, sente.

Há amor em todo o meu pensamento.
E assim me cuido só,
Respirando o infinito em que me proponho mergulhar
Nesse não fim, de no fundo saber,
Que não se está bem aqui.

E o quanto eu adoro
Na solidão da rua ver verter de mim
Pensamento e sonhos…
Sentimentos?

Ou no oposto:
Ver-me aberto ao receber
De um livro seu íssimo projecto!

Não tenho nada a dizer.

Viver é a minha sina
Seja ela o que tiver…
Vasto mundo me enaltece,
Faz-me esquecer que sou
Para te ser intrinsecamente.

Até hoje fui eu
Agora quero ser teu.

Que me leves pelas encruzilhadas dúbias da vida
Pois quero descobri-la.

Já vivi meu mundo
E hoje sei o longe que posso nele chegar.
Assim, perdeu a graça para mim,
E quero enveredar por onde não sei
E consta que ainda não sou – Mundo.

Portanto leva-me que te serei
Mais que eu, teu, ó belo mundo!