quarta-feira, 16 de março de 2011

Danço o vento ao ar
E chora filha sorridente,
Geralmente,
A meus braços
Que a agarram
Na minha manifesta preocupação por ela
Numa vida que lhe não
Dará o que lhe devia…

Querida filha minha
Que hás-de nascer,
Sorrio-te hoje e te lanço ao ar
A primeira mensagem.

Quero-te bem, minha querida,
Ainda repousas tu no óvulo de tua mãe
E eu ainda desconhecido dela
Pareço já a conhecer…

Ai minha querida
O amor que te terei a ter…
Mas logo que tiveres asas
Para andar
Te largarei no mundo
Para te nele habituar.

Com meu amor
Não terás qualquer medo desse mundo
Que te alcançará.
Meu amor é fogo imenso
Que arde sereno de seu poder.
Assim se o tocares confiante
Não queima só se perpétua
Por teu corpo,
Procurando um outro lar no teu coração.


A viagem é tanta nesta vida
E ainda a sinto por começar
Que não sei quando te conceberei…

Minha mulher,
Tua mãe,
Há de ser índia terrena
De vestes do céu
E alma do além!

Ai, essa deusa que é tua mãe…
Será que ela pensa agora
Em mim também?

Repousa descansada
No óvulo de tua mãe,
Que em breve um dos meus
Nano-eu’s te conceberá
Pela real manifestação de Deus:
Natureza.

Até lá minha querida filha!
Tudo o que acontece
Porque acontece
Deve acontecer.
Nunca se deixa de amar.

Amar alguém é como
Deixar uma árvore crescer
Da união de 2 almas.

Ela continua crescendo
Mesmo sem a presença dos 2 corpos.

Alcança o céu e a terra
Por vontade própria
E a mente de mais fraca ser
Para sempre se verga
À sombra dessa árvore que se fez nascer.

Há uma última sempre
E só se dissolve o amor anterior
Na continuação desse
Num outro corpo, numa outra mente.

O amor é para sempre
E é forte demais
Para se racionalizar…
É seiva que não
Se pode negar
Porque flui por entre nós.

Que ontem vi a tua alma
Num outro corpo semelhante ao teu
E me fui emocionando
Aos poucos com tal observação.

Não esqueço o amor,
Não posso.
Nem é uma questão de poder
É:
Em matéria de amor
O ser eu
Não tem nada a dizer…

quarta-feira, 9 de março de 2011

O que é o tempo?

Tempo se perde
Ou é esquecido?

Auroras várias
Que deixo de ver por sono.

Mas quando acordo
Desgosto de minha estadia
Efémera na cama.

Acordar na companhia
Ou ouvindo gritos bons
De fora da cama…

O som do galo,
Da ovelha, do porco,
Dos pássaros.

Algo que não seja a ausência.

O tempo passa e nunca sei se o
Aproveito ou me basto
Em tolerá-lo serenamente.

Mas tenho desejo de tempo
E sei que o tempo
Que estou agora a ter
É só a base de um tempo
Em que me vou esquecer
Vivendo plenamente.

A luz de um amanhã…

Mas não sonho não esse amanhã.
Construo-o, isso sim,
Em meu presente.

Talvez daí não me sentir vivente
Antes me quedo como trabalhador obreiro
Do meu caminho.

Há que começar de baixo
Para realmente apreciar
A beleza a que chega
A altura da vida.

Não subo outras escadas
Vou construindo as minhas.
Construindo e subindo,
Construindo e subindo.

Não quero subir nenhuma outra escada
Da qual não participei na construção.

Assim meu futuro incerto
Existe na minha mente.
No real
Ou subo um degrau
Ou estou construindo o próximo.

Com calma,
Que na vida a pressa
É a antítese da maravilha!

Se a coisa demora
Então mais tempo há
Para dar graças a tudo isto!

Que outra vida desejei?...

Sim, é verdade…
Mas antes gritava aos ventos
Regendo-me amargurado, feito criança.
Hoje sei que o que tenho
Está aqui
E o que quero parte daqui.

Assim há mais base
Para não criar distúrbios fúteis
À evolução.

Vem, vem devagar
Ou fica aí
Que vou eu em teu lugar.

De uma maneira
Ou doutra
Nosso destino está traçado,
Iremo-nos reencontrar.

Fervorosa centelha
Que me ilumina a vida,
Vive mais ela que eu.
Eu sou só seu mensageiro e guia.

Brilha forte minha luz divina
Sangue de ser humano espiritual
Renascer índio
De mentalidade civilizacional!

Neo-paganismo hirto!
De que estás á espera?
Sorri e ajuda teu irmão.

A vida só existe para quem nela acredite.
Montanhas atentas a mim e eu a elas.

Sintra e Arrábida sempre
No meu horizonte
Como promessa omnipresente
De uma calma diferente.

E há rochas e marés,
Ventos e brisas e eu estou aqui
E estamos todos aqui
Onde hoje o sol se mostra em todo o seu esplendor
E a chuva é só uma lembrança
Do que éramos com ela.

O ficar estando quieto
Ou ainda que pouco andando
É um sossego para
Qualquer alma.

Parede, praia tua
Ainda erradia rocha tanta
E vida antiga.
Deve ser dos teus tantos
Guardiões velhos
Que te auscultam diariamente.

E há água que fica em poça
Quando abandonada na rocha.

Água essa que em breve
Se juntará aos céus
Espiritualizando-se no
Acto de evaporação.

Parece que hoje há sol
E está algum calor
Visto que estou de t-shirt
E séria tentação
Em me abandonar dela.

E foi o que fiz,
Visto que tudo o que se quer
Deve ser feito!

O insucesso e o fracasso
Não disturbem quem já é
Com seu medo.

Até se chega a agradecer
O fracasso, visto dar espaço à reflexão.

Ondas, montanhas, rochas
E um ou outro avião
Sobrevoam meu olhar doce.



Só, assim...
Encanto grande e
Logo em seguida
Tropeção.

Não leis antes acontecimentos,
O que advém
Sustém respiração
Do que antes o antecede.

As emoções olham,
Feitas plateia,
Inovam a sombra
A uma corrente de ar
E abrem a boca
Bem aberta e olhos…
Olhos atentos.

O que vem não
É de vir
Mas vem e assim,
Também vai.

O certo carece do errado
E vice-versa.

Não há que viver
De olhos tapados
Nem reconhecer
Demais também as verdades.

Que a verdade é linguagem
Não racional,
Não humana.
A alma sangra se sabe das verdades…

A mão que se estende
À espera
Já não é apanhada por uma outra,
Fica ali só…

A verdade grita
Como milhões de simultâneas musas
Mas a mentira
É tão mais social…

Que ter então?

O sol brilha e o vento acaricia
Mas sou “só” parte disto tudo…

Aqui nem vejo mão estendida
Estou eu estendido
No chão
Albergando meu leito de conforto
Em tão solitário serão.

Onde ficas tu então?

Fechei os olhos e é noite
As vestes passam por mim
E não as ausculto não.

Em vista está minha mão
Que toca outra que
É só minha outra mão…

Solidão?

Solidão…
Em passo compreendido
Pelo que se acha de si
Vagueia perdida
Pelo caminho que se ilumina
Sozinha à luz das velas.

Encontra um “pedaço”
E lhe chama de amigo,
Corre o vestido para a manga
Até cair no chão.

Não mais há razão
De o vestir
“estou só tu e eu”
Diz ela ao “pedaço”.

E o “pedaço” pedacinho
Vai encontrando seu caminho
De encontro ao coração dela.

Ele que não a quer nem a sente
Está mais perto de seu ente
Que a vida passada dela.

Salta uma brisa
Ainda que pequena
Enerva o frio
Descendo o termómetro orgânico
À angústia da mente.

Foge sorridente pois sabe que assim se aquece.

Não tem amigos mas tem um “pedaço”.

Quando alcança, mão tão vã no alpendre
Da casa abandonada
Cai “pedaço” pedacinho ao chão
E salta a alma!

Onde está o “pedaço”?

Onde ficou ele?

Mão vã a agarra
E a leva para dentro.

Nunca ela vê mais
Que a mão vã,
Que do cotovelo ao resto
É tudo negro, sombra…

Quando ouve a voz
Não a compreende
E neste desterro
Grita de medo.

Agarra firmemente ela,
A mão vã,
Aparece da sombra o “pedaço” pedacinho
E de lá já ela mais compreende…

Ligam-se as luzes
Raia o sol
Viram-se as cruzes
E deixa de ser tudo.
Coisa estranha que se
Sucede em espaço fechado
E mente disciplinada
Que de renovada ciência
Descobre novamente flutuação.

De alegre a libertação,
Jorra poesia e emoção
Feita lava de tão condensada
Mas viva flutua para baixo
Ao som da gravidade;
Única máxima rainha
Da existência física
E, quem sabe, espiritual.

Há felizmente sempre
Montanhas e planícies;
Sítios onde subo, desço
E caminho plano,
Sempre aprendendo
Com o declive
E o precipício
De sempre haver mais
Por onde andar, viver.

O precipício,
Não é grave,
É só uma triste manifestação
De uma montanha
Que perdeu caminho ao descer,
Sem ter como o mais fazer.

O precipício da vida,
Tê-la sempre a correr e ter que a viver,
Essa sim, tarefa para grandes Homens e Mulheres!

Viver é a arte máxima.

Viver, o precipício
Mais fantástico de os todos.

Anda e vai, não venhas
Sempre vai.

terça-feira, 8 de março de 2011

Vejo o canto ao mar
Sussurrar minha inconsciência.

Sigo-lhe as ondas
Como quem segue
Energia que nunca parará.

O sol lindo
Atravessa-me a alma,
Meu corpo agradece
Minha mente descansa
Minha alma se expande.

Trindade que é qualquer uma identidade,
Que de individuo se tornou seu e depois do mundo.

Poesia é pouca
A vida é tudo.

Quando se cansa minha alma
De eu a não corresponder
Aí lhe dou voz e vem ela para a frente
De meu ser
Em expressão escrita de pensamento.

Nada de mais
É o que eu quero.
Apenas faço o meu caminho.
Para que se não isolem
Na putrefacção do individualismo
Sugiro que comuniquem o mais possível
Dando de vós aos outros
Nada querendo em troca senão
O reflexo do que vocês são.
No evangelho da tristeza
Há uma passagem que diz
“deixa-te estar que conhecerás o fim.”

Os vários cultos
Tanto interpretaram a mensagem
No bom e no mau sentido.

Dividiam-se então
Os positivos dos negativos.

Num dos cantos comuns
Há missa de domingo,
Uns cantavam à morte, outros à vida.

Depois havia entre esses domingos
Um grupo que não cantava nada
Antes se falava.

Este último grupo que não tinha religião
Que se pudesse identificar, como tal,
Era o menos extenso mas, ao que parece,
O mais feliz.

Houve então um terramoto imenso
No sábado passado…

Todos se entreajudaram
E assim comunicaram
Quebrando os preconceitos
Que nasciam pela voz do silêncio.

Com isto, compreenderam todos
Que o desejo em todos era o mesmo
E o canto ou a fala só uma forma
De os distinguir dos outros.

Depois de restabelecidos do terramoto
Celebravam não ao domingo mas
Todos os dias: a morte, a vida,
O canto e a fala.
Da vitória ninguém se livra
Da derrota há sempre nova meta.

Mantém-te insatisfeito e
Inventa tuas saídas.

A vida só é bela para quem sabe errar.
No encanto perdido do céu assente
Vislumbro meu menino dormindo.

Olho a lua e ela me não responde
Apenas fica como Deusa
Me olhando com ostentação.

No enorme rochedo da praia
Vulgarizo meu pensamento
Em posse de tão ventosas ideias
Que ao lado do rochedo
São borboletas histericamente frágeis.

Alcanço o meu caminho,
É pequenininho
Como eu
Mas cedo se expande num não caminho
Que é o mundo
Que sou eu.

A areia se foi
Aqui há terra e da terra
Nascem plantas e árvores que me orientam
Os pés até as mais não haver
E aparecer,
Aí sim,
Cimento alcatrão.

Cheguei á cidade
Onde minha voz,
Felizmente,
Encontra outras e onde a compreensão
Pode existir com algum esforço.

Há-os cafés e esplanadas
Sons e caladas mulheres que se mostram.

Sentei-me ao canto da confusão
E vem-me uma criança sorrindo
Vender uma bugiganga qualquer.

Eu lhe sorrio
Dou-lhe uma festa
E um euro para a mão.

Não que seja fã de dar esmola
Mas já que a tenho e ele me pede
Mais merece ele
Que o estado que pensa que me antecede…


Está sol e não está mal de calor,
É-o totalmente acolhedor e nada abrasador.

Veio-me também falar sozinha
Uma menina escondida
Que me perguntou por horas.

Disse que não as tinha
Ao que ela me concedeu Nada.

Vem por mim,
Assim…
Do tão pouco de me esforçar
Albergo tudo o que está no ar.

Á noite vou jantar com uma senhora
E já me antecipo em carinhos impropositados.

Que armazeno o sol
De agora
Para a lua de outrora.

Quero-lhe bem
Ela é que não me quer…