segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Sangrou-me o choro ontem.

Aquilo foi duro.

Pensei que por mais
Que chorasse
Aguentaria,
Mas não,
São alertas
De alegria oprimida.

Quando lambi a lágrima
Soube-me a ferro,
Quando toquei nela
Era vermelho,
Corri para o espelho
E lá estava eu
A chorar sangue.

Minha criança magoada
Não aguentava mais
A minha carência
Gerada pela ambição
Egoísta
Dum racional
(quase) capitalista.
Que nostalgia
Embate em mim
Nestas primeiras noites
De frio intenso de fim de ano.

Nostalgias que parecem
Estar a ser
Reproduzidas num ecrã
Da parte de trás da minha
Cabeça,
Em que o meu subconsciente
Só retrata a parte emocional.

Sinto-me alegre e sozinho
Ansioso, como se algo
Asseguir fosse acontecer
Mas nada vai acontecer
Como o meu consciente
Confirma.

Parece que estou cheio
Estando vazio,
Parece que asseguir vou ter
Com um grande amigo
Ou namorada
Mas sei que é mentira.

São só sentimentos
Projectados
Para me preencherem
O presente vazio.

Quero comer e cheirar
Intensamente este sentimento
De acolhimento,
Mas não há saciamento
Só mais procura
Até o infinito, procuro.
Cheiro e tento comer,
Comer, ah...
Sinto-me bem e
Parece não haver razões para tal
Mas sinto-me bem,
Mesmo bem.
O frio a noite e as memórias.
O verão
Não dá destas coisas
Porque o calor
Está lá fora.

O inverno frio
Contrasta
Com o meu calor interno
E faz-me sobressair.
E eu amo isso.

Este frio que faz
Sentir frio
Sentindo-me vivo
Por o sentir.

Calor tenho o meu...
Ola querida.
Acredito em tantos
Ideáis que mesmo
Que sejas feia
Agora no presente
Tenho-te sempre colorida
E a cheirar a esperança.

Podes ser fatal,
Podes ter um universo infinito,
Podes me ser incompreensível.
Na mesma vivo apaixonado
Por ti.

Tenho sonhos e mais sonhos
Reais, mas por realizar.

São sonhos possiveis
Pelo menos
Metade deles.

Sonhos da terra,
Sonhos da satisfação,
Da realização material,
De meus desejos terrenos.

Outros são
Sonhos de liberdade,
Sonhos de harmonia
E felicidade com os outros.
Sonhos de sociedade.

Outros ainda são
Os de poeta,
Os de artista,
Chegar mais longe
Com a inspiração
Através da arte.
Criar universos niilistas
E vivê-los intensamente
Longe de tudo,
Longe de todos.
Brincar com a realidade
E com o universo
Como uma criança.

O sol diz-me todos
Os dias que sim,
Mas o meu corpo diz não,
Está cansado...
O fogo entristeceu-se
Com a sua própria força,
Chamou a água para
O equilibrar.
A pomba voava alto
Tão alto
Que morreu
De não aguentar
O sentimento de grandeza.
O dia chateado
De já estar tão semelhante
À sua inimiga
Noite
Fogueou
Outro sol
Queimando toda a vida
Que existia.
Os dias passaram a ser
Mais brilhantes
Embora
Que sem ninguém para
Os apreciar.

Corriam nus
Soltos pelas montanhas
Do reino do sol,
Fugiam à
Noite e não parávam.
Morreram de exaustão.

Toc toc.
Quem é?
A mulher que te vai mudar
A vida e
Fazer-te apaixonar!
Ah, mmm, podes voltar mais tarde?
Quero ver se consigo me apaixonar pelo mundo.

Está frio nas mãos,
O corpo estala
Por não ter
Nenhuma antena
Acesa de amor e carinho perto.

Dá-me um beijo,
Não fales
Fico baralhado com essas coisas.
Queres fazer amor comigo
Ali?
Eu quero.
Chhhhh(silencio)
Não fales,
Eu é que sei o que é bom para ti.
Nascido da flor
Vive ao sabor
Do vento.
Corre na floresta
Sem sitio para
Onde ir
Porque tudo parece dele.

Mesmo longe de casa
É feliz
Porque em si
Tem tudo
O que até ali
Aprendeu.

O sol renasce todos
Os dias como ele.
O medo não lhe
É familiar,
No sentido
Em que para ele
Não é medo
O medo que deveras
Sente.

Limita-se a viver
A natureza.
Não há mal
Em me ajudares
Quando não estou bem.

Ouve,
Há amor eterno
Nesse acto,
Pura existência
Essencial
Em ajudar
Quem está mal.

Ahh, daí assustares-te,
Mmm,
Pois claro
Compreendo.

Ainda és nova...
...apreciar a vida
vivê-la intensamente pois
ainda nem uma brisa de cheiro
a morte aparece...

...não pode ser!
Tens 52 anos?!

O triste de neve
Que me canta agora
No meu intimo.

Nunca viveste antes
Minha filha?

Despedaças-me o coração.

Inverno calorento
Que foi toda
A tua vida.

Nunca soubeste a doce companhia
A essência humana
Tocada,
O amor triste,
A amargura compreendida.

Nunca haveis vivido.

Triste sozinha pateta alegre
Pois sorris,
Chorando por dentro.
Não acredito em tal coisa!
Quando foi que aconteceu
Tamanha desgraça?
Acordei o cão
A chorar,
Julguei existir
Desistindo de viver,
Corri mal
Sem parar,
Depois olhei para ti
E sujei-me,
Como se a merda
que tinha na camisa
era tua da alma.
Corri mais um bocado
mal e vomitei
saltei o predio
agarrei amarras
e mandei-as para cima
duma puta a
dizer –“sim!”
quando espreitei
para baixo vi
que estava erecto
o meu instrumento
parace que se excita com isto.
Comi, comi e comi
Até quase cair de desespero
Morre pássaro,
Morre pássaro,
Que voa
Morre
Que és pesado demais para passear
E demais pesado para te fazer voar,
Morre então minha cascata
De solidão sozinha
De merda preta
Corri, corri,
E morri
Enfim finalmente
Distante de tudo o que conhecia.
Local donde vivo,
Donde nasci
Vejo e sinto-te como familiar
Mas tocar é-me dificil.

Os racionalismos
São muitos e
Será que mereço
Sentar-me nesta esplanada?
Como é que as pessoas
Vão olhar para mim?

Um ser solitário estranho
Com medo
Medo de pessoas
Com o peso da vida cedo de mais.

Vejo pessoas,
Sinto inveja dos adolescentes
Tão leves e fúteis talvez.

A noite mais uma vez,
Acordei tarde mais uma vez.

Luzes nas árvores,
Uma igreja
E um boas festas
Com um presépio,
É natal portanto
Confirma-se.

Pessoas a passar aterefadas
Com a vida de trabalho
E familiar,
Tão esgotante que ela é...

O frio, sim
O frio,
Já se sente muito bem.
Eu gosto dele,
Não suporto é vento!

Bébes também,
Mulheres com bébes...
Que será deles?

Velhos caminham
De cabeça baixa,
Falam sobre onde nasceram,
Quem diria que ja foram
Bébes?

Luz sobre a igreja
Acendeu-se á pouco.
Tem-se de lembrar
Sua autoridade
Na sociedade
Esquecida...

Tudo tão apelativo,
As luzes,
O presépio,
A religião,
O frio,
Os sinos agora a lembrar horas!

Tudo tão acolhedor.

Isto é-me querido
Apesar de despresar a igreja.

Míudas bonitas
Risonhas
Leves de viver
Queria-as a todas
Tão lindas que elas são
Assim tão crianças
Soltas.
Insaciáveis cobras do passado
Porque afirmam
Ser tão boas?

O futuro não me sorri tanto porque
Vocês não me largam.
Nem eu vos quero largar.

Parei e pensei.
Gostei de vê-la
Mas ela tem o
Seu mundo
E eu tenho o meu.
A noite trovejou-me
A carência
E irritou-me
A pele branca
E flácida.

O sangue sangrou
Mas só mais tarde
Vi isso.
Quando virei costas ao
Espelho
Vi tudo de vermelho
E o medo
Assombrou-me o tédio.

Corri com
Todas as minhas
Forças
Para baixo dum carro
Que estava longe.

Julguei ver passar
A sombra de um deus,
Escondi então o meu
Para não haver confonto.

Metamorfoses
Queimaram-me
As costas e a cabeça.

Acordei num amanhecer laranja
De passaros a chilrrarem e eu
A os compreender.

Quando saí debaixo do carro
Estavam pessoas com asas
Com ar de espanto
A olhar para mim.

A grande esperança destes seres estava em mim.

Senti um peso anormal
Nas costas
Então olhei para trás.
Tinha asas enormes brancas
De divino!

Uma estava partida...
A grande esperança era deficiente.
Estou no mundo
Mas vivo
Num á parte,
O da minha consciência.
Saltam-me à vista
Imagens duma sociedade
Organizada por fora
Mas despedaçada por dentro.

Olhos famintos de sentido,
Famintos de amor,
Poucos, poucos,
Há poucos desses olhos.
Estão todos já sobrecarregados
Dum mundo
De betão e tecnologia e eficiencia.

Um mundo em que o perfeito
É aplaudido, reconhecido e desejado.

A essência ainda existe
Embora que somente
No amor,
Na relação intima,
No calor de olhares.

Tão dificil que está encontrar
Vida na vida.

Há pessoas, há sentimentos e
Luzes só que
Tudo existe
Para alimentar a mãe máquina,
O monstro capital,
O monstro internacional do ser humano.

Evoluir, contruir, explorar
Para conseguir
Mais e mais...
De quê meus irmãos?
Parem e pensem.

A mentira e a hipocrisia
São o virus genial
Da religião e da civilização capitalista imperial.

Tão fácil
Apanhar essa coisa
Pelo ar da informação
Quando se está
Constipado da mente.

Compreende tua fatalidade
Mas repara no que há
À tua volta, há afecto.
Esse pode ser teu Deus amoroso.

Vamos a ter calma.

Ama-te por mais dificil que seja
Ou ama muito outra pessoa ou coisa
E vais ter calma
E algum sentido.

Olham-me com má cara,
Porque não é bonito
Nem agradável
Estar triste e perdido.

Fujam da tristeza ela é horrivel!
Compra aquilo, vais ver como
Te sentes melhor, agarra a religião,
Ai que conforto.
Sê rico, olha o que podes fazer com tanto dinheiro!
Grita o capital social.

Calma.

Eu tenho amor...
Estou agora em casa
A poucos quilómetros do mar
A ouvi-lo falar.
As nuvens dançam ao
Som de seu cantar
Eu encontro prazer
na harmonia
de deixar de existir
e ter todo o meu poder sensorial
no máximo
para esconder a existência, o racional.

Deixo de existir por momentos
É isso que adoro
Tomo agora consciência.
Sentir que deixo de existir
E tudo o que existe é
Isto que vejo, toco, cheiro, oiço e sinto.
Esta natureza poética
Natural e despretensiosa
E existente
Não o querendo ser
Pois nem consciência
Nem sentido há nisso.

Apenas existir apenas sentir.
Esse anjo da solidão
Estende-me sempre
A mão.

É meu amigo desde que me ajudou
Em batalhas passadas.

Hoje em dia
Tenho medo
De o largar,
De lhe dizer
-“já não preciso de ti.”
Medo de o(me) perder.

Quem sou eu sem
A minha solidão?
Sem o meu negro?
Sem os meus fantasmas?

Não serei ninguém não...
Mas posso de facto ser
Muito mais
Do que
Só isso!
A morte nasceu
Mais uma vez.
Sussurra por aí,
Não a alertar
Sua presença
Mas a sua
Passagem.

Não me dá importância
Mais sei que me vê.

Olhei lá para fora
Vi o mundo
Mas como ela passou
Por mim
Deixei-me
Ficar sentado.
A luz é amarela
A do café
É bela ela
A luz.

Sem ela era tudo
Escuro
Se de noite
E ela foi criada
Para iluminar
E mostrar a vida
Essa luz.
Sim,
Essa mesma luz
Que acendes com despreso
Mostra-te o mundo.
Esse é belo se
Com luz,
A luz mostra
Tudo
Não se limita
A mostrar o bom
Mas tudo
A luz.

Ai a luz essa que mostra!
Que horror
Não quero ver!

Onde estou?
Careço de amor
E não o vejo por aqui,
Só nos outros
Que têm essa arte de se darem.

Jogo os dados
Do destino
E só me aparecem
Mais desafios
E conflitos
Para provar
Aos outros e a mim (mesmo)
Do que sou capaz.

Jogo a vida hoje
Sem brilho,
So como dever,
Como aprender,
Como ver,
O que será possível?
Até onde, até quando?

Sim é que a luz
Mostra tudo
Não só um pouco.
Essa mesma luz que maravilha
Pode angustiar
Ou parecer baça a quem
Já não conhece
O vermelho da vida.

Joguei a carta
Da isolação activa
A vida não é bem minha...
O que é ter uma vida activa
E generosa
A nível afectuoso
E sexual?
Já não sei...

Caminhei na rua escura
Da vida
Com uma ou outra
Porta sorridente,
E cheia de luz lá dentro,
Mas não ousei entrar
De há pouco tempo
Ter saído duma porta
Cristalina imponente.

Fiz mal o percurso
Posterior.

Há que começar de novo!
A ansiedade
Corre-me as veias
E o cansaço
E a vontade de viver
Dissipa-se.

De não viver, o corpo pede para
Morrer.

O que resta é o passado o futuro
A arte e a musica...

O sangue a paixão o desejo
Já não me existem.

Uma ausência
Persiste em
Me assombrar
A luz do dia
E a ausência dela
Na noite.