A salvação e a maldição do artista reside na sua criança magoada
Que ou por ele ou por outros foi magoada e anexada
Num local escuro donde raramente tem o privilégio de sair.
O artista espicaça ou abraça a sua criança
Cada vez que cria ou quer criar.
Se a espicaça a sua arte não transporta em si nenhuma salvação,
Se a abraça então a sua arte contém em si
Nitida ou entre-linhas salvação.
Este último artista procura a salvação dessa criança.
Cada vez que cria a abraça mais perto
A coloca mais perto da luz do dia.
Este artista tem uma forte vontade e necessidade
De fecundar o mundo e se encontrar com a vida em si,
Portanto cria como passatempo
Como necessidade
De se salvar a si mesmo.
Este artista sabe que a realidade alheia
Que não lhe fornece afecto ou informação útil
Ao seu projecto não é a sua realidade pessoal
Entre si e a vida.
Portanto não é importante o que lhe rodeia
Só o que lhe toca ou ele quer tocar.
Assim ele vai criar até ter á frente dos olhos do consciente
A sua bela e ansiosa criança que há tanto ansiava por ver.
Quando a vir então, não mais precisará de criar
Mas só vê-la a andar e saltitar pela vida que ele acabou por criar.
Aí será feliz, aí será livre,
Aí fará as pazes com o mundo, a morte, o universo,
Porque conquistou o poder da vida em si nele mesmo.
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