segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Reinando no limiar da loucura
Foi o começo desta minha nova aventura.
O sentir-me perdido caminhando
Ao encontro
Do que antes decido.
Um acaso que fica por deslumbrar,
Um espelho fixo que se fica pelo meio do reflexo
Deixando o outro, com céu que não se vê sem o que o espelho mostra.
Lágrima corre lenta a face que se quase olha ao espelho
Que só meio mostra.
Um relance, de repente, o que lá não estava que agora está.
Um tão sim que como que parece não…
Além o escuro do não espelho,
Embora que meio ainda é,
De facto,
Um espelho que reflecte meio.
Num relance de fosfato de sódio
Lamurio meu olhar
De luzes estranhas ao luar.

Brinco ao silêncio com meu corpo
Dançando o vento,
Dispo-me do frio do tempo
E acaloro-me na desmedida inovação
De que me basta estar vivo.

Fiquei por aqui
E o tempo me diz
Em pausas serenas, sim.

Ilumino a consciência e vou-me deslumbrando
Com o que sinto
Me esquecendo dos fatalismos infantis
Que me vão surgindo
E aproveitando o pão acabado de fazer
Que barro com manteiga.

Ai, tristeza alegre,
É tudo o que de muito me resta.
Que minha felicidade é um tufão
Que leva os demónios consigo
Sem deles se livrar pois por consequente
São também meus amigos,
Fazem-me crescer.

A vida tem de tudo
E de ela não se controla.
Há que a explorar com sorriso humilde
Sereno.
Que por mais que ela queira
Nos estorvar
Há sempre muito ainda
Por manifestar, vergar, moldar,
Para que a saudade que haja se torne sempre
Na certeza de um céu,
De um mar,
Que está, que fica,
Que vai e se renova constante
Para sempre:
A vida flui.
No encanto de esmeralda acesa
Cessa o canto
Inaudível dessa vossa ave rara.

Com o tempo foi minha
Hoje é vossa
E a noite que o dia vos tem sido
É porque a ave
Cansada de ser de alguém
Quer ser de ninguém.

Amanhã a terna brisa
Alcançará o desdém que hoje
Por aqui paira e havemos de
Sentir de novo a Deusa-mãe,
Até lá a espera é o presente.
Inauguro o prestante
Conheço o elegante
Desapareço fora frio por desnascer
Cá dentro o calor por um dia morrer.

Noite dentro firmo o tempo em água,
Corre solta e de liquida a congelo em anéis
Que visto em meu corpo, agora azul.

Nasce a preguiçosa múmia
Que me açoita o jantar
Brinca fome a sua
Enquanto me encarrego de almoçar.

Quem és, desdenhoso ser que me perturba o sono?
Um cantor, uma libelinha?
Uma sede ceguinha?

Não, és só tu: Luís de Sousa!
Sonho santo que me não dá meu
Me deixa vida.

Elaboras a cinta que um dia prender-te-à.
Jogas fora a maçã e a compota do pão
E sangras os olhos e despes a pele.

Quero um pouco mais daquilo que não existe se faz favor,
Aqui disto que vejo não me chega.

Creio, acontece da desagrega,
E enlaço meu corpo
Em desgraça alheia
Que me convida a entrar.

Ai que cedo se me assola o sono
Nunca o cansaço e a destreza em o saber ter
Me engana que posso dormir.

Mas devia estar sempre desperto, fazer o dobro do mundo inteiro!

Prestar-me à vida.
Estar cá em baixo bem dormindo
Não vale já rigorosamente nada!
Ficará um canto
Para o desconhecido vindouro.

Que fique vazio o canto,
Que espere aceso
Pelo dito dono.

Fique seco para lá não nascer nada
Enquanto que ele não venha.

Quer-se vazio, pranto dele.

Que venha então
Dono dele,
Do canto,
Venha ele então,
Ele que cante
Novamente
O seu canto
No seu canto.
É tarde na manhã ,
Me cansa o físico e suas doenças,
Visto o casaco
E vou à rua buscar pão.

Como eu, entra uma jovem
Que se esconde do mundo
Com ostentação.

Fico-me logo tenso e descoberto
Pronto a desfalecer ou enlouquecer.

Me controlo entre o pensamento fútil mental
E o pensamento fútil do real
Que oiço e vejo os velhos
A falar à nossa volta.

Simultâneo desprezo e afecto
Por esta gente
Que ocupa os arredores da capital
Com seu pensamento certo e simples.

Olho-a de relance e
Me olha com interesse feminino
De baixar cabeça discretamente envergonhada.

Eu não sei
Se me permito envergonhar
Mas enlouqueço, certamente, um pouco mais.

Distâncias do prazer…
Já lhes meti bandeira mas as financio de longe.

Mantenho-as,
Mas são como ilhas longe da Terra-Estado.

E ilhas não se mexem
Mas este ser se mexe e de forma
Deveras deliciosa.

Não lhe quero mostrar demasiado interesse
Que ainda tem ela a ousadia de me interceptar existência.

Meu fogo arde só minha querida,
Hoje não,
Havias de me encontrar num dia bom
Á hora exacta em que estou desperto e disponível
A me ceder voluntariamente muito ao mundo.

Mas nesses dias, é certo, nunca te vejo…
Cigarro tu que és amigo de quem
Contempla,
Amigo de quem invoca a morte ao presente.

Chama dos tempos primordiais de um fogo
Inspirado pelo mais divino dos órgãos
Que nos sustêm:
Pulmões.

Cigarro, por mais que hoje muito humano
Te diga diabo,
Te asseguro divino.
Me ligas ás tribos que vivem ainda na floresta
E me sirvo orgulhoso, ao propósito,
De te acender e inspirar.

Cigarro, tu que tiras
Forças para dares aquelas outras,
As essenciais,
Do pensar, o sentimento
Como forma espiritual do humano.

Cigarro tu que em excesso matas
E em calma iluminas
O fogo transcendental da consciência.

Cigarro, tu que me deslocas da tontura
Do produtivismo
E me asseguras que o real prazer
É saber-se vivo e assim
O se sentir bem dentro de si.

Cigarro, isto que és, que és tu, e que eu te agradeço.
Averiguo noite dentro
As peripécias do caminho
Me julgando sozinho
Saltam da rua,
Ao som de minha caminhada,
Palmas
Os amigos fantasma
Que se foram
E os outros que hão de vir.

Logo me cesso no casulo estridente
De musica silenciosa
Que não se ouve
E só demais me aquece o coração.

Calçada húmida de chuva que teima em cair invisível
Ao som da humidade…

Desperto acompanhado
Das palmas,
É certo,
Que são para mim
E de nada me alegro
Antes serenizo meu estado de conquista
Ao êxtase do cessar de armas
De vitoria à vista.

Servem-me bem os fantasmas
Sei que fruto da mente
Mas minha mente já não mente
A desbloqueei com a consciência e ela agora
Flora orgânica os ventos astrais
Que me interceptam
Aclamando a frutos que já não existem na terra
Mas no espírito o sempre é presente.

Falo a sombras:
Umas vejo olhos,
Outras boca,
Outras,
As mais belas,
Só vejo o coração
Que palpita vermelho
Avermelhando o escuro da sombra
Em tons de outro mundo,
O meu mundo.

Já é madrugada de um novo vindouro dia
Mas o sol ainda se não mostrou
A mim e ao mundo,
Está escuro mas
Quase que já quente.

Com sono…
Sono ou cansado ou já um tanto ressacado
De meu agora anterior momentâneo sonho.

Chaves, porta, casa, quarto, cama,
Amanha é dia,
Amanha há vida.
É um canto escuro
Onde me aprumo,
Guardo lenços e lembranças
Rasgo amarguras e choro alegria
Para a ressuscitar em ternura.

Aliado a mim só o sol:
Só generosidade.

Aqueço o dom
Pondo-o em prática:
Desenvolver, desenvolver
Que não haja fim
Ou sim que haja
Mas tão só lá
Mais bem para a frente.

Aqui me reconheço completo e chega.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Quis esperar-te na sede do café
E de tanto te demoraste
Que escolhi saciar-me à tristeza
Num jogo de solidão atroz.

Quem te viu me disse
E a ti te disseram que me tinha esquartejado
Como escultura andante à tua espera.

Surpresa, admirada, te comoveste
Com a projecção real de tua ideia minha
Na sede do café como eu que sou.

Apressas-te a me vir ao encontro
Estando eu nas lacunas do prazer louco
De com ninguém andar a estar.

Chegas e mais uma vez nem vestígios
De minha carne.
Esperas porta sentada,
Olhas em volta,
Pensas do que foges
E olhas o que pensas.

Finalmente chego exausto da correria
Da minha loucura
E soltas tal grito que logo me presto
Sóbrio de o não estar.

Sorrisos, calor, e amor
A pairar pelos calcanhares.
Entramos, sentas-te e eu me deito.

Recordas a noite de ontem
Como se de toda uma vida se tratasse
E eu de silêncio te decifro
O que foi que não foi
Da minha vida antes de tu chegaste.

Além que eu sou eu e tu és tu,
Somos juntos.
Parado,
Estou paradinho
Aguardo a hora
Esqueço a miragem do que quis minha vida
Floro-a finda, de momento,
A escondo aos olhos dos passageiros
E vejo-a cega me olhando.
“de nada” responde ela
Nem me deixando agradecer,
Meteu-se à frente de meu presente
Roubando protagonismo ao momento
Aliciante de simpatia.

Rédeas curtas no corpo,
Ele me é pequeno mas indomável.

Forjado por forças
Que não as minhas
Veste-se fardado
A uma outra ordem militar, politica
Ou seja lá o que for que é.

Certo, mas parado,
Estava parado,
Paradinho, parado
Na esquina das ruas curvas da praça do João sabes?

Ah que pouco interessa,
És surda…
Para quem me falo eu minha querida?

A enlaçar-me nos cordões umbilicais falsos
Da actual socialização
É que não!

Alheio, alheio me quero
Passageiro a tudo o que hoje
Se grita permanente,
Visceral.

Eu bocejo
Seguindo-se um modesto sim
Pela boca
Como gesto de mão despreocupado.

Visto o casaco que começa a ficar frio,
Olho as horas do relógio da praça
E me parece que parado
Pois não pode ser,
São horas da noite
E raia o sol!

Esqueço,
Deve ser miragem de minha sedenta mente.
Vou comer
Que passa o céu
E vem terra para o estômago se me acalmar.

Saliento com orgulho
Que almocei por 4,90euros tudo!
Desde sopa, prato principal, café, sobremesa, cerveja
Assim sim ali no café “além-mar”.

Moças me vislumbram o olhar
E eu de vermelho ficar
Se me sorriram tão prazeirosamente.
Nada de me diminuírem,
Antes aquele jogo
Belo e estratégico
Que os adultos fazem
Por entendimento mútuo.

É, hoje vou dar um passeio,
É certo,
Um grande passeio!
O artista superior
Mantém a sua criança pura de todo o mundo que a viu nascer.
Sendo só uma criança, uma vida sem etiquetas,
Mantém-na para sempre até morrer dentro de si por nascer.

A pessoa comum não tem tanto “dó”,
Cedo lhe mete vários adereços, nomes,
Brincos, roupas fazendo desaparecer sua criança por detrás
De todo o mundo que a viu nascer.

A pessoa comum esquece sua criança pois a enfeita, aprisionando-a
Com os factores sempre fúteis de seu mundo contemporâneo.
Luz vaga de um lúgubre sórdido,
Alcance mão vã de imaginação supérflua
Ao acto da vida.

Esquecida numa das demais cadeiras pousadas
Pelo chão da sala
Olha fora a rua esquecida
Na sua própria lua.

Descrentes passarinhos
Se figuram dormindo,
Auscultando o sonho
De se não estarem.

Um bule de chá e um livro de leitura aberto
Pousado na coberta da janela
Não fomentam no agora
Grande ideal de vida…

Tempo passa, sono tarda,
Que de sono nada se tem
Quando ele é vivido consciente.

Amarga a cor do passado,
Queimada pelo caído
Sol do presente.

Proliferam desdéns pelo
Que ainda à pouco
Proclamava esperança.

É um, não sei quê,
De negro que entra na mente
E desespera o corpo subitamente.

A morte está certa
A vida com ela é que é desperdício.

Desce as escadas,
Cobre o bolo
Que só de uma fatia se perdeu.
Não dele gostaram os figurante do serão.

Fecha a janela e a cortina,
O frio corta a imagem
De que “isto” continua.

A fome é tanta
Mas como dela se sacia
Não há conhecimento.

Sobe as escadas,
Pensa sono
E logo ele se esvai
Em maior porção de consciência.

Não é que seja um turbilhão
Mas não há qualquer
Complacência pela paz da noite.

Que a noite fosse viva
Que eu assim pudesse ser morto.

Santos lençóis de me entardecer,
A noite é sempre uma promessa
De um sonho espaçoso e como que eterno.

Não que disso desejoso,
Só o racional se brinca com o sentimento.

A morte antecedesse.
Melhor assim,
Tomar conhecimento de seu paradeiro na vida
Antes do derradeiro conhecimento dela
No começo da não-vida.

Como é a não-vida,
Se vida em si não faz nada?

Ocidente, minha educação,
Vive morta por meu conhecimento
De quem vive vivo…

Além que de vida é um conceito humano
Para “isto” que se “experiencia”,
A morte também de conceito humano se trata
E a volúpia dos conceitos humanos
É sempre infantil e mesquinha.

Que a noite me venha
E traga consigo sono meu,
Que venha como que silenciosa abraçar-me
No (meu) leito como amante
De tempos passados,
Amoroso, nada apaixonado.

Sangra-me a vida em sonho
E deixa-me pelo menos em ti voar.