sábado, 9 de julho de 2011

Vou fazer da noite o meu aconchego.

Fazer dela
Razão de viver para amanhã.

Fazer dela a procissão
Do que sinto.

Expor-me a ela como sou
Aguardando sossegado
O retorno dela,
Da gente.

Fazer da noite
Dia
Através do sentimento.

Ambicionar o
Para sempre
Em breves horas
De entendimento.

Descolorar falsidades
E alegrar unicidades.

Viver perdido
O encontro.

Saber dizer o que sinto
Sem receio ou tormento.

Viver o aconchego
De me não reprimir.

Santa cerveja
E santa noite,
Abram-me alas
À alma
Para eu espalhar amor!
Sossego o tempo de meu ter
E me vem vontade de prazer.

Assegurar-me
Boleia do vento,
Despegar-me de corpo
E planar,
Ó espírito meu,
Centro do universo,
Deus?

Que te tenho hoje
Como uma certeza física.

Lembrar um adeus
Como um eterno olá.

Ah sim
Viver também ao contrário
Para ser total.

Chegada a promessa
De uma nova era
Já me sou ela
Antes dela.

Os ventos mudam
E vivo para os sentir.
Não me deixo esconder
Por ambições imateriais
Do só físico.
Quero-me alimentar o espírito.

Mas ele não se alimenta
Ele é
Basta deixar-me ser
E entregar-me,
Ó espírito.
Aí me sinto em além,
Fogo, luz de ninguém
E por isso mesmo
De Deus, isto é, livre.

Já que a compreensão
É amor sem toque
Nisso me exercito
Para quando te tocar,
Ó mulher,
Sentires tu
O meu eu, eu divino.

Calor apreço
Nada mais
Que afecto e entrega.
Sossego a despedida
E saúdo toda a vida!
Sim
Começo aqui
Uma ordem de ontem
Treinado pelo hoje
Fará um belo amanhã.

Que queira
Quem me queira
Que é para eles
Que a faço,
A vida.

Julguei-a perdida
Em tempos
Mas com prazer
A vi resistir.

Depois
Cansado de a resistir
Lá brotou
De novo em mim
Numa mesma cor
Mas mais nítida
E brilhante.
Coisa do tempo,
Coisa de mim.

Parou-se a carroça
E saltei para fora,
Que já não tinha
Dinheiro para a boleia.

Fui a pé
E o quanto eu vi!

Foi minha vida o que vi.

Sempre sentado no café
Ou deambulante
Pelas ruas da nocturna cidade
Segui e segui.

Muita gente toquei eu,
Muita gente eu nunca vi.

Conversas de sábado
E algumas de domingo
A noite do fim
Principio sim.

Esqueci preposições
De galantes estandardizações
E fui a pé,
É verdade,
Por mim.

Escolhi um tempo
Que era o meu
E visitei quem
Me queria
Por satisfazer.

Um canto que me dei
Foi terrível
Depois o aconcheguei.

Tinha febre e angústia,
Amargura também.
Mas tudo passou
Quando nela toquei.

O tempo me reconheceu
E mandou-me ela para mim.

Daí fui sempre dela
E deixei de ser de mim.

Para quê ser de mim
Se hoje temos um filho?