Tanta coisa que podia ser e não é.
Coisas todas juntas
Mas por dentro separadas
O suficiente para não ter de ser.
A coisa parva de nos olharmos
Buscando encontrar o que de encontro
Só há cá dentro.
E em silêncio nos assustamos
De pertencer ao mesmo
Querendo tão menos mais
O que podíamos ser
E por medo não somos.
Falar alto e dançar o ar
À pedra filosofal que é a calçada da rua,
Noite lisboeta,
E sangrarmo-nos em sorrisos excessivos.
Lembrar que a criança éramos
E de adulto o tempo e o hábito,
De almoçar ali e aquela hora,
Fez-nos desacreditar que amanhã não existe
E por isso possível é de o inventar.
E cansamo-nos nesta coisa
De ser correctos e satisfeitos
Enganando a vida
À morte de a esforçar
Para ser simpático
E preservar a calamidade
De nos dizermos democráticos.
Abrir a porta para a rua
Pisar o chão do presente com estilo
Dançar enquanto correm eles.
Iluminar a noite
Com um sorriso implacável de ser sincero.
Tragar a infelicidade alheia
Como uma especiaria
Que o prato principal tem-lo tu.
Orgiar as emoções
Em tentáculo largo
De desejo que lá no alto,
Onde os ventos são tempestades,
Grita a certeza de um amanhã
Já hoje presente.
Ah sim!
Mandar à merda a merda
E saudar a alegria de sermos um
E havermo-nos muitos.
Sem comentários:
Enviar um comentário