Ter quem te conhece…
Não tenho mais.
No entanto tanto aprecio
Esta ignorância alheia
Que me não identifica.
Fico livre de qualquer pulsão a ser
O que os outros olhos querem ver.
Há só o que pulsa de mim.
Além dos outros
Reajo ao vento e às circunstâncias.
Sou o tempo que vivo.
Incógnito por aí
Desconheço de mim
Pois não tenho pousio
Onde me ser real.
Um amigo é fantástico
Mas só se te deixar ser.
Acabo arrasado pela carência
Mas logo que a bloqueio
Nascem-me ejaculações intelectuais.
Hoje sou a anulação
Do meu ser livre
Mas por consequência
De minha terrível disciplina
Sou o que quero ser.
Não há quem me detenha
Ou ponha em causa.
Estou à deriva mas nela me movo
Em poesia:
Controlo do intelecto,
Orgasmo de coração contido.
Trabalho nesta arte de ser.
Sou livre.
Livre até de mim.
Perfeito na acção pois a conheço.
Arte minha está em ser.
Além prazer há perfeição
E essa não tem recompensa
senão no depois da vida.
senão no depois da vida.
Concluo-me a cada momento
E no instante asseguir
Não tenho de ser
Posso escolher.
Vazio.
Pois este mundo não é digno de me ver.
Que os raios do racional
Só reflectem o real
Mas hoje sinto com o coração
Filtrando-o para o intelecto gerando perfeição.
Toda a pequena acção é meticulosamente
Observada por mim.
É loucura mas é real.
Loucura que tenho de matar em breve
Para que não me ela mate a mim.
Fim.
Tenho de o conhecer
Para deveras nascer.
Não eu mas outro.
Um outro que ainda
Não conheço e quero conhecer.
Viver é arte.
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