sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sei lá se estou vivo ou não,
Sei que sinto que não estou
E daí só posso presumir
Que na verdade o estou.





Conquistas do passado
Formam meu eterno ser do presente
Que fazendo se torna passado
Que pensado se torna futuro.






Sou triste figura de Deus
Enjaulado numa cela de civilizado.
Numa qualquer certeza
Alheia á realidade
Ele previa seu futuro momentâneo
Em sonhos que tocavam céu
E com sua vontade
Tendiam a tocar a terra.

Imprevisível foi a descoberta
Que de nada que se vê
É tudo o que se pensa
E neste andar e lembrar
Está a construção
De um velho futuro lar.


Onde foi que pararam a certeza?

Ela não pode ser julgada
Como toda a verdade.

Incubado em qualquer cérebro
Está o filho menino de sua mãe que vivia sorrindo.

Assim nada mais há senão o ouvir
E nisto persistir em ser o que ele pede para ser.

Longe da comunhão
Está o ideal da concretização,
Assim deve-se viver sonhando
Até poder viver o sonho.

Adormecer em si, acordar ainda sonhando
E aos poucos ao sabor da vida ir despertando.
Num andarilho sujo do fim da calçada
Junto á mesa de estar da rua dos descobridores
Está o sol reflectido em imensidão momentânea.
As crianças á porta, brincam a consciência dos avós
E a repressão de seus pais
Num domingo eterno tão igual aos outros.

Fala-se, come-se, bebe-se,
É almoço e a ordem do dia é conviver,
Amanhã trabalho hoje descanso.
Férias imensas num só dia,
Isso é domingo,
Um dia em nada igual aos outros.
Aprisionado entre
A libertação de sábado e a repressão de segunda,
Um dia que não chega nunca a ser,
Pois dividido entre duas perspectivas
Demais opostas.

Um dia que quanto mais bonito
Mais dói
Lembrando o que foi e o que poderia ter sido.

Fica-se vivendo o dia, desejando-o viver,
Desejando-o esquecer.

Domingo é como Deus:
Aprisionado entre o
Racional e o irracional,
O civilizado e o primitivo,
O consciente e o inconsciente,
Livre de regras é caos subentendido.
Na janela, de flores no regaço
A luz nasce dela e a cor é-lhe sorriso.

Há um silencio que nasce de seu olhar
E um reconhecer aroma que parece até afecto
Que não o é deveras,
Esse lhe é negro
Em dias de sol…

Fica ela á janela
A olhar e pensa ela no que pensa
E quem passa e olha
Pensa o que quer…
É uma rua livre de burocracias,
Tudo livre no terreno fértil
Do cérebro português.

Caindo na calçada,
Vão jovens a andar e quem cai
Fica a olhar.
Em silencio ela sorri a quem passa,
A quem fica e todo o espaço
É dela e de quem a vê,
O mundo á volta a cair
E este a sorrir.

Silencio, há compreensão.
Fica quem vai
E vai quem fica.
Espaço a criar.
E logo se o enche de matéria
Que dada significado humano
Perde a virilidade vital.

Prestes a acertar no alvo
Poiso o arco e sigo caminho.
Não me quero na vida destinada,
Sei-a certa, sei-a,
Se quisesse iria,
Não a quero.

Vou e vou,
Vou pelo caminho da minha curiosidade.

Acesa surpresa sou criança novamente.
Não sei para onde vou mas
Vou-me completo em frente.

Dois pés no chão?
Sinto-me longe do chão.
Logo me encolho
Filho de ventre,
Saudades,
Te escolho agora.
Ando de gatas e apesar de cansar sabe melhor!

Em breve diminuirei de tamanho
E desaparecerei
Pela a união de meu pai,
Minha mãe.

Serei o que nunca teria sido
Se não tivesse nascido.
Estamos sem pila nós europeus.
O cristianismo nos pôs uma folha à frente
E nós a materializámos
Com ousadas vestes que tanto escondem o que somos.

Viris,
Viris, homens viris!
E nos dizem para fazer dinheiro e funcionar com o computador…
Até os espermatozóides se suicidam
Não aguentando mais a falta
De recrutamento diário.

Ai homens, coitados de vós,
Sem pila nada são
E as mulheres
Coitadas delas
Que menos dadas á alienação da era económica
Demais se desvirtuam com o confronto
De seus homens sem pila!

(daí tanta paneleiragem, está tudo confuso!)
Entre o dia e a noite deambulo meu luar, esqueço o passado formulo o futuro e tudo o que me chama sabe meu nome: (meu nome) sussurra o vento e eu olho como que adormecido na realidade, acordo ao sonho que me guia por galhos de teias de aranha que ao som dos meus olhos reflectem luz de amanhãs existentes.
A noite me acorda, sim, é noite e todo o meu eu se flora em comunhão com o intelectual, jorra fantasia escrita em tinta azul.
Num presente translúcido a aurora é constante e as sílabas das horas não me existem, mas vejo quem por elas se verga e assim vai ficando corcunda, este corcunda que só eu sei, que só eu vejo.
E parece que uma mentira
É mais doce
Que um doce dia.

Alegria, vem passando o comboio
Que me levará meus sonhos
Me deixando só com tudo o que sou.

Ai, além terra quero mar,
Reconhecer o passar e deixá-lo estar
No inconsequente delírio de o ser todo igual.

Chamas da vida paralelas
Á água salgada de meus olhos corajosos.

Foram-se de mim e nem os vi,
Arrancaram pedal em frente
Consumo estridente de gasolina!

Onde ficou a minha deveras crucial multiplatina androgenia de ser universal?

Canso-me de não me cansar.
Forças infinitas,
Não sono,
Não nada,
Só vida sempre me a jorrar
E eu sem a querer afogar
Ajudo-me a senti-la o mais que posso.

Além mar, já nova terra por desbravar
E lá sou estrangeiro
E ninguém me sabe o nome,
Deixam-me só, comigo,
Só,
Que alegria imensa, sou incógnito
Como imprescindivelmente
Me sinto intimamente,
Só e o nada me faz ser quem sou!

Nem há palavras meigas,
Só trocos de dinheiro e eu só,
Feliz de só!
Só na imensidão de espaço de meu ser interior
Vendo a fábrica humana em desenvolvimento.
Máquina deveras imperfeita
Mas tão exageradamente eficiente!

Ai, larguem-me nas engrenagens
Que meu sangue salva o mundo,
Ou a mim, só, só a mim.
Além céu,
Além mar,
Além terra,
Sou eu.
Era um passado,
Um passado que era como uma vida,
Já nem do dono precisava,
Existia por si
Um, sim…um passado.


Alheio a tudo o que vejo, sinto
Sigo em frente.
Aparecem-me coisas pelo meio da realidade
Que me dizem que estou vivo e sou “aquele”
Mas como hoje sigo em frente
Tudo isso rápido se dissipa em um sonho
Confuso que não sei se real.

Interrompem-me de meu sonho
E me já não chateio.
Continuo sonhando
E não há bandeira nem terra,
Há um planar que não tem qualquer
Ideia de o ser,
Vai indo sem disso se entender
Só a isso, sim, se propondo.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Assaz surpresa, gira alta nobreza.
Há que saltar a vedação da mediocridade
E ver com olhos virgens os horizontes promissores.

Que de vida há tudo aberto,
Que de nada há porta fechada lá fora
Que não possa ser aberta pela
Ausência de porta interior.

Nómada do mental.
A vida pode ser privada
Mas de terra se construirá a catedral
Imensa que se pisa,
Fazendo-a ao som da caminhada.

Despertam tigres e leões na savana,
O grito de selva ruge na cidade horrorizando-a;
Já não mais há conversa por escrito,
Agora o há sons íntimos
Que só quem os já ouviu em sonhos
Pode compreender
E assim responder.

Massa heterogénea de virilidade.
Caga a merda que te ensinaram
E barra o pão com sentimento
Que alimenta bem mais!

Foram longe,
Eu sei,
Foram longe,
Mas deixaram-se lá pra trás.

Lá à frente há o futuro que é dos deuses
E também da vontade individual,
O resto é conversa evaporada.

…e parece que colhem de mim
Sua própria indiferença
Sorrindo perdidos
Ao meu encontro…


Quando se começa a existir em pleno
Se percebe que o mundo está ao contrário.
O medo turva a visão da vida e de tudo
Gerando números e muros
Para orientar a desorientação que os originou.

E ficamos nesta coisa de nos perguntar
Em noites escuras:
- Estarei vivo?

E o belo da questão
É que não há resposta,
Cada um tem de voltar á pergunta
E reformulá-la de uma outra forma,
Para ver o que acontece.

Assim se vai fazendo mais perguntas
Continuamente evoluindo
Para uma maior simplicidade.
Pois o que se “Sente” não fala português,
Então a pergunta tem que ser mais básica
Procurando a essência das intenções primitivas da vontade
Que originaram a língua que aproximou seres
Mas não o ser uno.

Esse é o único a descobrir,
O único que tem real importância na vida.




(Pois dele brota todo o mundo.)
No inócuo subsídio
Que recebo dos genes,
Meu capital próprio
É minha mente,
Meu desejo.

De resto é tudo vosso,
Tudo visto, tudo por parecer,
Mas ser, sou eu
E vós não o hão de ver
Até eu querer.

Sangrando no chão da calçada
Está uma pomba atropelada,
Um reflexo de que por mais que se possa voar
À terra se tem de voltar.
Na aurora de começar
A soletrar as palavras novas que me surgem
Da idade de meu ventre.
O humano é o rato do universo, rápido e perspicaz.


(por alguma coisa se dão tão bem nossos companheiros em nossas cidades)
O mar corre solto.
Quem sou e quem fui e quem serei?
Ordens do além,
Sou escravo do que aparece
E aí vem nova onda…
Os fracos usam a capa da vida de um morto forte para conquistar pobres almas que só queriam era viver em paz.
Além mistério, procura de um semelhante,
Elabora-me a mim mas não minha vizinhança
Ela me é submetida.

Além tristeza, ela me vem apanhar
Já que fico sentado
Á sua espera.
Além demora e o rio corre silencioso
Alheio a mim que o observa.

Coitado de mim e do que enfim conheci,
Deus mirrado, morte na vida,
Onde me sou humano agora?
O deus morreu, farto-me
De o dizer mas ainda me vou alimentando dele.

Triste tristeza procura sorriso e serenidade.
Além riqueza,
Além encontro.
Salta-me á vista bela terra prometida.

Em tempos pequeno fora um segredo
Depois me larguei no mundo
Até ele já nada me ter a dar o que eu queria
E morri pobre, pobrezinho, tenro.

Quem me dera uma mãe,
Uma moça morena que me sussurra-se
Malandrices ao ouvido
E eu ria enternecido.

Quem me ficou senão eu?
O meu vácuo virado
Do avesso sugando
Tudo de meu com a
Sede de morte na vida.

Alheio a tudo, persisto.
Avisto a calçada e o som do nada, tudo caminha,
Em breve jantar, 80% da população mundial frente à televisão:
“Gostaria de interromper esta programação para dizer que me sinto infeliz com o estado do mundo, que me sinto mal ao ver tanta gente infeliz.
Porque continuamos a lutar uma luta que não é a nossa mas dos economistas?
Vamos dizer-lhes que eles são feios e infantis, que queremos plantar o que comemos e dançar na noite quente celebrando as colheitas.
Vamos humanos que não nascemos para fazer dinheiro!
A verdade é uma mentira contada
2 vezes de uma forma diferente.
A felicidade é só um alívio passageiro de uma alma aprisionada.
Quero antes a independência,
Essa trás serenidade
Que é talvez o melhor veículo
Para a liberdade.
(que, diria, é morrer sabendo que se viveu.)