quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Luz vaga de um lúgubre sórdido,
Alcance mão vã de imaginação supérflua
Ao acto da vida.

Esquecida numa das demais cadeiras pousadas
Pelo chão da sala
Olha fora a rua esquecida
Na sua própria lua.

Descrentes passarinhos
Se figuram dormindo,
Auscultando o sonho
De se não estarem.

Um bule de chá e um livro de leitura aberto
Pousado na coberta da janela
Não fomentam no agora
Grande ideal de vida…

Tempo passa, sono tarda,
Que de sono nada se tem
Quando ele é vivido consciente.

Amarga a cor do passado,
Queimada pelo caído
Sol do presente.

Proliferam desdéns pelo
Que ainda à pouco
Proclamava esperança.

É um, não sei quê,
De negro que entra na mente
E desespera o corpo subitamente.

A morte está certa
A vida com ela é que é desperdício.

Desce as escadas,
Cobre o bolo
Que só de uma fatia se perdeu.
Não dele gostaram os figurante do serão.

Fecha a janela e a cortina,
O frio corta a imagem
De que “isto” continua.

A fome é tanta
Mas como dela se sacia
Não há conhecimento.

Sobe as escadas,
Pensa sono
E logo ele se esvai
Em maior porção de consciência.

Não é que seja um turbilhão
Mas não há qualquer
Complacência pela paz da noite.

Que a noite fosse viva
Que eu assim pudesse ser morto.

Santos lençóis de me entardecer,
A noite é sempre uma promessa
De um sonho espaçoso e como que eterno.

Não que disso desejoso,
Só o racional se brinca com o sentimento.

A morte antecedesse.
Melhor assim,
Tomar conhecimento de seu paradeiro na vida
Antes do derradeiro conhecimento dela
No começo da não-vida.

Como é a não-vida,
Se vida em si não faz nada?

Ocidente, minha educação,
Vive morta por meu conhecimento
De quem vive vivo…

Além que de vida é um conceito humano
Para “isto” que se “experiencia”,
A morte também de conceito humano se trata
E a volúpia dos conceitos humanos
É sempre infantil e mesquinha.

Que a noite me venha
E traga consigo sono meu,
Que venha como que silenciosa abraçar-me
No (meu) leito como amante
De tempos passados,
Amoroso, nada apaixonado.

Sangra-me a vida em sonho
E deixa-me pelo menos em ti voar.

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