sexta-feira, 29 de abril de 2011

O caminho para a felicidade, a meu ver,
é o de renegar a ela.

Felicidade não é coisa que se busque
antes se deixa entrar.

Quanto mais esforço, menos quer ela entrar
porque, lá está, é ela energia universal,
ela entra naturalmente.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Um sem fim de mundo
Que nasce do infortúnio deste.

Um nada que faço
Eu um tudo
Em que o pouco é muito,
Em que o muito é pequeno.

Mundo total
Esse em que me escrevo.
Mundo que não conhece pesadelo.

Mundo todo que joga nele
Lembra um outro de tanta gente…

Mundo, hoje, não há mundo,
Porque se paga ele.

Mundo meu que vê tudo
Vive por mim embora eu não ser ele.

Mundo esse que corre solto
Não fugindo a nada senão a este.

Mundo deste que bebo cerveja é só
A introdução àquele.

Mundo meu, que é lindo,
Sorri a tudo e de tudo não faz caso,
Porque o tudo é uma miragem
E só “aquilo” e “aquilo” é flor que brota!

Mundo lindo que é o meu
Tem medo deste outro que não são seu.

Mundo, mundo, o que tu és e existes?
(…se eu não te o pensar fazendo…)

Mundo meu e eu o mundo
Flagelo de querer ser grande!

Mundo meu e eu não ele
Que vivo solto e tropeço o chão.

Mundo meu e eu o mundo
Jogo fora e não é falta!

Mundo meu e eu sem ele
Morte de quem me vê absurdo.

Mundo meu e eu infinito
Vivo morrendo
E morrerei vivo.
Na escada imprópria
Da casa dela
Jorrava sangue a baixo.

A penumbra da luz de lá fora
Entrava dentro em manto doce.

Ela corria persianas
Querendo deixar o doce
Lá fora que mais queria sentir
A amargura de agora.

O morto jazido na sala
Já cheirava mal
Mas ela o insistia presença.

Ficando sentada numa tensa pose
Olhava o corpo,
Sentindo a alma por aí,
Ainda que em só lembranças.

Veste uma veste simples, delicada
Corre o vento lá fora e aqui
Extrema hora de vazio, de nada.

E há uma vela que ainda flora,
Um tempo que vai ficando dobrando
O oxigénio de que se alimenta.
Gira a luz numa tão bela
Continua colheita de algo
Que se acende e se apagará
Quando for seu tempo.

Tempo esse que não respira
Com um morto no chão.
Que não respira a terra
Que o quer em tão sereno pousio.

Ela cansada não larga
O morto,
Pensa que ele
Morre se dormir…

É maluquinha, é certo,
Mas também tu
És maluquinho…

Capaz de assassinar
Por um tão pouco
De vida confortável.

Come e vê televisão
Cerca a mente de obesidade
Que não há em ti, também, mais emoção.
Olhar o mundo.

Vê-lo pleno inseguro.

Achá-lo assim lindo
De tamanho manto correr
Sua tinta de sangue e alma.

Olhar confiante
O corpo palpita
Vive mais que a mente
Que se concede a desistir de controlar.

Ai o mundo.

Ventos do norte, do sul
De leste e de sudeste.

Ventos de calor e frio
De tristeza melancólica
E em imediata seguida
Um pulsar de tremenda alegria
Que se tem de usar em dança e aconchego afectivo.

Parado e a vida anda.
O som da chama se não ouve
Mas existe pleno no ar da consciência.

Um seguro que nasce da total insegurança da vida.

O poder tropeçar, sorrir e claro levantar e andar.

Mais que mais ideias, todas elas
Logo exercidas
Que a queima aquece.

Tempo de ter,
Criando o novo ser
Que sorri ás filhas por existir.

Amor que não morre
Porque vivido com o mundo inteiro.

Aqui não poisa doença
Que essa só se alegra de desistência…

Amor em consórcio racional!
Amor vivido em pleno,
Pleno de pratica e quotidiano.

O presente feito magia de não haver
Como o julgar sendo ele tão diferente.

Viver o mundo em alegria sentida.

Viver o mundo como se de vivo estar.

Olhar em frente e tudo demais abraçar!
(treino de prosa - ou “relativa” prosa)


Pedras a andar e uma maior anda mais devagar. A água corre sem ser ouvida lá em baixo. A águia procura a presa que a não encontra e assim é caçada. O arbusto serve de refúgio à perdiz que se atenta do grito, a vitima da águia.
Tudo uma previsão cuidada de tempos que estão e se são esquecidos.

O derradeiro homem, sentado na rocha, olhando o mar, pensa para onde ir, onde ir navegar. Esta terra já cansa – diz-se ele e prossegue o olhar que de mar faz desejo abrasivo acalmar. Pega o pau que o tem sido companheiro: já derrubou um cão
E dá alento ás pernas quando estas cansadas. Decidido o caminho, volta à estrada, carros tantos passam mas ele não ouve nada.
Em transe, já navega por entre o atlântico em viajem épica à qual teve ou terá de pagar 866euros….

Já se olha de longe a mente parva de Portugal dele, ficou lá, talvez até abençoada pela serra de Sintra aguardará seu retorno se o haverá. Espera-lhe o calor de ter que ser a qualquer momento do acordado, aquele calor trópico que excita tudo do corpo menosprezando o intelectual.

Pede uma cerveja já se ela chega sorridente a empregada em tom de quem não confia mas arrisca. Ele a agradece bebida não dá gorjeta, nem mais que o suficiente a olha, tem ele mais com que se preocupar…
Nada. Nada com que se preocupar, apenas olhar e pensar, falar com quem saiba falar e absorver o viver não em verbo ter mas ser.

Noite de repente, fuma cigarro não consegue dormir. Tosse a doença do passado que em breve reflectira saúde de quem fez o que já nem sequer cria.
O passado, filho desse mesmo eu dele de agora, já está desmamado, pedra solta de mim, ele a largou em tão terreno Portugal e zarpou vela e motores, oceano a dentro com os olhos cerrados no horizonte até dizer triunfantemente como um louco – Terra à vista! Terra à vista!
O sozinho,
O ser e aparecer sozinho.

Todo o mundo vê e olha
O ser sozinho.

E o sozinho
Olha e vê o mundo olhando-o,
E como não vê nenhum outro sozinho
Segue meio chorando.

Esse pequeno choro
De demorado e quotidiano
Cria o petróleo humano
De que se alimenta a mente.

De breve, coitadinho,
Se torna um eu que embora
Que coitadinho
É inteiramente seu.

(A unidade mestria de quem se basta.)

E como falta ao tanto do mundo
Consagram-no no mais tarde que cedo
Super-humano.

Sendo que ele não foi.
Foi ele só um sozinho
Que olhava sozinho o mundo
Que o olhava sozinho.
Uma tristeza grande, besta de um envolvimento
Excessivo com a mesma sua alma. Querer ter uma mulher ao lado…
Luz da terra, é terreno fecundo e infinito, onde posso cultivar.
Cultivar a terra da menina mulher, juntando-me a ela, querida
De seu terreno, que sem mim não tem árvores de fruto.

Mulher a minha, vem a mim, por favor, quero-te hoje mais que tudo!
Que meu dilúvio é uma cascata de água negra que me sobrevaloriza
Em monstro.

Negro eu que não libertando-me a luz fico sombra de meu eu.

Norte ele ali à frente, o norte do que sou está sem mim.

Procuro a cima, olho o céu imenso e sorrio.

Que de morte nasce sempre vida e vida, essa, não precisa
De mim, vive sozinha por mim.

Há barulho a mais, as pessoas falam alto o baixo que são.

Sendo Deuses, há que mais deixar falar o silêncio.

Silêncio esse, deus do passado, promessa do presente,
Vento corrente do futuro.

Há mais que isto, tem de haver. Vivo perdido de não ser,
Adiando o passo em frente num a mais para trás.

Há mais, embora que o não sinta, sinto o sangue firme em mim,
Não corre e parece que até morre…

Mas vou tentando sorrir, sorrindo o tempo livre que vou tendo.

Tamanha desgraça que me fica em chama e nunca apaga.
Doce vida que me sorri, sorri enfim comigo em ti.

Estou em pausa pura, que é domingo e de o nada fazer
Tenho os medos todos em mim.
A grandeza do povo português
Está em ele ser pequeno.

Nada mais.
Domingo não sei…
Talvez já não aqui esteja.
Hei-de seguir por aí,
Apanhar primeiro comboio
E seguir seguindo a paisagem
Como se ela me fosse minha
Passada vida a se ir embora.

Algo de trágico vive em mim
E como não me entra odor feminino
No corpo e alma, anulo-me sozinho
Nessa tragédia que se chama pensar.

Estar por aí a beber cerveja.
Escutar o mundo e as pessoas,
Estar aí para as acudir na queda do dia-a-dia.

Pele morta, tanta, cai no chão sem ser vista…

O que olha mais vê o que o outro vive.

É preciso mentes que se fiquem vazias
Para se alimentarem e contarem as dores
De quem não as pôde sentir...
Como escrever prosa se minha mente
Se confunde com a minha alma?

Como falar de coisas coloquiais
Se delas me brotam centenas
De plantas, algas e já imensas árvores de altura!?

Como recorrer a uma coerência de enredo
Se dentro deste que escrevo
SINTO 300 mais
Que pareço desprezar ao manter
A devida suposta coerência.

Que deveras me é, por agora, difícil
Escrever prosa,
Saber um enredo onde me mergulhar…

Talvez, assim, tente inventar um novo canto
Que me conceda,
Alma de poeta,
A escrita do dia-a-dia.

Profetizar o tão simples acto de andar
Em névoa de lucidez prática
E imparcialidade social.

Conceder-me a viver em arte nessa prosa.

Escrevê-la alta e terrena como?

É uma questão a pensar…

Sinto em mim possibilidade para tal
Sinto e é isso que faço minha vida:
SENTIR.

Sentir é o meu enredo, afinal.

Faço de mim dois
Enquanto o coração sente
Minha mente o vai sentindo e nisto
Faço de namorada/o a mim mesmo.

Aí está, quem sabe, a alma de poeta.

Incapaz de se julgar vulnerável.
Incapaz de aguardar auxilio exterior a si.
Incapaz de deixar o ninho de si
Podendo perder o chão no passo em frente.

Não.

Ah… a auto-suficiência… a maldição da salvação.

Irónico pensar
Que o que eu mais desejava
Era ser, precisando dos outros,
Aguardando seu auxilio.

Mas para quê aguardar
Se consigo não aguardar.
E nisto me vou, afinal, privando de auxílio
E me vou aguentando bem,
Bem junto a mim.

Nisto me vou afundando dentro de mim
E isso sim
Gera essa matéria cristal e sucinta
Que se chama poesia.

Essa que me faz seu refugiado
E de minha vida, sua.

Essa que hoje me sustenta.
Essa que me vai brincando,
Fazendo humor de meu corpo
E seu estado físico.

Porque eu, deixando-me ser mais ela
Não morro e todo o instante é universal, eterno.
Dentro da chama
O vento de água
Que sustenta a vida e sorri
Despreocupado.

Dentro da chama
Alma acesa
Que se não apaga
Por acarinhada mente de seu portador.

Só há que ser e ser sendo-o,
Não ficando demais
Senão o apresso
Pelo que é pouco
E sabe a muito.

Silêncio que o nada dá a voz a tudo.
Espelho meu
Faz de mim um vazio,
Que de vazio ser
Seja eu tudo
E tu um só ser.

Espelho meu
Não me mostres
Que choro minha ausência
Em presença tua.

Espelho meu,
Não me reflictas.
Fala-me
Se é que me queres.

Espelho meu
Não és meu porque só a mim me mostras...
Em canto pegado
Pisa o chão
E se o vê
Molhado de algo.
Cheira e não cheira,
Há de ser agua então…
Vai em frente, pisa algo mole,
Isto já cheira e ainda quente
Provoca-lhe um vómito forte
Que ele presta-se a descarregar
Ao lado da merda que pisou.

Olha em roda
Nada vê
E agora enojado de tudo incluindo ele.
Tropeça num degrau
Batendo o joelho noutro
E ainda a cabeça bem na aresta doutro.

Desmaia…
Inconsciente sonha
Algo de tão bom
Que se enleva no sonho vivendo feliz.

Acorda em pressa,
No fim o sonho virou pesadelo.

Quando olha os pés
Sacode algo que lhe infligia alguma dor.
Toca o pé direito e tem de facto uma ferida
Apenas isto sabendo por faltar um pedaço
Pequeno de sua carne,
Ainda nada vê…

Deviam ser ratos pensa ele.
Revolve-se em angústia
Mas de tão lhe coincidente a morte
A luta pela sobrevivência
Parece uma ópera ao ribombar do coração!

Se levanta e salta
Aquecendo-se
Para caminhar mais em frente
No suposto melhoramento de sua condição.

Vai andando… de já não lhe estarem a morder os pés
É motivo para motivação, então anda mais rápido.

Lá encontra o que julga ser
Uma porta mas está fechada.

Envolve-se nela tentando descobrir o truque de a abrir
Mas ela não abre e ele se larga por mais há frente.

Se está aqui uma porta pode ser sinal
De estar mais perto de fora deste esgoto, pensa ele.

Começa a cheirar mal já uns bons metros para onde está
Daí ele deduzir ser isto onde ele está, um esgoto.

Cancelado este pensamento,
Sente o ar não tão mofo
Como que parecendo perto uma entrada de ar.

Lá vai ele, mais esperançoso.

Finalmente ao virar uma curva
Sustém respiração e parece que vê Deus!

Luz solar ali!

Luz solar!

Vai a correr a correr lá chega ao orifício
Olha e vê mar e mais mar.

Olha para baixo,
200 metros para saltar…

Não é este o caminho,
Volta para trás, para o escuro,
Para “o” não ver e para as ratazanas...
Em tamanha vastidão
Se deita o mar
E um ser pequeno
A o olhar
Não espera nenhuma presa
Nem procura descansar
Está só atento a ele,
Ao mar.

Que fica ele fazendo
Olhando, parecendo reflectir
Mas o quê e o porquê
Desse o quê
Só ele e ou Deus sabe.

O mar ao fundo
Parece dormir
Se não move
É só extenso e não quer partir.

Aqui, onde ele vê,
Está a balançar ininterruptamente
Em ondas várias
Que vivem
E morrem em espuma
Que de novo se juntam
Resignados a ele,
Ao mar.

Pareceu agora, ele,
Olhar o cimo
Esquecendo o mar.
Penso que olha uma ave e fica
A a olhar.

Depois regressa,
Regressa
Ao mar.

Agora se levanta
E arruma mochila
Faz cara séria ou triste
E vai embora,
Enquanto o mar fica
Fica onde estava...
Geruvásio pensava
Estarem a lhe dar doces
Mas doces não eram
Porque quando comidos
Se revelavam amargos.

Então ele de 20 cêntimos
Fez magia
Ao os trocar por uma laranja.

Comeu-a em pé
Escutando, mais que olhando, o mar.

De o escutar tanto
Esqueceu sua vida e navegou
Por terras antigas
Onde o sol ardia
Em deserto de oásis.

Parado nesta embarcação
Se sentia numa enorme solidão.


De ela ter batido na areia, praia
Acordou.

Oh e o que ele
Não viu
Senão um enorme camião
Vindo ao encontro dele!

Assustou-se e saltou
Para trás.
Viu pessoas rirem-se
E se então lembrou que esperava o autocarro…

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Vivemo-nos numa pressa
Que invalida a vida.

A vida, essa, tem
De se poder morrer
Para nunca morrer.

A pressa e a necessidade
Sistemática de ser produtivo
São coisas irreais à vida.

Acordar em desacordo
E comer o que não apetece
Seguindo em seguida
O corpo para onde não nascemos
É coisa doida.

O mundo, claro está, dirá
Que sou louco
Mas o tempo, esse meu conhecido,
Diz-me que estou certo.

Dar noite ao dia
E dia à noite
É o capricho de quem se quer
Sentir dono da vida
Como eu.

Colhemos a fome
Que nos atormenta
Daí nunca saciarmos.

Enveredam caminhos
Por nós que se apenas
Sentem
Mas ninguém os ouve…
Fala o dinheiro mais alto!

Gera-se a vida
Por números e o que
Se sente é loucura.

O porquê de recusarmos
O som do nada
Entristece-me…

No campo há
Mais calma
Mas de tanta,
Os humanos se refugiam
Geralmente, em doutrinas
Que pervertem a calma em sofrimento.

Falo do meu Portugal tão católico…

Estive no teu Portugal
E não vi a vida suficiente
Para se dignar à terra que cultiva,
Daí ela ser pobre pobrezinha
Como as almas madrastas
Que a cultivam.

Está frio e minha mente não se expande,
Não há poesia hoje…
Toda a vida
Se sentida
Arte.

Arte por vista
Só se não vivida
Ou resistida pelo autor.

Arte maior
Consciência de querer ser melhor
Enquanto se o já é.

Arte não dorme mas sonha
E para sonhar
Quer ela
Olhos e mais mente atenta
Em sol
Em lua
De tão albergante
Constante descoberta.

Que sonho eu
Senão o que eu sou?
Tenho encontrado, eu,
Tanta vida que me não pertence,
Nem eu a queria
Mas de a ver
A se querer colher
Colho-a em forma de agradar,
Enchendo os bolsos e as já malas
De flores tantas que não minhas…

Vivo pesado de flores e coisas lindas,
Todas não minhas,
Vão murchando em mim
E eu me lembrando do dia em que as colhi.

Até que hoje
Me esqueci de tudo o que era de mim
E vivo com o dos outros,
O mais que posso,
Já que a procura se tornou minha casa.

Calma, a não tenho
E se dela por momentos me quedo
Logo se rui o tecto ou o chão
E caiu num pesado trambolhão
Num sítio escuro e de pouco oxigénio.

Para voltar lá acima
Preciso de uns tempos de amargura
Depois de alento em passado ou futuro
E logo apareço, quase onde estava,
De novo, só, olhando…

Que estranho é ser eu.
Tanto sangue disposto
Em desistência
De quem não mais pensa.

Fica uma tão tamanha
Desconfiança que mesmo
Quem a tinha perdeu.

Primeira noite de verão,
Assim parece.
Uma noite onde os poros se abrem
Como que espalhando ao ar
As hormonas muitas
Que se querem acasalar com outras tantas.

E me dizem sorrisos em silêncio doce,
Os lábios a tocarem-se
E olhos de quem acredita.
Muita gente vejo eu assim,
Muita coisa linda
Deixam-me os meus olhos ver.
Tanta coisa, que me vou emocionando
Pelo caminho
Como se já de velho fosse
E soube-se que o fim está próximo
E daí o presente parece eterno.

Mas não. Sou eu jovem,
Tanto de corpo como de memória
E meu pénis adormecido
É um nada comparado ao
Falo
Com que num amanhã breve
Me exporei ao mundo infantil dos adultos.

Ai que sim, que jogo eu
Este som da vida, dando eu,
Mais ênfase à pausa que à batida
E na pausa encontro
O som do anterior expandido ao silêncio
Que não oiço mas sinto.

E me sinto eu um pequeno escutante
Que ouviu bem o que Deus lhe deu
Em forma de silêncio…

Como oiço eu o silêncio?

Silêncio, só um dotado do barulho ouve.

Silêncio é um qualquer Deus
Que nem precisa de existir.

Há muito que dizer mas, felizmente,
Sempre tanto mais por ouvir.

Ouvir…
Ouvi ontem uma feminina Mulher
Que se queda minha amiga e nisto
Me acode de afectuosos conselhos e alarmes
Dos quais lhe dou meio ouvido
Ficando o outro todo meio
Só para o coração.

Ai, que deveras é tão bom ter amigos
E mais ainda amigas.
Essas ensinam que de viver basta ser
E não demais parecer o que se não é
Senão não há comunicação.

É domingo, doce este meu domingo,
Oportunado, isso sim,
Por 2 televisões altas
A do café e a de um apartamento
Com certeza de um ser surdo
Pois demais alta.

Não sei se me concentro o suficiente
Para escrever…
Será que sim?

Tu o dirás, não é,
Leitor de tempos por vir.

Leitor esse que serei eu
E quem sabe muitos mais
Que virão uma só visão,
De uma mente que se expande e evolui
A qualquer lufada de ar que lhe dá vida.

Amansada pelo cigarro
Esse mesmo ar
É domesticado
Para não, demais, dar fruto
A analizações e fugas de vida
Impossíveis à estátua pensadora
Que hoje sou.
Tanta coisa que me aguarda
E não guarda.

Tanta coisa que me irá vir
Tanta cena que não encenei
E terei que improvisar no momento.

Tanta coisa mil
Que sei que serei!

Porra! Que tenho medo
De conhecer demais a morte
Estando ainda por viver muito!

Já me conheci a mim
E logo me veio Deus intrometer-se…

Assim, fui-o e que me resta
A mim, pobre alma,
Que descobre a vida?

Viver?

Doutrina que não se ensina
Por não existir?

Ah sim,
Por certo viver.
Ser novamente filho
Disto tudo
E rosar as faces num
Incontrolável desígnio
Que não se conhece previamente.

Tanto amor por conhecer
E mais, muito mais,
Por dar, espalhar!

Ai, o quanto quero eu
Ser santo sem morrer sendo-o.

No desconhecido
Estará Deus,
Por certo.

Se o conheci agora,
Rápido me enveredei
Por caminhos que não sei.

Me levaram eles
A mórbidas visões
Das quais não sei soluções.

São essas, onde eu,
Outro,
Descubro novo Deus
E me canso dele por me dele
Dar tão bem.

Há mais?

Há por excelência sempre mais!

Ai, tantos Deuses!

Tanta vida desconhecida
Que há que se conhecer!

Febre-me a alma em sangue
E corpo de espírito,
Novo cigarro e tudo se alinha
No correcto de minha identidade,
Que por certo,
No certo,
Não existe.

Para quê se existir já
Se ainda há tanto por existir?

Ai sim, sangro-me alma
Porque desejo mais que ainda ela!

Que há de mais acima que a alma?

Deus?

Sou deus então.
Queriam tanta vivência…
Mas não, é só esta.

Presta-te a ser tuas limitações
Para que de suas obrigações
Ganhes destreza para as já não serem.

Para fazer caminho
O essencial é ter orientação
Saber donde aponta o norte.

Se ele é negro
Mais fácil é, saber que não é por lá,
Mas que no oposto, a luz.

A vida com norte na luz
É fácil e rápida.
Com o norte no escuro
É bem mais duradoura
Porque a direcção que se quer
Á a inversa a que se destina.

Aí, para a fazer
Há que recriar Deus em si
Que é onde ele afinal
Está sempre.

Viver no contrário
A que se destina
É o prazer de quem muito sofre
Para alcançar a luz que pensa merecer.

O sofrimento é só de agora,
A luz, no assim, encontrada
Vive além corpo.

Há de ser uma luz intensa dizem uns…

Claro que sim!
Mais intensa que a possível!
Pois foi dentro do impossível
Imaginada, concebida.

Afinal, que mais estamos
Nós aqui a fazer
Senão a tentar o viver
Até onde ele nem se concebe?

Encontro com Deus.
Nova Era:
Descobrir Deus em pose individual.

Sentado na sede do café
Olhando, sorrindo
A árvore que se faz por crescer…
Poeta poetinha.
O ser que primeiro cria
Depois tenta viver
Para mais poder criar.

Esqueces, ali atrás,
Teu sofrimento
E largas braços
Num abraço ao mundo.

Corres no parado
E paras quando corres.
O movimento,
Meu querido,
A fluidez,
Minha querida,
Virtude de quem tudo vê.

Poeta do descobrimento
De quem assombra a vida
De tal veste de contemplamento.

Ontem foi chuva
E tanto vistes raiar o sol.
Todos te estranharam ao sorrir
E tu ofuscado pela luz disso
E tudo o mais
Metias o escuro dos óculos
À frente dos olhos.

Perpé-tua sangue
Em melodia poética
E o não do mundo
É de um gozo enorme!

Viver contrariado
Porque se sabe demais
E o encontro é chamado desencontro pelos demais.

Poeta não descansa

Parece (descansar).
Pobre de mim.
Minha alma em sangue
E eu só quero ver
O belo que a vida é.

Jurar-me segredo não quero,
Sou do mundo e ele que me apanhe
Eu mando-me de qualquer forma!

Aprendi isto tudo com o amor.

Encanto o parvo
Com minha lucidez
E ele logo me preza
E se encontra lúcido
Vendo-me parvo.

Ah, estas e tantas coisas
Que vejo eu não aqui na terra
Mas num tão sem tecto
Que geralmente
Se chama mente.

Falhei no encontro
Mas não na procura.
Essa é minha meta
E como toda a gente sabe,
Há não-meta na procura.

É talvez uma maneira de viver para sempre…

Quem sou eu para dizer?
Apenas procuro e fico-me
Por essa procura
Que não se cansa
Nem me deixa cansar dela.


Alcanço o Rei
E logo ele me faz uma vénia,
Eu a tolero e mando meu
Servo para o trono.

O Rei feliz
De se ver entre a gente,
Começa a dançar, embora
Que não haja música para acompanhar.

O servo, feliz da visão altiva do trono,
Sereniza a existência
Não na avidez pois já chegou ao topo.

E eu, eu, eu estou bem.
Entre um e o outro.
Somos todos um pouco o que somos
Com quem estamos...
E nisto me presto,
Mesmo que acompanhado, a ficar sozinho.

É-me uma coisa visceral
Mas hoje não demais egoísta
Pois aprecio intercepções alheias,
Embora que só se por respeito a mim.

Fico assim
No meio da gente
Sorrindo feito parvo
De estar sozinho
E todos me verem acompanhado.
Muito mais doce é o incógnito.

Ter o prazer de reconhecer
O desconhecido, que se conhece de vista,
E não o cumprimentar.
Sorrir para si,
Sabendo que com certeza
Ele também me saúda em silêncio.

As almas falam melhor
Assim vivendo por elas
Fora do nosso corpo.

Desconhecer alguém
Que se conhece vestido,
Não por fala mas simples visão.

Há demais beleza no incógnito.

Manter o não conhecido
Desconhecido
Para se poder prestar
A imaginar o mais
Que não é a realidade.

A fala e o encontro
Sempre, ou quase, carecem de espiritual.
Resta-nos o silêncio,
Esse que sempre foi e é
O melhor veículo do espiritual.

Esse ainda há!
Um bem-haja para o silêncio!
Deus de todos os que se apreciam.
Lembro-me dela
Quando de mim sai vida presente
E nu reflicto o passado,
Sempre estridente em mim.

Ela que já nem é quem vejo
Eu em minha mente.
Ela que se esqueceu de Portugal
Dançando o Brasil com seu sangue
Infantil de África.

Nasceu lá (em África)
Ou lá viveu em bebé,
Daí a ter amado.
Porque é chama em corpo de civilizado.

Conseguiu ela que
Gostasse mais dela que de mim.

E gloriosos tempos
Se seguiram a essa primeira entrega.

Não estava sozinho
E de me não interessar demais por mim
Fazia-me liquido artístico
Numa entrega constante
Ás mil e uma texturas do mundo.

O quanto estava eu vivo na altura!

O quanto hoje
Não lembro
A inteireza desse eu
Agora me tão distante.

Fiz dessa vida capricho
Em vários ofícios
Que de tantos parecem
Parecer que continuo tão vivo.

Mas no canto do quarto
Pensando o tédio do tempo
Me reconheço morto desse meu
Outro querido eu.

Dizia-lhe que era Fénix
Mas do abandono dela
Minhas asas se mais não se
Envergaram de envergadura
Máxima.
E vivo eu em sucessiva cinza
Esquecido até de mim.

Será que me pensas ainda?

Não como obtuso ser
Que te tanto entristeceu
Mas como fonte perpétua
De amor e esperança na vida?

És minha e eu sou teu
Até à cova
Ou te ver num outro corpo, continuação.

De tanto demais engenho no som da vida,
O Brasil te fez, com certeza,
Esquecer de mim.
Ou de tão distantes margens
Mais te lembras em precisão
Que estou aqui e ainda vivo teu.

Que me partilho com outras camas
Nos várias quartos por aí,
Mas nenhuma é tão salgada e risonha como a tua.

Presto-me numa
Tão desmesurada exigência
Que se, até tu, me aparecesses à frente
Recebias um insuficiente.

Fiz-te deusa de minha vida
Daí não precisar de religião.
Inventei a minha de directas origens
No meu, eu, sangue.

Aqui vives livre
E sei que te isso afecta a vida, aí no Brasil.

Não te esqueças minha querida:
Se te sentes leve
É porque em mim tanto danças e descansas.
Então, num despiste aéreo
Que se não viu coeficiente na terra
Aprovei carimbo, um alto funcionário da pátria,
Língua portuguesa!

Aprovei o ponto final
E descobri, em segredo, uma linha recta
Por debaixo da alcatifa da sala...


Coisa fuinha passou por mim,
Branca,
Perguntando-me onde tinha eu estado.
Dei estalada nela e disse-lhe nunca me
Perguntar tal coisa,
Tinha-lhe já dito!

O cão vem a mim
E lembra-se fome, não minha
A dele.

Servi-lhe o prato que comi
Antes dele
E ele baixou cabeça em vénia,
Lembrando sua submissão ao dono seu,
Eu.

Comendo, me dá ele fome novamente
E digo eu ao corpo que comi à meia hora,
Ele se não interessa e grita carência.

Porra! Vou à puta do quarto
Pego a laranja que alimenta e me sento ao chão,
Amigo de meu cão, comendo-a.

Onde está minha mulher
De tez preta?
Frutívora asseada de terras de África.

Fala português
Só que não é de cá,
É de lá.

Lembra-me a minha avó
Que não conheci, nem era preta...

Porra!
Que o gato me alinha em tropeção
Querendo também seu tão merecido pão.

Sou pai vosso por acaso?

Sou, sou dono ao acaso.
Encontrei-vos na rua e vos dei casa,
Alimento, coisa que nunca ninguém
Fez por mim.

Faço-vos a vocês por serem
Cão e gato,
Agora humanos deixo-os pelas ruas.

Esses merecem as ruas
Que de partida renegam.

Há sempre aquela festa
Que busca o encontro com a felicidade plena
De ser criança e não o saber.

Ai, mas festa não.
Quedo-me na cama satisfeito
De meu duplo jantar.
Cão e gato procuram-na também
E lhes digo que sim com a mão.

Só minha mulher
Não vem.
Nem essa de cara branca
Que levou chapada merecida
De se meter na minha vida
Tão necessária de não analisação racional.

Busco uma cerveja do frigorífico
E ponho-me a escrever.
Que dormir só quando se não vê nada à frente.

Ai que saudade de ser eu pequeno
E o mundo me sorrir complacente
Por nada eu lhe meter em causa.

Hoje,
Abrindo os olhos basta
Para silenciar
Eu
O mundo à minha volta.

Não é digno
Ele
O suficiente
Para ser recebido
Vulnerávelmente.
É uma tão santa mudança
Hoje a consciência do mundo
Que se apruma em vontade própria
De aproximação mútua.

Não existe estado nem,
(Alguma vez) nação!
Existe cultura
E todo o povo a sorri
E se abraça entre si
Em tão tamanha alegria
Que junta-se um outro povo à festa
Porque não tem ele essa.
De estar em estado de alma
Esqueço a fala
E me renasço silêncio.

Olhos moles
Mas atentos
Perscrutam as almas.
Vejo-lhes cérebro
Tão pouco coração.

A noite alta
Existe com a ajuda
Do chilrear dos pássaros
E o gargarejar das rãs.

É rio a cima
O caminho,
Voltando à floresta
Que me viu nascer
Noutros tempos
Noutro corpo.
E me podia
Eu ter guardado para sempre
Sem nunca assim me ver
E ver sim o mundo.

Que infortúnio tanto
Que o larguei lá atrás e virei-o,
Vulnerável grandeza,
De quem sonha tanto
E tem um coração mole,
Mole demais.
E assim chora, chora
De alegria,
De ver o que sonha
Como uma dádiva
Não necessariamente sua.

Um dilúvio, e um tanto mais,
Foram dias que são hoje anos
Onde eu,
Com forças poucas de não-amor,
Deixei vir até mim
As forças muitas
Que me eram de essência.

Elaborar tristezas com saudades
De alegrias vividas...
Ah sim, aí se inventa vida
Da que era impossível viver.

Mas de tanto viver a por ainda viver vida,
vivi-a-a como quase fingida,
a vida que afinal era a mais minha.

De habituação quotidiana
O tempo me solidificou a fingidez
Em louvor sincero e merecido
De quem vê com e só a alma.

Daí a felicidade da tristeza
Me sair momentaneamente
Pelos olhos em solução salgada.

Não é pena
Mas bandeira alta,
Erguida
De meu coração, afinal, mole.

De meu desejo monstro
Valido minha inevitável fraqueza
Em existência possível em corpo humano.

Não creio em mais que isto.
Pode haver mais
Mas todo esse mais,
Estará já de tentáculos ligado
Ao meu menos.

Tanta coisa por fazer?

Não muita…
A pouca que tenho feito
Tem valido muito
Para o meio que sou.

Necessidades a mais
São fruto de nenhuma conclusão.

Já a tive, já a tenho,
Mas a minha não acaba
Com ponto final mas reticências.

Reticências essas,
Amigas do pensador.

Reticências essas
Que fazem crer em mais.
Beber, fumar, está bem.
O corpo sofre
Mas se não fosse ele
Era eu e nisto
Prefiro ele sofrer que eu.

Amanhã o deixarei em paz, o corpo.
Poderei viver com ele levemente,
Sem disputa.
Hoje é assim
Porque tenho que ser 2 ou 3
Para relativizar tudo o que vivo
Em um só.

É aquela necessidade de fluidez,
De encanto, de prosseguir sem chatice.

Como Vinicius!
Como Vinicius de Moraes,
Meu irmão com o meu mesmo coração!

Além amor…
Estás morto mas sei que me sabes!
Agachada ás portas da morte…
Queres que ela te foda?

A morte não
Sabe do sexual
Senão muita mais gente
Tinha vivido para sempre.

Vem cá
Que a morte não te quer,
És muito nova.

Vem aqui que eu faço
De morte para ti.
Estou a chegar ao ponto
Onde me já não faço expectativas,
Basta-me, e muito,
O que vou vendo, sendo, fazendo.

Não quero demais futuro
Que esse de ainda não ser
Estorva por tanto o presente.

Há que saber que viver basta.

O nosso passado
São os nossos avós
O presente nós
E o futuro nossos filhos.

Se eu quero ser eu
Então basta-me o presente
Que valida tudo o que fui,
Sou e serei.