Na escada imprópria
Da casa dela
Jorrava sangue a baixo.
A penumbra da luz de lá fora
Entrava dentro em manto doce.
Ela corria persianas
Querendo deixar o doce
Lá fora que mais queria sentir
A amargura de agora.
O morto jazido na sala
Já cheirava mal
Mas ela o insistia presença.
Ficando sentada numa tensa pose
Olhava o corpo,
Sentindo a alma por aí,
Ainda que em só lembranças.
Veste uma veste simples, delicada
Corre o vento lá fora e aqui
Extrema hora de vazio, de nada.
E há uma vela que ainda flora,
Um tempo que vai ficando dobrando
O oxigénio de que se alimenta.
Gira a luz numa tão bela
Continua colheita de algo
Que se acende e se apagará
Quando for seu tempo.
Tempo esse que não respira
Com um morto no chão.
Que não respira a terra
Que o quer em tão sereno pousio.
Ela cansada não larga
O morto,
Pensa que ele
Morre se dormir…
É maluquinha, é certo,
Mas também tu
És maluquinho…
Capaz de assassinar
Por um tão pouco
De vida confortável.
Come e vê televisão
Cerca a mente de obesidade
Que não há em ti, também, mais emoção.
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