Lembro-me dela
Quando de mim sai vida presente
E nu reflicto o passado,
Sempre estridente em mim.
Ela que já nem é quem vejo
Eu em minha mente.
Ela que se esqueceu de Portugal
Dançando o Brasil com seu sangue
Infantil de África.
Nasceu lá (em África)
Ou lá viveu em bebé,
Daí a ter amado.
Porque é chama em corpo de civilizado.
Conseguiu ela que
Gostasse mais dela que de mim.
E gloriosos tempos
Se seguiram a essa primeira entrega.
Não estava sozinho
E de me não interessar demais por mim
Fazia-me liquido artístico
Numa entrega constante
Ás mil e uma texturas do mundo.
O quanto estava eu vivo na altura!
O quanto hoje
Não lembro
A inteireza desse eu
Agora me tão distante.
Fiz dessa vida capricho
Em vários ofícios
Que de tantos parecem
Parecer que continuo tão vivo.
Mas no canto do quarto
Pensando o tédio do tempo
Me reconheço morto desse meu
Outro querido eu.
Dizia-lhe que era Fénix
Mas do abandono dela
Minhas asas se mais não se
Envergaram de envergadura
Máxima.
E vivo eu em sucessiva cinza
Esquecido até de mim.
Será que me pensas ainda?
Não como obtuso ser
Que te tanto entristeceu
Mas como fonte perpétua
De amor e esperança na vida?
És minha e eu sou teu
Até à cova
Ou te ver num outro corpo, continuação.
De tanto demais engenho no som da vida,
O Brasil te fez, com certeza,
Esquecer de mim.
Ou de tão distantes margens
Mais te lembras em precisão
Que estou aqui e ainda vivo teu.
Que me partilho com outras camas
Nos várias quartos por aí,
Mas nenhuma é tão salgada e risonha como a tua.
Presto-me numa
Tão desmesurada exigência
Que se, até tu, me aparecesses à frente
Recebias um insuficiente.
Fiz-te deusa de minha vida
Daí não precisar de religião.
Inventei a minha de directas origens
No meu, eu, sangue.
Aqui vives livre
E sei que te isso afecta a vida, aí no Brasil.
Não te esqueças minha querida:
Se te sentes leve
É porque em mim tanto danças e descansas.
1 comentário:
que lindo garci... sem palavras... muito lindo mesmo, sempre pensarei em ti.
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