sexta-feira, 28 de setembro de 2012

PutaMulherMãe
Não procuro nada na vida senão procurar.
Ter em quem te apareço, suspiro. Quem do chão te venera é meu cão. Abrangente és tu, abrangente.  Cantando te apareço e me enganas o olhar, olhando-o para longe. Quem sabe, és preguiçosa, ansiosa pela mudança. Te fico aqui esperando. Não o encontro, sequer o reencontro. Deslumbro promessas que me nunca disseste. E no de repente de as ouvir te fujo como um louco. Caminhas por mim e és sombra de algo por vir. Além te cheiro. Conquistas-me a vivência e me esqueço "disto". Ai, pudera eu te tocar realmente invés de te acariciar com a mente. Nojo de santo, abomino a humanidade. Tu e me só tu és real, porque és a manifestação física do meu amor e não do meu amor por ti. Sou só eu.
A vida real é toda aquela que vai além do sofrimento, que o supera, que existe e persiste além do sofrimento.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A vida está sempre fora de mim.


O meu desígnio
É ver a amplitude entre eu e ela.

Quase a toco.
Quase a vivo.
Quase.

Apenas a vejo,
Cheiro e imagino.
Mas, assim,
Vivê-la, só eu e ela…
Não consigo.

Tenho o meu próprio mundo
Que preservo e cuido.

Além dele
Há esse outro mundo.

Mas ele é ele
E eu sou eu.


Falemos de outras coisas sim?


Eu não vivo.
Estou demasiado determinado para viver.

Ela, a vida,
É qualquer coisa de especial.
Qualquer coisa que não merece
As minhas sangrentas manápulas
Densas de mentalidade,
Porca racionalidade.

Em breve um começo.
Por agora só a espera
Duma maravilha maior que a minha.

Fascino-me com pouco e toda a minha vida
É um segredo guardado
Num coração de criança abraçada.

De ter tido tudo,
Isto é, amor e glória,
Começo a saber apreciar o nada que
Se me agora destina.

O peso é muito,
A dor também,
Mas para quê sofrer por isso?

Deixo-lo ao corpo.
Ele que se cuide.

Eu descubro, exploro
E evidencio subtilezas.

Tu vives a vida, aguentas.
(atenção: falo para mim
quando digo tu.)

…essa esquizofrenia que tem de existir
Quando um gajo se ama mais que à vida.

Fosse a sorte para os animais.
Seja o azar para os homens.

Restam elas, as mulheres.
Seres felinos que amam a vida
Sabendo-a responsabilidade sua.

Elas salvam um gajo como eu
Que não se consegue desembaraçar
De seu sonho para apenas e concisamente viver.

Dêem-me espaço
E farei amar quem não se ama.

Por mais que actualmente
Seja eu um demónio
A minha missão sempre é
E será o Amor.


Farsa.   

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Eu acho que não procuro ou falo a uma pessoa mas ao espírito dela.
Arte ao perigo de ser.


Rasgar as cercas do prazer
E querer além delas
Prejuízo da morte,
Glória à vida!

Embarco na nova filosofia
E reinvento loucura
Pela forma do em tudo acreditar.

Palavras dúbias de significado
E crescimento alado.

Figuro-te em mim
E dos dois
Revigoro-me Deus da existência.

Potencial persistência
Pelo ideal de amar
Não uma mas umas.

Filantropia sepulcral!
E o olhar da viúva
Ser olho aberto
Para o infinito.

Renovo a vida ao ser
E que se foda a vida actual!

Vive tudo morto
Porque tiveram medo de morrer.
Eu vivo o sonho em vida
Porque me matei quando era meu tempo.

Inauguro agora
Da sombra,
A luz da vela:
Retorno à pré-história!
E concorro à ordem universal,
Vida eterna.

Tão pequena a vida moderna,
Tão inerte.

E não tenho
Com quem falar e
Não tenho com quem sorrir
Este amor pela vida!

Os meus grandes amigos,
Que nunca conheci,
Já morreram e vejo-os sempre
E sempre que posso
No youtube e na internet.

A minha vida é o oposto dela
E daí me resolvo
Buraco negro
Que brilha e cria
E cientificamente significa deus.

Profetas e sábios
De todos os tempos,
Parece que me junto a eles
Ou então sou só
Uma pila mirrada
Em sombra de vagina molhada.

Que se foda
Se o que faço é mentira
E os vossos números a verdade.

Vou além pois
Sei que não há fim.

A vida é tão bela
E não há hoje quem
A sorria por mim.

Eu tenho que ser eu.

Pelo menos até chegar outra por onde me…
Magia aparente
Desta harmónica desesperança.


Criam-se sóis de terras passadas.

Inventam-se certidões de óbito passageiras.

Só 2 meses de cada vez
Consigo eu viver.

De resto tenho
Que morrer e evoluir.

Nunca mais soube
Da tirania do hábito
Pois me ele come completamente.

Nómada aceso.

Quando estou,
Estou realmente.
Depois tenho que esquecer.

Viver, morrer, viver, morrer
Viver, morrer, viver, morrer.
Hoje, quase que sinto pena do pessoal que tem de viver esta vida sem consciência do que se está a passar. Acho-me como um idiota que já compreendeu e aceita o que se passa com a relatividade e ironia de um sábio moderno.

Por exemplo, esta minha capacidade de escrever é deveras hoje, para mim, uma dádiva além de uma condenação.
Se não tivesse a escrita onde me compreender e onde criar, teria de me render às pessoas e ao conhecimento e fala alheios. Com a escrita posso estar, preservar e criar o paraíso. Talvez não só o meu mas um que possa englobar quem o queira aceitar, compreendendo-o.
Então não é que hoje, como no fundo sempre, a grande arma é a inteligência? Com ela compreendes e passas à frente das adversidades e de todos os sofrimentos.
A escrita é a arte mais técnica e tecnológica do espírito. Não havendo qualquer obstáculo ou utensílios que desviem a atenção. Na escrita a alma é manifestada imediatamente pela inteligência e pela técnica. O único objecto entre a escrita e a alma é, neste caso, uma caneta bic e a tela, um caderno de capa dura.
Neste caso é fantástico o poder da escrita. Fantástico no sentido de ser deveras mágico. A compreensão é tudo. É preciso assumir que se compreende. E toda esta merda não tem de ser uma condenação! Não é o meu compreender que é uma condenação, é antes os outros não compreenderem (e não quererem compreender) que é para mim, que compreendo, uma condenação. Mas que se fodam os inúteis sofrimentos! Eu não sou católico nem enveredo por culpabilidades. Responsabilizo-me e assumo o que sou e penso. A vida é dos fortes e eu nisto sou-o. Sofrer é desnecessário à acção mas útil à arte e à compreensão. Seja como for já sofri tudo o que tinha a sofrer e sofro agora a dor física de tanto saber. De resto porra para o sofrimento, é a vida que interessa. Se escrever cansa a vida, tem-se de a exacerbar e a espicaçar na escrita. Há que trazer a arte para a vida. Há que trazer o sonho a respirar o ar que eu respiro. Tudo tem de ser espírito e tudo tem de ser inteligência, para que o humano volte a ser humano, volte a ser orgânico. Estamo-nos a tornar máquinas porque as máquinas só sabem e fazem o que lhes mandam. Ora, o ser humano faz o que entende que é o correcto. Se a verdade é explícita, ele reconhece-a. Coisa impossível para a máquina. O humano tem o poder de compreender e fazer o que acha o correcto sem que para isso seja mandado. Esse é o grande poder de ser humano e é por isto que eu acho que vêem aí profetas que lembram isto à gente.
A civilização ensina-nos a obedecer mas isso é anti-natural ao ser humano e é isto que tem de ser lembrado. O livre arbítrio não é caos mas liberdade. Quanto mais esta civilização avança, mais a completa escravidão nos é incutida, mais bebés nascem escravos.
Tem de se acabar com o tempo da máquina. Ela é inferior a nós, não sente; e sentir é o que nos liga a Deus, que é como dizer que nos faz Deus.

Deus é sentir.   
De facto acho que já não quero nada do mundo. Basta-me a vida. Tudo o resto brota de mim ou de uma mulher que me cuide com o seu olhar. Só a mulher é interessante hoje para mim, de resto, o mundo nada me tem a dizer. É uma falácia, uma insensatez. 
A porta
Desce à entrada

Preservando-se parada a olhar.

Noite dentro aguarda.

Tudo se esquece
E eu morro-lhe à chegada.
Acorda-se a noite do tempo e chama-se a boémia para pousar, tipo nevoeiro, pela sala enquanto durmo o nervosismo da vida em sincera mania de morte. Ai que medo de ver luz passada, em forma física. Concreto o real, vivo largado no ideal de minha ausência gerar pensamento. Filha quente de meu aureolar começo… Tens tu espaço a esta vida? Não serás demais, demais a tudo isto? Que falo eu se não loucuras, loucuras que rebentam de mim, sendo eu sempre uma pedra. Quem será eu, senão um espantalho que espanta as almas do outro mundo? Viver comedido de meu viver e sempre que olho, Ai o medo de ver quem me conhecer! Ansiedade madrasta de eu ser teimoso ao adiar a vida à impossibilidade.
Afasta o sino da igreja e gruta-o no bosque, bem no meio do bosque. Assiste o mundo a isto e tudo sente um gratuito e intenso arrepio na espinha. Sagrado. Viver o sagrado como bela blasfémia, sacrilégio, pecado. Dizem que o maior deles é conseguir-se sozinho… Enfim, teorias. De mãe feita filha do meu pai e amada distante e fugidia, mamo-me a mim mesmo, o leite do amor, pois o outro da outra demora, demora muito… Na fuga, sempre na fuga, o meu condenado encontro. E o medo de me ter parado basta ser testado para ser confirmado. Foge filho meu, foge da vida, que tens encontro marcado com deus. Sou louco, é só. Enveredo por todos os caminhos que não posso e os simples que sinto que me satisfariam parecem-me impossíveis de tão ternos e mesquinhos. Nasci para morrer mas não morro ainda, então sempre procuro um derradeiro viver, antes que esta vida cesse, deixe de ser.
Concluo que sou peregrino, samana da modernidade, mas isto, meu querido, isto apenas na mente pois se me falares estou situado no além da tua possibilidade. Não nasci para isto. Habituei-me demais à guerra, depois à ausência, apenas para sobreviver e assim parece-me sempre de menos essa coisa fácil para vocês, tão difícil para mim: o simples viver. Amanhece-me o tempo, lembra-me o começo, tanto dele como do futuro. A minha alma não nasceu para a civilização, rege-se por coleiras e trelas de ferro fundido que eu mesmo forjei. Senão não conseguia, meu amigo, senão não conseguia, minha amiga. Rasguem-se as marés e se afundem os carros, comboios e aviões. E que só hajam essas belas pernas andantes, andar por esse todo chão!  
 A poesia sou eu pensado.

A prosa sou eu pensando.  
Eu nunca estou triste.

O que mais posso estar
É louco.

A tristeza é querida
E me guarda
Terna a existência.

Sem ela teria
De ser como todos os outros
E isso ao que parece não sou.

Dúvidas, todos temos.

Se (se) persistir nelas
Sem as resolver
Elas resolvem-se por si
Como flores a brotar ao sol.

A maior tristeza é
A ignorância e o conformismo
E esses, normalmente,
São felizes.

Vivo além do meu caminho.

Como que me olho de cima
A cada momento.

Tudo o que faço
Parece sempre estar
A ser analisado por mim
Ou por algo maior que eu.

O mundo me estripou as entranhas
E os amigos e família nunca me conseguiram  ajudar,
Pois não há como ajudar uma pessoa que quer entender
E não vê mal no mal.

Olho os olhos da nossa gente
E estão curvados de medo e ansiedade.

Falo com amigos
Dizendo que não tenho amigos,
Ao que a Mariana responde
“eu também não”.

O que nos aconteceu?

Que vida é esta em que
Fingimos e nos brutalizamos
Para sermos aceites?

Digo que sou niilista
Porque é a única maneira de estar em sociedade
Sem ser brutalizado por ela.

Fora dela,
Da sociedade,
Sei que sou espírito,
Extremo crente desta divina
Experiência que é viver.

E me perguntam sofregamente como estou,
Como se ser e viver sozinho
Fosse algo trágico e involuntário.

E me dizem que tenho de fazer isto e aquilo,
Conhecer esta ou aquela coisa.

Não vos entendo…

Eu não preciso “disso”,
E vocês também não.

É fascinante o esforço que se dá
Dia-a-dia
Para contornar a vida,
Esquecendo-a ou a somente enveredando
Por estereótipos seguros e vigilados.

Tem-se de cair morto no chão,
Ou foder a companheira na rua
Para que esta nossa gente compreenda
O que é real, isto é, visceral.

Os sorrisos e gargalhadas…

Tanto sorriso e gargalhada e no entanto
Só existem porque isto é o devido espaço
E tempo para os manifestar.

Voltando a casa
Tudo, ou quase,
Cai morto para dormir.

Vivemos mortos minha gente.

Eu, ao menos, assumo-o
E ironia das ironias
Sou feliz.  

domingo, 16 de setembro de 2012

Tudo passa.

A única coisa que existe são momentos,
Instantes.

Instantes de ser,
Instantes de amor,
Instantes de intuição,
Instantes.
Tudo instantes.

Para que eles iluminem
Basta os valorizares pelo que são:
Instantes.

sábado, 15 de setembro de 2012

A idade não significa nada. Não é a idade que nos torna sábios. Nem sequer a experiência, como o povo pretende. É a vivacidade do espírito. Os vivos e os mortos... Você melhor do que ninguém devia compreender o que quero dizer. Só há duas classes neste mundo - e em todos os mundos -: os vivos e os mortos. Para os que cultivam o espírito nada é impossível. Para os outros, tudo é impossível, ou incrível, ou inútil. Quando vivemos dia após dia com o impossível começamos a perguntar-nos o que significa a palavra. Ou melhor, como passou a significar o que significa. Há um mundo de luz, no qual tudo é claro e manifesto, e há um mundo de confusão, no qual tudo é sombrio e obscuro. Os dois mundos são realmente um. Os do mundo das trevas têm de vez em quando um vislumbre do reino da luz mas os do mundo da luz não sabem nada do munda das trevas. Os homens de luz nao projectam sombra. Desconhecem o mal e nem sequer acalentam o ressentimento. Movem-se sem cadeias nem grilhetas. Até regressar a este país só lidei com homens assim. Em certos aspectos, a minha vida é mais estranha do que você julga. Porque fui viver com os Navajos? Para encontrar paz e compreensão. Se tivesse nascido noutro tempo, podia ter sido um Cristo ou um Buda. Aqui sou uma espécie de anomalia, um excêntrico. Até você tem dificuldade em pensar de outro modo a meu respeito.
Sorriu-me misteriosamente e durante longo momento tive a sensação do que o coração me parara.
- Sentiu algo estranho? - perguntou Claude, cujo sorriso se tornou mais humano.
- Senti, de facto. - Confessei e, inconscientemente, coloquei a mão no coração.
- O seu coração deixou de bater um momento, mais nada - explicou Claude -. Imagine, se for capaz, o que aconteceria se o seu coração começasse a bater a um ritmo cósmico. O coração da maioria das pessoas nem sequer bate a um ritmo humano... Tempo virá em que os homens deixarão de distinguir entre homem e deus. Quando o ser humano se erguer à altura de todos os seus poderes, será divino, a sua percepção humana terá desaparecido. Modificar-se-á tudo, modificar-se-á permanentemente. Não haverá mais necessidade de mudança. O que quero dizer é que o homem será livre. Quando se tornar o deus que é, cumprirá o seu destino, que é a liberdade. A liberdade abrange tudo, a liberdade converte tudo à sua natureza básica, que é a perfeição. Não julgue que estou a falar de religião ou filosofia; renego-as a ambas, totalmente. Nem sequer são degraus , como as pessoas gostam de pensar. Devem ser saltadas de uma vez. Se colocarmos alguma coisa fora de nós ou acima de nós, somos vitimizados. Só há uma coisa: espirito. O espirito é tudo, e quando o compreendemos somo-lo. Somos tudo o que há, pois não há mais nada... Compreende o que estou a dizer?
Acenei afirmativamente, um pouco estonteado.
- Compreende, mas a realidade do que lhe digo escapa-lhe. Compreender não é nada. Os olhos devem estar abertos, constantemente abertos. Para abrir os olhos deve descontrair-se e não tornar-se tenso. Não tenha medo de cair para trás numa cova sem fundo. Não há nada para onde cair. Você está no espirito e é do espirito, e um dia, se persistir, será o espirito. Não digo que o terá, note, porque não há nada para possuir. Tão-pouco você será possuído, lembre-se disso! Terá de se libertar. Não é preciso praticar quaisquer exercicios, fisicos ou espirituais. Todas essas coisas são como o incenso: despertam um sentimento de santidade. Devemos ser santos sem santidade. Devemos ser inteiros... completos. Isso é ser santo. Qualquer outra espécie de santidade é falsa, uma armadilha e uma ilusão...
(...)
O segredo, contudo, consiste em não se importar que alguém, nem mesmo o Todo-Poderoso, tenha ou não confiança em si. Tem de se compenetrar, e sem dúvida compenetrar-se-á, de que não precisa de protecção. Tão pouco deve ansiar pela salvação, pois a salvação é apenas um mito. Que há para ser salvo? Faça esta pergunta a si mesmo! E se há alguma coisa para ser salva, de quê? Já pensou nestas coisas? Pense! Não há necessidade de redenção, porque aquilo a que os homens chamam pecado e culpa não tem qualquer significado fundamental. Os vivos e os mortos! - Lembre-se apenas disso! Quando alcançar o âmago das coisas não encontrará nem acelaração nem retardação, nem nascimento nem morte. Há e você é: nisto se resume tudo. Não mate a cabeça a meditar no assunto, pois ele não faz sentido, para a mente. Aceite e esqueça...ou dará em maluco...

Paginas 280, 281 e 282 do livro "Plexus" do Henry Miller 

domingo, 9 de setembro de 2012

O corpo é uma plataforma do e para o sonho. Não deve ser, como hoje é, interpretado como uma prisão e uma razão de mortalidade. Se queres ir além porque assim te designa o teu sonho então o corpo irá perfeitamente levar-te a ele. A única coisa que mata o corpo é querê-lo deveras matar(consciente ou sub-conscientemente). Se vais pelo teu sonho o teu corpo torna-se numa nave de capacidade, uma nave de generosidade!
Tenta
Falha
Morre
Nasce

Encontro ao certo.

Tempo feito cordilheiras imensas.

Não volto atrás.

Atrás existe dentro de mim
Como se não tivesse
Continuado para aqui.

Só não conheço o futuro,
O amanhã.

E por mais que por vezes o não mais conceba hoje
Ele existir-me-á perfeitamente.

Tenho agora o dom
De me saber sozinho.

Caminho comigo
E assim a vida
Largada dos demais
Parece-me isso: largada demais.

Não censuro
Porque tenho a tolerância
De admitir que os até admiro,
Porque fazem algo
Que me foi privado,
Por mim, pela vida, pelos outros.

Aceito e vivo com isso,
Querendo um tanto mas não tudo.

Já não tenho pena que as coisas sejam como são
Pois sabendo como são posso-as perfeitamente contornar.

Deixo a vida plenamente fluir
Não fluindo eu com ela.

Ela precisa de quem a olhe com carinho
Quem a presencie sem destino.

Em portas de amargura mergulho
E elas são doces
E elas são quentes
E elas são.

Passear pela plateia
Que não aplaude
Mas olha indefesa.

Que indelicadeza viver como poeta…

Que desperdício de vida,
Dizem alguns,
Com razão, concordo eu.

Oh, mas o Além,
O Além.
Tão cedo lhe vejo principio.

Passagem para breve
Meu querido.

Ter quem te conhece…

Não tenho mais.

No entanto tanto aprecio
Esta ignorância alheia
Que me não identifica.

Fico livre de qualquer pulsão a ser
O que os outros olhos querem ver.

Há só o que pulsa de mim.

Além dos outros
Reajo ao vento e às circunstâncias.

Sou o tempo que vivo.

Incógnito por aí
Desconheço de mim
Pois não tenho pousio
Onde me ser real.

Um amigo é fantástico
Mas só se te deixar ser.

Acabo arrasado pela carência
Mas logo que a bloqueio
Nascem-me ejaculações intelectuais.

Hoje sou a anulação
Do meu ser livre
Mas por consequência
De minha terrível disciplina
Sou o que quero ser.

Não há quem me detenha
Ou ponha em causa.
Estou à deriva mas nela me movo
Em poesia:
Controlo do intelecto,
Orgasmo de coração contido.

Trabalho nesta arte de ser.

Sou livre.
Livre até de mim.

Perfeito na acção pois a conheço.

Arte minha está em ser.

Além prazer há perfeição
E essa não tem recompensa
senão no depois da vida.

Concluo-me a cada momento
E no instante asseguir
Não tenho de ser
Posso escolher.

Vazio.
Pois este mundo não é digno de me ver.

Que os raios do racional
Só reflectem o real
Mas hoje sinto com o coração
Filtrando-o para o intelecto gerando perfeição.

Toda a pequena acção é meticulosamente
Observada por mim.

É loucura mas é real.

Loucura que tenho de matar em breve
Para que não me ela mate a mim.

Fim.

Tenho de o conhecer
Para deveras nascer.
Não eu mas outro.

Um outro que ainda
Não conheço e quero conhecer.

Viver é arte. 

sábado, 8 de setembro de 2012

Deus é o existirmos e isto não ser tudo.

Quanto mais diferente de mim alguém é, mais real me parece, porque menos depende da minha subjectividade.

Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.

 De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos.

 A renúncia é a libertação. Não querer é poder.

 Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.

 A felicidade está fora da felicidade.

 O fim da arte inferior é agradar, o fim da arte média é elevar, o fim da arte superior é libertar.

 Só a arte é útil. Crenças, exércitos, impérios, atitudes - tudo isso passa. Só a arte fica, por isso só a arte se vê, porque dura.

 Viver não é necessário. Necessário é criar.

 Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência.

 A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.

 Para realizar um sonho é preciso esquecê-lo, distrair dele a atenção. Por isso realizar é não realizar.

 Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.

 Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem importância, não só na vida do universo, mas da nossa mesma alma, é o princípio da sabedoria.

 Ser imoral não vale a pena, porque diminui, aos olhos dos outros, a vossa personalidade, ou a banaliza. Ser imoral dentro de si, cercada do máximo respeito alheio.

 Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

 O homem é do tamanho do seu sonho.

 Sentir é estar distraído.

 A superioridade do sonhador consiste em que sonhar é muito mais prático que viver, e em que o sonhador extrai da vida um prazer muito mais vasto e muito mais variado do que o homem de acção. Em melhores e mais directas palavras, o sonhador é que é o homem de acção.

 Na vida de hoje, o mundo só pertence aos estúpidos, aos insensíveis e aos agitados. O direito a viver e a triunfar conquista-se hoje quase pelos mesmos processos por que se conquista o internamento num manicómio: a incapacidade de pensar, a amoralidade e a hiperexcitação.

 Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.

 Não há normas. Todos os homens são excepção a uma regra que não existe.

 Amor não se conjuga no passado, ou se ama para sempre ou nunca se amou verdadeiramente.

 Sentir é compreender. Pensar é errar. Compreender o que outra pessoa pensa é discordar dela. Compreender o que outra pessoa sente é ser ela.

 Deus é um conceito económico. À sua sombra fazem a sua burocracia metafísica os padres das religiões todas.

 A civilização é a criação de estímulos em excesso constantemente progressivo sobre a nossa capacidade de reacção a eles. A civilização é pois a tendência para a morte pelo desequilíbrio.

 A sensibilidade conduz normalmente à acção, o entendimento à contemplação.



o meu querido Fernando Pessoa
Arte ao mar
Esqueci o ter
E me dei ao dar.