domingo, 9 de setembro de 2012


Ter quem te conhece…

Não tenho mais.

No entanto tanto aprecio
Esta ignorância alheia
Que me não identifica.

Fico livre de qualquer pulsão a ser
O que os outros olhos querem ver.

Há só o que pulsa de mim.

Além dos outros
Reajo ao vento e às circunstâncias.

Sou o tempo que vivo.

Incógnito por aí
Desconheço de mim
Pois não tenho pousio
Onde me ser real.

Um amigo é fantástico
Mas só se te deixar ser.

Acabo arrasado pela carência
Mas logo que a bloqueio
Nascem-me ejaculações intelectuais.

Hoje sou a anulação
Do meu ser livre
Mas por consequência
De minha terrível disciplina
Sou o que quero ser.

Não há quem me detenha
Ou ponha em causa.
Estou à deriva mas nela me movo
Em poesia:
Controlo do intelecto,
Orgasmo de coração contido.

Trabalho nesta arte de ser.

Sou livre.
Livre até de mim.

Perfeito na acção pois a conheço.

Arte minha está em ser.

Além prazer há perfeição
E essa não tem recompensa
senão no depois da vida.

Concluo-me a cada momento
E no instante asseguir
Não tenho de ser
Posso escolher.

Vazio.
Pois este mundo não é digno de me ver.

Que os raios do racional
Só reflectem o real
Mas hoje sinto com o coração
Filtrando-o para o intelecto gerando perfeição.

Toda a pequena acção é meticulosamente
Observada por mim.

É loucura mas é real.

Loucura que tenho de matar em breve
Para que não me ela mate a mim.

Fim.

Tenho de o conhecer
Para deveras nascer.
Não eu mas outro.

Um outro que ainda
Não conheço e quero conhecer.

Viver é arte. 

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