segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Hoje, quase que sinto pena do pessoal que tem de viver esta vida sem consciência do que se está a passar. Acho-me como um idiota que já compreendeu e aceita o que se passa com a relatividade e ironia de um sábio moderno.

Por exemplo, esta minha capacidade de escrever é deveras hoje, para mim, uma dádiva além de uma condenação.
Se não tivesse a escrita onde me compreender e onde criar, teria de me render às pessoas e ao conhecimento e fala alheios. Com a escrita posso estar, preservar e criar o paraíso. Talvez não só o meu mas um que possa englobar quem o queira aceitar, compreendendo-o.
Então não é que hoje, como no fundo sempre, a grande arma é a inteligência? Com ela compreendes e passas à frente das adversidades e de todos os sofrimentos.
A escrita é a arte mais técnica e tecnológica do espírito. Não havendo qualquer obstáculo ou utensílios que desviem a atenção. Na escrita a alma é manifestada imediatamente pela inteligência e pela técnica. O único objecto entre a escrita e a alma é, neste caso, uma caneta bic e a tela, um caderno de capa dura.
Neste caso é fantástico o poder da escrita. Fantástico no sentido de ser deveras mágico. A compreensão é tudo. É preciso assumir que se compreende. E toda esta merda não tem de ser uma condenação! Não é o meu compreender que é uma condenação, é antes os outros não compreenderem (e não quererem compreender) que é para mim, que compreendo, uma condenação. Mas que se fodam os inúteis sofrimentos! Eu não sou católico nem enveredo por culpabilidades. Responsabilizo-me e assumo o que sou e penso. A vida é dos fortes e eu nisto sou-o. Sofrer é desnecessário à acção mas útil à arte e à compreensão. Seja como for já sofri tudo o que tinha a sofrer e sofro agora a dor física de tanto saber. De resto porra para o sofrimento, é a vida que interessa. Se escrever cansa a vida, tem-se de a exacerbar e a espicaçar na escrita. Há que trazer a arte para a vida. Há que trazer o sonho a respirar o ar que eu respiro. Tudo tem de ser espírito e tudo tem de ser inteligência, para que o humano volte a ser humano, volte a ser orgânico. Estamo-nos a tornar máquinas porque as máquinas só sabem e fazem o que lhes mandam. Ora, o ser humano faz o que entende que é o correcto. Se a verdade é explícita, ele reconhece-a. Coisa impossível para a máquina. O humano tem o poder de compreender e fazer o que acha o correcto sem que para isso seja mandado. Esse é o grande poder de ser humano e é por isto que eu acho que vêem aí profetas que lembram isto à gente.
A civilização ensina-nos a obedecer mas isso é anti-natural ao ser humano e é isto que tem de ser lembrado. O livre arbítrio não é caos mas liberdade. Quanto mais esta civilização avança, mais a completa escravidão nos é incutida, mais bebés nascem escravos.
Tem de se acabar com o tempo da máquina. Ela é inferior a nós, não sente; e sentir é o que nos liga a Deus, que é como dizer que nos faz Deus.

Deus é sentir.   

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