Partindo do princípio
que somos bichos e inúteis, um tanto, ao universo, é formidável a atenção
egocêntrica a que nos prestamos dia-a-dia. Eu, acima da maioria, reconheço-me
como um mestre do egocentrismo e egoísmo máximo. Sei e não sei, ao certo, o que
me leva a este fim mas a verdade é que, por mais que tente mudar, não consigo
deveras mudar. Viver é um esgotamento por si, assim. Tudo o que não responda à
visceral demanda de novidade que tenho é-me um intruso e uma, por vezes, ofensa
ou humilhação. Recorro ao meu tempo, humildemente para comigo, ferozmente para
com os outros. Meu olhar é necessariamente agressivo e insensível quanto mais
me sinta ameaçado, directa ou indirectamente, pelos demais. Vivo prostrado no
meu único conhecimento, que a meu ver, de tão único, se torna afinal universal.
Mas o universo, como a arte, não tem qualquer dó pela condição física do
espírito humano e assim quem assim pensa, como eu, sofre e sofre um pouco mais.
Ironicamente, penso que quem mais se “safa”(é bom) nesta maneira de ser é quem
muito mais se via(/vê) a (querer) ter uma vida comum, normal, coloquial e
social.
Que deslumbre a alma simples! Aquele que aceita e vive,
esquecendo o “por resolver”, sabendo-o não de sua conta, pois claramente é
representante doutro patamar.
É realmente fascinante o quanto, olhando esta gente ao meu redor, me imagino
entre eles, sendo um deles! Mas devido à minha superlativa consciência nunca
consigo me coibir a apenas ser sem disso me aperceber. Nasci com uma alma
simples mas esta se furou com o amor e depois, de tanto vazio, comecei a
encher-me de tudo do mundo. (Bom, mau, o que é isso para uma alma simples?)
Assim, hoje, estou cheio de merda e diamantes – numa mesma e única casta, cá
dentro – todos não-eu e lá no meio, deambulante, partículas de minha antiga
simplicidade juntam toda esta complexidade num só, que sou eu actualmente. Sou
então um indivíduo vazio pelo amor e cheio pelo mundo. O que daí advém é um ser
com demais consciência de seu próprio e devido absurdo.
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