quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A sentir-me um zero de repente.
Tudo me é bruto e agressivo,
A cara triste do trabalhador,
Os carros a passar impunes ao barulho
Que atinge os ouvidos do pensador
Que se sente um zero.

Há tanto a dizer, fica sempre tanto por dizer,
Que só o amor pode parar o ímpeto sexual
Do meu intelecto.

Por favor, deixem-me ser como vós
Inútil e trabalhador.
“Palrador” do que lhe chateia no dia-a-dia,
Não sonhador,
Anulador de toda e qualquer fantasia.

Ai deixem-me ser como vós,
Porque me não dão um trabalho?
Querem-me pensador é isso?
Ai por favor deixem-me ser só corpo,
Dêem-me trabalho que estou louco!

Se se visse o tamanho das catedrais que criei cá dentro…
Se soubessem o quanto flui este meu mundo…
Me deixariam em paz e sossego.

Onde está a premissa de amanhã
E a falácia de ontem?

Parece que morro se me falarem,
Parece que me fico líquido se me reconhecerem.
Porquê?

O acto voluntário da loucura
Para em si surgir
Toda e qualquer salvação
Que é simples e fala bebé.

Porque me fico entre estes seres
Se mais sou semelhante a não sei quê?

Sou louco, louco
E ninguém me cura
Ou me tira daqui!

Todos me deixam onde estou
Sorrindo na minha cara.

“Que engraçado”
Dizem todos,
Como se fosse menino.

Só vêem corpo
E aí, embora que já homem,
Sou, sim, ainda menino.
Mas, porra,
Na mente sou um monstro
Que confunde
Deus e Diabo
Como vozes da mesma cela!

Porque me deixam aqui, só e sozinho?

Porque não me mandam para longe
Ou me obrigam a ficar perto?

É que no meio
É que não dá,
Sou extremo a todo o custo
O equilíbrio é o dom dos viventes,
Eu vivo morto
Para salvar minha criança
Que vai fugindo
Pelas ruas estreitas
E escuras do passado.

Então, mas é assim,
Eu escrevo e tu me safas de dinheiro,
Pode ser?

Eu enlouqueço mais e mais
E tu vais,
Enriquecendo e dando-me os trocos sim?

Ai, arranjem-me um agente!
Um produtor,
Um actor os tem,
Um cineasta também,
E eu o não devo ter?

Sou mais precioso!

A minha arte é que tem minha vida.
Eu de corpo mantenho só as esmolas
Que vou colhendo, por aí, submisso.

Transfiro a vida
Que deus me dá ao corpo,
Directamente,
Para minha criação
E é ela que vive,
Não eu.

Queria ser pequeno e entretido.
Não me deixaram,
Fiquei louco.
Pois com certeza,
Indignado com o meterem-se na minha vida
Sem serem chamados!

Ai, o que é a vida?

Em pequeno me questionava
Como pode o ser humano
Se sentir efectivamente perdido…
Hoje o estou e,
Por ridículo que pareça,
Não estou surpreendido,
Antes, curioso.

Ridículo, ridículo.
Louco,
Sou louco!

Tinha o meu quartinho sossegado,
Tudo era certo e rotina.
Agora, tenho uma puta de mundo inteiro ás costas,
A me pedir direcções!

Mas eu só sei onde é meu quarto! – Grito eu, mentindo.


Mantenho-me assim,
Quando eles se foram,
A escrever o que eles queriam ouvir
Mas eu não queria dizer.


Ai, o relance ao mudar da página:
Que estou vivo e sou “aquele”.
Saí da arte por momentos.

Que perigo
Sair deste estado de loucura abrangente
Que me espalha por todo o lado
Porque de momento nada sou.

Não ouviria se me falassem,
Não admitiria ousadias exteriores a mim.
Se tivesse uma arma
Mataria,
Se tivesse um cavalo fugiria.

É tudo assim, disposto á minha loucura.

Ela me serve,
Eu a sirvo,
E vou vivendo assim.
Não sei bem como,
É sincero,
Mas meu corpo
Lá me vai tolerando
Mantendo-se-me vivo.

Hoje também lhe presto mais culto
Através do desporto.
Mas isto, só assim foi,
Porque ele me andava deveras a matar
E efectivamente haveria de o conseguir,
Com minha vontade
De só viver mente.



E agora, á sequencia
De que fui pedir e buscar outra Sagres,
Me proponho a dizer que sem álcool
Não haveria jamais Ocidente!

Então álcool,
Aliado ao que se fez de Cristo,
Temos produto mais inflamável e explosivo
Que a gasolina
Para incinerar toda a humanidade.

É que “o feitiço vira-se contra o feiticeiro”
E esta, Jesus ainda a não conhecia
Quando ousadamente falou
Sua bela sabedoria.

Sabendo ele o que tinha feito ao falar,
Olhando ele,
O que lhe fizemos ás palavras,
Seria mudo até morrer,
Casado com uma das demais
Prostitutas
Com as quais convivia.



Vive-se o sonho,
E eu de tanto sonhar
Quando me mexo na realidade
Gostaria de efectivamente vivê-la,
Mas não, não consigo.
Logo me metem símbolos á frente
Coisas a passar rápido e a
Fazer imenso barulho,
Caras de humanos
Que já o não são.

Loucura!

Ah sim!
Afinal não sou eu que estou louco não!

É o mundo!

Ah sim, agora vejo,
Perdido de louco
É o mundo!
Ah sim!

Eu estou apenas a ser
A sua momentânea
Expressão em escrita.

Porque eu, eu não sou nada,
Minha criação é tudo,
E ando no meio
Disto atordoado
E isto só dentro de mim!

Isto só dentro de mim!

Ah sim,
Ah sim,
Também estou louco e sou louco!

Estou ou sou?

Estar neste momento,
Ou ser de base louco?

Não,
De facto,
De base sou não-louco,
Portanto estou louco.
Sim é isso,
Estou louco,
Não o sou.
Estou,
Estou louco
Mas só neste momento,
Momentaneamente falando,
Estou sendo louco,
Não estou, sou.

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