sábado, 24 de julho de 2010

E eu que era um bom menino
Que sorria deliciado
Pela bondade que me prestavam.

E eu que era um bom menino
E não pedia nada
Satisfazia-me sozinho.

E eu que era um bom menino
E olhava o mundo
Bonito próprio de um bom menino.

E eu que era um bom menino
Que fazia o que me diziam
E ficava feliz por isso.

E eu que era um bom menino
Mas que já não sou
Morreu menino
Nasceu Homem.

O menino enterrado
Dentro do homem
Ainda vive mas fala baixinho e raramente
Já que está no outro mundo
Feliz a brincar,
O mundo dos mortos meninos.

E quando o Homem
Passa rente à morte
Mais sente e fala
Com o menino que se chateia
De interromper sua despreocupada brincadeira
Para falar com o Homem que afinal
Ainda o tem cá dentro.

No abismo da tristeza e solidão
Estão juntos, se encontram e falam
O Homem a se lembrar do menino
E o menino a brincar para o Homem o observar.

(O menino também gosta disto por vezes.)

Agora o Homem esse só observa o menino
Nessas alturas
Porque não consegue observar mais nada.

O Homem quer seguir e se realizar
E o menino, esse só quer brincar.

Quando o Homem está-se realizando
O menino desaparece no seu mundo
Mas como assim é
Brinca mais que nunca, feliz e despreocupado
E nesta energia intima
Se cria um ciclo vicioso,
Uma inércia de bem estar espiritual.
O menino que está enterrado cá dentro
Vive mais que nunca no seu mundo
E o Homem sem menino para se preocupar e observar
Se realiza mais que nunca na vida.

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