terça-feira, 2 de agosto de 2011

Tive uma visão hoje.

Aquela visão de homem santo
Que sente que seu coração
É telefone directo a Deus.

Visão essa que durou
Uma eternidade de “vá lá” 1 hora
Enquanto andava de bicicleta.

Pareço ter o poder
De inverter a realidade
Consoante a minha vontade.

Visão essa que lança o espírito
Para o além vida,
Pagando portagem à morte
Recebendo dela
Sua enorme serenidade
E descrença de medo.

Visão divina, sim é isso.

Deus é um estado de espírito.
Deus é entrega à vida.
Reconhecendo que a morte é sua irmã
Portanto continua a jornada da existência
Em família.

Visão que me faz crer que sou um privilegiado
Nisto de sentir e nisto de viver.

Visão que me faz humilde
À força que tenho
E sábio discreto
Aos olhos do humano.

Tive uma visão hoje
É verdade.

Tenho-as tido,
Ao longo do caminho,
E são-me tão plenas
Que me pergunto
Se não serei o Jesus dos tempos modernos.

Coisa parva e cómica
Mas o sinto
Muito serenamente
E como é sereno
Que o sinto
Não é sentimento meu
Mas duma luz
Que em mim passa,
Uma luz que parece gostar de mim…

Tenho a certeza que deus gosta de mim
E quer muito de mim,
Porque lhe sinto sentir-me
E como que fazemos amor
Pelo telefone do coração.

Em terra de Deuses
Como se fala com o coração
Está-se sempre a fazer amor
E o mais curioso é que não cansa,
Aqui ninguém dorme,
Imaginem só (ó daí!).

Falo casualmente
Para que com risos exteriores
Permaneça a serenidade
De vosso coração
Calada,
Sentindo.

Sei que vós humanos
(e falo para meu humano também)
Têm medo do eterno,
Sereno de amar,
Que aceita a morte como a derradeira entrega.
Portanto falo com boa disposição
E a liberdade que me conheço
De ter o dom, e o prazer,
De amar como deus cria:
Eternamente.
Ténue é a linha
Que me liga à vida.

Ténue é a linha
Do meu caminho.

Ténue, muito
Muito ténue…
Tempo redescoberto em minas
De acesso limitado
Às que se não paga com dinheiro
Mas solidão.

Trabalho os cordões de meu são
Em loucura intelectual
Que me solta solto pelas partículas do universo
Em estrada de sorrisos e choros.

Caminho por mim.
Faço da vida um feito
Porque sei o que lhe quero
E o que ela quer de mim.

Um espaço por ter,
Um espaço que se longe de mim
Fico por ser.

Ser um pouco o sol
E o vento,
O silêncio certamente.

Mas regressa o encontro
E surjo eu de novo corpo.

Muito bem,
Se é por aí que sinto
É por aí que vou.

Cansado de me queixar
Ou sempre relembrar fracassos e raptos.

Não.
Hoje sou só eu
E se me chateia algo,
Só me ali, onde foi, me chateia
Depois caminho e tudo volta ao sitio.

Porquê ser moinho do sofrimento
Quando se o pode ser do sopro da vida?
Tanta coisa que podia ser e não é.

Coisas todas juntas
Mas por dentro separadas
O suficiente para não ter de ser.

A coisa parva de nos olharmos
Buscando encontrar o que de encontro
Só há cá dentro.

E em silêncio nos assustamos
De pertencer ao mesmo
Querendo tão menos mais
O que podíamos ser
E por medo não somos.

Falar alto e dançar o ar
À pedra filosofal que é a calçada da rua,
Noite lisboeta,
E sangrarmo-nos em sorrisos excessivos.

Lembrar que a criança éramos
E de adulto o tempo e o hábito,
De almoçar ali e aquela hora,
Fez-nos desacreditar que amanhã não existe
E por isso possível é de o inventar.

E cansamo-nos nesta coisa
De ser correctos e satisfeitos
Enganando a vida
À morte de a esforçar
Para ser simpático
E preservar a calamidade
De nos dizermos democráticos.



Abrir a porta para a rua
Pisar o chão do presente com estilo
Dançar enquanto correm eles.

Iluminar a noite
Com um sorriso implacável de ser sincero.
Tragar a infelicidade alheia
Como uma especiaria
Que o prato principal tem-lo tu.

Orgiar as emoções
Em tentáculo largo
De desejo que lá no alto,
Onde os ventos são tempestades,
Grita a certeza de um amanhã
Já hoje presente.

Ah sim!
Mandar à merda a merda
E saudar a alegria de sermos um
E havermo-nos muitos.
Por baixo do lençol o segredo
Guardado em tarde de serão imaginada
(como que acompanhada).

Setas altas a passar por ela
Lá em cima
E cá em baixo
A dor de as tão ver assim largadas
Sem ninguém para as deter, possuir.

A largada da noite
Está lá fora quieta e silenciosa.

Ela vai à janela
Ver o dado sitio que a sente
Agora tão infeliz e descrente.

Dentes com fome e lábios de sede
Chegam a conclusões dúbias de realidade
(que não seja estridente).

Vive eternamente
Neste solo infértil
De em tanto crer
E tão pouco ter.

Volta à cama
E toca-se onde há luz.

Sorri e goza por momentos
(só, sozinha).
Quero tudo.
Nem muito
Nem pouco
Tudo.
Tudo sim.
Tudo é bom se se deseja o todo de tudo.

Se cai mal
Largar ali ao lado
Que a outro pode
Ser a solução.

Bocejar alto para fazer rir
A criança que é ela ali velha.

Tratar o António pelo nome,
A Maria por Maria.

Fazer toques de bola
Com os afectos que me afectam.

Falar bem e cuidado aos amigos
E falar mais que mal
Aos velhos descrentes que nos fizeram.

Saltar a vedação da nuvem alta
E olhar o céu, em dor de atenção,
Voa-lo em mente pela fé do coração.

Tentacular o individual
Para querer e crer e ter e ser e saber de tudo e todos.
Que tenho pressa de viver
E a morte tem-me inveja
De lhe ser filho legitimo
Mas tão mais amar a vida.

Voa, voa ó alta ave que me possui!
Que vontade tenho eu imensa
De te dizer ao ouvido
Se não me queres amar
Ali na esquina
Desta rua nocturna.

Porque estou sozinho
E tu sozinha
Se juntos inventávamos
Um só caminho
Tão mais completo?

Minha querida
O mundo anda louco
Mas nós somos sãos!
(vejo-te nos olhos e nesse toque
Carinhoso ao teu amigo).

Anda, dá-me a mão sim,
Temos muito a falar ali na esquina.
Vem, eu cuido de ti,
Aqueço-te a alma
Com meu falo espiritual.

Vem meu amor,
Vem que eu quero só estar contigo agora
Que amanhã é outro dia
E eu tenho pressa de viver.

Cuida-me também
Se assim o quiseres
Que eu sou uma criança velha
Que nada a sabedoria
Em honra tua.

Falemos também, porque não?

Falemos sim
Que falando nos entendemos
A nos largarmos mais e mais
Pelas teias salgadas do amor carnal
E sinceramentemente sexual.

Quero mergulhar em ti
E não mais voltar ao meu corpo sozinho.

Quero ter-te como ponte ao mundo
Que desejo amar mas (ainda) não amo.

És a chave para ser eu
A essência da minha fala
Que de anterior pensamento
É fala espiritual.

Sempre vivi para ti sabes?

Sempre, minha querida,
Sempre vivo eu
Para te agradar.
Tu ó mulher fértil que me ataca o coração
Em canção de beijinhos e carinhos.

Vivo para ti
E só para ti
Vem-me amar então.
Por vezes fico-me a ponderar o porquê de se fazer a vida difícil. Digo isto porque eu próprio a faço difícil para não ver o difícil que ela é, podendo não ter de ser… Acho que nisso sou como todos nós: dificuldade ou incapacidade de me confrontar com a verdade que é a minha vida e não necessariamente aquela em que estou inserido actualmente. Viver é coisa complicada porque mesmo que saibamos parte da verdade, ainda vivemos em sociedade e nisto é impossível, ou quase, manter coerência no nosso caminho da verdade. Ser eu, ser o que sinto como meio, pois o fim só andando se vai vendo. Com certeza que posso supor, imaginar e conceber a vida estando parado, voando pelo pensamento mas isso nunca será o tudo que somos num só.
Imaginemos uma folha branca, virgem e escrevendo-a vivemo-la ali e asseguir o corpo e a mente dizem que se lá já não está. A folha fica legado para relembrar ou para lerem outros, se for boa ou mesmo se assim não for. Mas deixando a folha por escrever e ir viver o que nos sacode a mente era um legado bem mais digno porque deixaria menos lixo e se conceberia a existência de corpo, mente, espírito como um só. Claro que quando a mente está cansada dos fracassos e infortúnios passados, já tem pouca vontade de os ter mais um e assim, muitas vezes, esse ser que tanto tinha a viver começa a escrever essa e, quem sabe, muita outra vida que não iria fazer se só vivesse a vida desse mesmo corpo que o possui ou possui só(depende da perspectiva).
Todos desejamos viver à força toda mas quase todos não sabem porquê; porque é o instinto que os faz resistir, sobreviver. Tendo o homem e a mulher um universo único no cérebro, é estranho que siga cegamente o primitivo instinto. Os seres humanos acabam por ser mais selvagens que os animais pela simples razão de poderem o não ser.
Que de encontro chego atrasado
E compenso em por isso fazer
Toda a minha vida de momento.

Tempo.

Tempo que passa e eu não corro atrás.

Dou largas à entrega
Mas a entrega com rédea sim
Porque o que creio de mim
Sempre mais importante
Que a própria vida
Sei não bem porquê.

Mas sim
Vou contigo e feliz fico.
Estava sozinho e os monstros meus
Ganhavam-me vozes outra vez
E eu resignado a isso,
E tanto de tudo mais,
Fiquei prostrado
Envergonhado de existir
Até te ver
Tarde
Chegar.

Chegaste e me logo alegrei.
Não porque me dás algo
Mas porque tanto recebo
Naturalmente de ti.

És eu de Paris,
És eu!

Talvez daí não te conseguir ajudar à vida,
Sei-te só aconselhá-la.
Mas isso serve pouco
Senão nada
Quando se nem tem uma cama onde dormir…

Sou um mau amigo,
Uma má pessoa meu querido?

Ah, quem sabe, talvez…

Não faço por ser digno a um
Mas ao mundo.

É parvo eu sei
E inseguro também
Mas é o que sou.

Será?

Desculpa-me a indelicadeza
De te ser tão insensível à tua situação.

Mas se queres que te diga
A verdade é que
Como tu és eu
Sou-te tão implacável
Como para comigo.

Não me tolero a fraquezas
Ou incoerências.

Não há razões, há só maneiras de ser.
E eu vou sendo não o que sou
Mas também o que vou vendo.

Distribuo sorrisos, alegrias e amores
E deixo a mim toda a minha devida tristeza.
Que só eu sei dela
E só eu a sei mudar
Para vontade de criar.
Que me tens em figura altiva
De teu sentimento
Como mestre de um qualquer
Mestre oficio de ser “eu”.

Danças em mim
Sim
Por vezes
Mas são só vezes
Dentro do muito de nos aparecermos
Juntos à realidade.

Que te hei de fazer?

Não recordo ao certo
Como ser só português…

Hoje sou diverso,
Não necessariamente complexo.

Averiguo calado por aí
E me tens de seduzir
Com conversas muito tuas
Ou estrangeiras.

E não é arrogância
Pois vou com o vento
E se estou alto
Não é por mim mas por ele.

Deixo-me levar em tão enternecido
Encanto de hoje me bastar
O (tão são bem) estar vivo.

Não nego, nem renego,
Fico.

Mas é um ficar
Que parece estranho
(a quem vê)
Pois só meu corpo aqui é.

Eu sou uma divergência,
Um erro canónico,
Uma inequação que resolvo
Em certa e determinada equação.

Forças da vida
Aliadas ao tempo
Tomaram posse em mim
E já não faço questão
De dizer sim ou não.

Vou, estou sempre a ir
Mas parece que aqui estou.

É complexo também para mim
Daí fazer da minha vida uma ode
De disciplina ao oficio de ser “eu”.

Tempo passa,
Olhos passam,
Eu fico e olho.

Não faço questão
De ir (em corpo)
Que já vou demais quando fico.

Uma horrível auto-suficiência
Que muitas vezes é tão bela…
Por vezes em vestes de promessa crescida
Eu volto à criança que sorri pateta
O cão que passa,
O sonho que fica.

Ao lado da porta do fim da rua
Uma árvore amena
Que não conhecia.

Regressado a memórias
Que esqueci,
Folgo em saber que foram minhas
Mas em tempos de longe
Do que já (ainda) vivi.

Sangra a bandeira do país.
Seu dono enlameado em “coisas de agora”
Que o ecrã diz.

O agora é pouco interessante
Quando é o ontem que se descobre
Com o tempo de hoje.

O presente sente-se hoje,
Sabe-se amanhã
(mas só se se quiser).

Não me recordo de gentilezas
Que não sinto…

Faço o que digo cá dentro
E a realidade e o tempo
Que se acanhem.

Todos temos um só tempo,
Daí não haver sincera sintonia
Fora do amor que aliena.

O bom é estar sozinho mas contigo.
Não partilhar até o sentir brotar de dentro.

Fazer do conjunto um monumento,
Diverso e complexo.
Não uma manada de corpos
Mas uma debandada de sonhos.

Não acredito em ti
Mas acredito em mim,
Daí acreditar em todos nós.
De madrugada apresso-me a te vir ao encontro. Não estás, aguardo 10, 20 minutos e chegas atrapalhada e desassossegada. Falamo-nos afectuosos e entramos, o cinema já nos espera. Lá dentro a tua dança começa cedo dentro de mim e a noite da sala faz cintilar meu sangue em quente calor que só te quer agarrar. E é um bom filme mas tu és melhor! Falamos um pouco, nos tocamos mais e vais com a mão a sítios que me dizem “basta, temos que ir para um quarto, que isto aqui não!” Logo te chamo à atenção a minha conclusão e tu me lanças um daqueles sorrisos segredo que te trazem nua e aberta ao meu pensamento. Portanto, fora do cinema, ainda na rua, minha ou tua casa te pergunto. Dizes-me tu a minha porque a tua tem senão. Lá vamos, já a correr, loucos de prazer, que o acto da concepção, embora que não conceba, não tem sala nem fila de espera, tem pressa de acontecer. Logo no elevador quase metemos a boca onde alarma o publico, em publico, se houver publico. Abre-se a porta e abro a outra minha porta com aquela desorganização própria da paixão. Entramos e ninguém, nem um só barulho. Sozinhos nos comemos sem fim, por fim, desejando que toda a vida fosse assim, nós dois espalhados soltos e perdidos em sentimento e emoção feitos físicos do carnal sexual.
Todo o meu gesto procura o encontro.

Na sombra de um dia turvo em alcoolemia
Eu vejo e sinto a paisagem de pássaros
A me fazer esquecer
Tudo de ontem
E mesmo de amanhã.

De que vale a vida
Se não me encontro onde estou?

Promessas descabidas
Em cara de bebé Tristão.
E nisto estou aqui
Firme de meu cansaço
Virado sabedoria
Que de musica voa.

O espaço que sou eu
E tolda olhares à interrogação.

O espaço que sou eu
Que é só isso: espaço.

Dentro-me existe um mundo
Que pouco lhe interessa este
Onde de olhos penso ver.

Um mundo que vou conhecendo
Deslargando-me deste onde piso o chão.

E em matéria de cansaço
É meu corpo sim
Que sente a amargura
De falhar o viver,
O sonho que vivo eu
Calado e sossegado.

Em memorias de uma outra rua,
Onde em tempos era jovem,
Olho-me como que pai meu
Orgulhoso de ter vivido
E hoje ser eu outro.

Que na calada da noite
Cessa-me o barulho descrente da civilização
E em batida de tambores
E trompetes medievais
Ouço eu meu coração
Soluçar a crença imensa
Em tudo e em nada.

Simulando a comunhão com essa noite antiga
Venero-lhe os lençóis
Em existência perpétua e perpetuadora
De sonhos que choram
O tão demais acreditarem
Em coisa nenhuma
Que é tudo.

Deito minha criança,
Amanheço-me nela,
Porque lhe vou ao encontro,
E sussurro palavras de amor
Que gozam de nenhum pudor
À coisa eterna de se saber vivo.

Deita meu lindo,
Deita e adormece que eu te acordo
A nossa esperança em terra de espírito,
Sonho teu,
Certeza minha,
Sim sim
Adormece coisa minha.

(Passeio-me em morte
Para,
Ao voltar à vida,
Sentir a mais leve brisa.)
Algo mudou aqui sim.

Algo mudou
Porque mudou o mundo
Que vêem meus olhos.

Algo mudou sim
E é tão bom algo mudar…

Mudou sim
Porque estou diferente de mim.
Cresci?
Penso que sim.

Algo mudou em mim
Que agora pareço
Ter medo de pouco
E vontade de muito;
Mas do simples
Não do complexo.

Algo mudou aqui
Dentro de mim,
Que sinto-me efectivo de meu eu,
Já não o posso não ser
Fingindo aqui e ali.

Porquê fugir e de quê
Se eu sou eu
E sou quem sempre quis ser?

Hoje fico aqui
E ficando,
Mudam-se os tempos e
As vaidades,
Que eu genuinamente fico igual
Mudando só de escama pele
Aos olhos teus
Que o que sou mesmo
É segredo de Deus.
Chega a bruma
Donde me encontro.
O sol jazia alto
Num outro lugar
E eu lhe afagava as lágrimas…

Céu turvo de nevoeiro bruto,
O mundo continua
Embora que mais triste
Continua certamente.

A noite se anuncia
Por 1001 sóis
Que fingem a luz
E a levam consigo
Deixando atrás o rasto
Da verdadeira escuridão.

Colher o que me dão
Pois não pode
Assim ser tão pobre não.

Elaboro urros de vida,
Gritos de vitória
Que a planta do vital
Me escaramuça a existência,
Ironicamente.

Prendo a minha atenção
Ao que me faz querer,
Largo a outra
Pelo fumo do fumo meu
Que me sai pela boca
(esconde eu).

Mentiras fundadas verdade
Com a mera e simples
Artificialidade.

Correntes de ser
Qual a escolher?

Vive-se desencontrado
Porque o encontro custa mais.

Há matérias que se não querem desenvolvidas…
Carentes, ficam para quem
Não mais deseja viver essa realidade
Que, no fundo, só faz sofrer.

E daí as vaidades minhas,
Tuas, que interessa hã?
Somos todos uma bola
Que só sabe de si
E esquece o outro
Amavelmente
Em tom de sorriso displicente.

Que acarretar com as verdades
É um feito e muito.
Poucos as querem
Que num mundo de mentira
A verdade é um monstro.

Mas me não me canso
De pregar ao céu
A verdade perpétua
E fecunda
E assim colho
Com minha mão uma outra
E outra pequena mão,
Que quer, que crê
E saltamos a vedação
Tensos de saber
Que a vida existe para viver.
Cada um faz o que lhe é destinado.

Cada é já antes de ainda ser
Só que tem de viver para o saber.

Cada um de nós
Está vivo
Por uma simples razão:
Ser.

Se não é
Vira perverso,
Corre o vento
E o sente como uma ofensa.

Se já fosse
Saberia
Que o vento é só o vento
E ele é só ele,
Que tem o prazer
De também sentir ele, o vento.

Mas o mundo tem tempo
E esse
Tem circunstâncias e terrenos diferentes.

Moldam o ser vivo
Ao que julga ele ter de ser.

E os sábios lá vão descobrindo
Que o único ter de ser
É o que sentem
E não o que dizem…
É um espaço pequeno
E de pequeno ser
Envolve a gente
E faz
Não ter de ser.

Espaço esse que é pequeno
Em terreno
Mas mais que grande
No além terreno do sonho.

Sonhar se faz muito por aqui
Mas por alguma razão fala-se pouco disso.

Chega-se a pensar que não existe
E por isso se importa(troca comercial) muito.

Mas há quem saiba que aqui há sonho
E quem normalmente o sabe,
É porque já muito antes, de assim saber,
Já sonhava.

Não é terreno de corpos
Este Portugal
É sim terreno de sonhos.
Em memorias desatentas
De uma outra nova procura
Me redescubro
Em cálice de espírito,
Sangue de me querer
Finalmente eu vivo.

Sal do chão
E o alho do fim da tarde,
Especiarias da manhã
Para acordar
Espelho reflector
Do sol acima de mim.

Sara a ferida de meu corpo
E se multiplica para mim,
Céu do corpo,
Cérebro,
Em vontade de partir;
Querendo só o tão
Momentaneamente chegar
Num ínfimo
De segundos breves
E partir novamente,
Tendo só como certeza
Que a vida tem que ser vivida
Pelo próprio e não o além de si.
Fazer do que sinto
Um filho meu
Porque o sinto
E é meu.

Divagar o físico
E fotografar, estático,
O sentimento.

Comer pouco
Pois só o ar
Já me tão alimenta
Que tenho de fumar.

Olhar os tempos que são
Com os óculos de sábio,
Que relativizam a relevância.

Sentado na esplanada do café
A noite chega
E estou ainda não nela.

O silêncio breca
As asas da harmonia
E desvirtua o que acredito
De momento.

Passo a ferro o espírito
Tornando-o físico
E tudo que me atormenta
Foge daqui
Pois eu não tenho medo.

A vida é um segredo a preservar.

Sei-a bem,
Ela é que não me sabe.
Ontem pensei em ti.
Pensei de uma forma
Calma e querida
Com tudo de bom
Que deixaste em mim.

Lembro-me dos teus olhos
E teu acordar
E renovo os meus olhos
Em certeza de passado,
Promessa de futuro.

Tu soubeste de mim.
Soubeste o meu mistério
Que é o mais intimo de mim.

Não sei se alguém mais
Me conheceu como tu
E sei, por certo, que
Me não conheço tão bem
Como tu me conheceste...
Há um tempo de promessa
E outro
Mais delicioso
De descrença.



E que bonito é,
Em descrença,
Sair de casa
E vir a descobrir
Não crença
Mas efectiva beleza
Em beijos e abraços desprevenidos?

Viver é sempre belo
Porque sempre há
A receber.

Triste é quem vive fechado.
Inventar um espaço
Na ausência
Do outro que queria.

Um espaço
Que de terreno
Reproduz nuvem
E de movimento
Sentimento.

Um espaço intimo
E acolhedor
Que ao mesmo tempo
É infinito e criador.

Um espaço que
Na verdade
É uma fuga
Mas uma fuga
Que ajuda a pôr em dia,
E à luz do céu,
Sonho meu,
De uma forma natural
E despreocupada.

Espaço esse de liberdade
Em que o contacto
É sempre encontro
E o encontro
Um real incentivo
À chegada à vida
Terrena, simples e mortal.

Ter o infinito
Como uma certeza
E o finito
Como uma dúvida,
É assim que eu vivo.
O passado foi tempo dele
Não de eu.

Que tenho a defender
Ou a arrepender de um tempo
Em que já não era eu?

Hoje é um outro dia e
Amanhã serei outro.

Que chatice esta coisa
De nos termos de ser compreensíveis
Aos outros!

No meu ideal
Falaria só com quem queria
Deixando as centenas que me conhecem,
Falar com meu silêncio
E indiferença
Se me interrompessem.

Eu que me gero e me creio
Em sozinho divino,
Porque me amedrontar de ter de falar
A quem já não me conhece?

Sou dado adquirido
Para quem
Menos me teve
Quando quem me mais soube
E sentiu
É quem mais me sabe mistério.

Eu não sou de ninguém
Nem mesmo de mim.
Então como me tu conheces
Assim me falando tão,
Parecendo com fim?

Detesto que me conheçam,
Detesto que pensei quem sou.

Eu não sou
Vou sendo,
Tudo de trás levando
Em silêncio comigo.

Então porquê contigo isto partilhar?
(se é em silêncio que vou evoluindo?)
No espaço de me ter seguro
Acordo o adormecido ser
De meu ser
E boceja ele em mim.

Promessas a dizer
Outras por fazer,
O horizonte tão me presente.

Abro os braços em consolo ao céu
E distribuo meu espírito
Numa dança circular.

A noite que vem
Faz-me acender a fogueira
Que me aquece e entristece.

Amanhã jornada em frente
Está por fazer
E por isso é bela e assim.

Fiquei eu de me
Falar ontem,
Julguei-me sozinho
Quando por certo
O vento me acariciava a pele nua
E o sol me aquecia a verdura
De minha (ainda) jovem vida.

Então em noites que avizinham o começo
Eu me presto triste de ser tão contente...
Passagens a se fazerem
De esquisitas
E eu de esquisito
Me fico virando a esquina
Escondido.

Sempre procurando
Esconder meu ser de ter de ser,
Para ser um outro que era já eu quando nasci.

Há um espaço em falso
E outro, em seguida,
Em aberto que promete
Se a vontade não for pouca.

Olhar em frente com um olhar sossegado
Boca fechada
Mas lábios molhados.

Fazer das lágrimas de outrora
Mar
Que me leva ao lugar querido.
Fazer do corpo
Caravela
E remar ao desconhecido.

Não ter um outro
Que seguir
Senão o eu daqui.

Lembrar que só um lugar é casa
E esse é sentimento e é partilha.

Ir em frente
Mesmo que o atrás demais prometa.

Crescer e crescer.

Ver o mundo,
Descobrir o prazer de ser
Assim eu
E vê-lo pela primeira vez
Novamente.

Ter que seguir em frente
Porque o atrás já morreu
E só levanta bandeira de futuro
Por presenciar.

Pisar terra firme depois de tudo
E só aí: caminhar
Caminhar.