terça-feira, 2 de agosto de 2011

Todo o meu gesto procura o encontro.

Na sombra de um dia turvo em alcoolemia
Eu vejo e sinto a paisagem de pássaros
A me fazer esquecer
Tudo de ontem
E mesmo de amanhã.

De que vale a vida
Se não me encontro onde estou?

Promessas descabidas
Em cara de bebé Tristão.
E nisto estou aqui
Firme de meu cansaço
Virado sabedoria
Que de musica voa.

O espaço que sou eu
E tolda olhares à interrogação.

O espaço que sou eu
Que é só isso: espaço.

Dentro-me existe um mundo
Que pouco lhe interessa este
Onde de olhos penso ver.

Um mundo que vou conhecendo
Deslargando-me deste onde piso o chão.

E em matéria de cansaço
É meu corpo sim
Que sente a amargura
De falhar o viver,
O sonho que vivo eu
Calado e sossegado.

Em memorias de uma outra rua,
Onde em tempos era jovem,
Olho-me como que pai meu
Orgulhoso de ter vivido
E hoje ser eu outro.

Que na calada da noite
Cessa-me o barulho descrente da civilização
E em batida de tambores
E trompetes medievais
Ouço eu meu coração
Soluçar a crença imensa
Em tudo e em nada.

Simulando a comunhão com essa noite antiga
Venero-lhe os lençóis
Em existência perpétua e perpetuadora
De sonhos que choram
O tão demais acreditarem
Em coisa nenhuma
Que é tudo.

Deito minha criança,
Amanheço-me nela,
Porque lhe vou ao encontro,
E sussurro palavras de amor
Que gozam de nenhum pudor
À coisa eterna de se saber vivo.

Deita meu lindo,
Deita e adormece que eu te acordo
A nossa esperança em terra de espírito,
Sonho teu,
Certeza minha,
Sim sim
Adormece coisa minha.

(Passeio-me em morte
Para,
Ao voltar à vida,
Sentir a mais leve brisa.)

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