domingo, 25 de novembro de 2012

Hoje, no recital do apreço,
Eu bronzo-me de velho
Para me guardar novo,
Por me oferecer,
Como presente,
A quem me quiser.


Gero a minha própria profecia
Aguardando o dia
Em que serei livre disto aqui.

A vida demora
E demoro-lhe eu a chegar.

Agora, está ela toda
À minha volta e no entanto
Parece pecado tocar-la.

Porque tenho que ser outro?

Perguntas bem…

As verdades são
Para ser ditas no papel
Para que fiquem eternas.

Longe de mim
Querer atiçar o presente
Com o meu júbilo.

Ainda não é tempo.
Aguardo o momento,
Aguardando-o para sempre
Se assim tiver que ser.

A minha luta é tão velha,
Tão cansada, e no entanto
Tenho que a prosseguir.

Tremo todo de energia.

E o palácio que concebo
Não me dá alegria física.

Por parte, não sei de mim…

Fujo do que procuro,
Procuro o que não encontro.

Avizinho-me do limbo
Para me sentir vivo.

É que tenho demasiada energia
E o fim dela
Seria o começo nela.

As verdades
Que uma alma sente
Devem ser guardadas
Para serem lançadas
Ao vento
Como cinzas físicas.

Um começo no futuro
E um encanto
De profecia
Hiberna-me a vida
À maravilha.

Estou cansado de poder.

Podendo, me viro,
E vou contra o vento.

Amanhã aguarda-se em silêncio
E o meu de cá vai para lá,
Bem longe,
Sinceramente.

Portugal quer-me poeta
Não aceita que eu viva.
Pois tanta vida
Não encontra violeta
Num país tão pequeno.

Assim, meu filho,
Assim sei que é lá,
No longe e desconhecido,
Que eu irei viver.
 Prezando tudo como deve ser.

A noite terá medo ao principio
Mas o dia sempre logrará.

E na véspera de uma nova Era
Eu aguardo-a sorrindo,
Emprestando a minha mão à outra.

Recorrendo a portas
Que não são
Caminho para um tempo sem senão.

Lembras-te de quando
Vivíamos e isso era lindo?

Hoje parece feio
Porque está feio o presente.

É domingo.
O dia mais tenebroso de todos.
Domingo, o dia da família maldita!

Domingo então
Não é para todos
Mas para os que tiveram sorte.

Perdi a graça
Agora que te foste novamente.

Já não me sei
Recordar da tua pele
E voz.
Assim é mais difícil.

Incrível como estamos ligados
Ligados ao ventre do universo.

O passado gera presente
Pela alquimia de o reinventar futuro.

Vivo ao contrário
Porque é ao contrário
Que a vida me parece permitida.

Ser poeta é o dever
De quem sente
O seu direito à vida
Vedado, negado.

Não posso viver
Como tu, ó tu,
Na encruzilhada da sobriedade calma.

Demónios hereditários
Me amaldiçoaram
E por eles me deixei
Fecundar só para os depois ganhar.

Fazem-se lutas
Para entreter o tempo
Enquanto o coração aborrecido
Aguarda entrega.

A morte está em mim
Apenas para conseguir
Fazer da vida a minha sina.

Na luta do tempo
Aguarda-se novo pensamento.

Vivo para ela, ainda.
Mas vivo para mim também,
Só para mim.

Assim, na solidão suprema,
Invento o que não existe
Para existir em ideal talento.

Tenho de me meter
Cá dentro à porrada
Tal é a pulsão de vida.

A guerra faz-se em maresia
De conceber o fruto
E não o comer.

Quem me fez
Fez algo maravilhoso.
Tão maravilhoso,
Que não consigo aguentar.

Entorto-me então
Para que torto
Vire a vida
A uma saúde dúbia e esquecida.

Estou sempre instável,
Sempre a brotar
Como se frutos
Fossem água do meu ser.

Amanhã,
Promessa de quem não vem.

E o tempo
Esse é uma lembrança
Vivida no depois de morta,
Esquecida.

Quem lembrou
Depois esqueceu.
E quem perdeu,
Bem, quem perdeu,
Ganhou a eternidade.

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