segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Entre o tom rosa da pele
E o amarelo do sorriso, a voz
Se esvai e se lhe encontra corpo
Onde antes havia só silêncio.

Além que ela pouco fala
A ideia que ela tem
Sempre se nota na cara.

Senta-se bem e parece menina
Mas quando sai á rua
A destreza é toda sua.

Fico eu aqui olhando-a
Na esplanada de um tão fim de tarde fria.

Á noite ela se deita no sofá
Enquanto o irmão se fala.
Isto sei porque moro no prédio em frente
E quando em espaços de tempo entre livros
Olho janela é a ela que me quero ver.

Hoje acordei quase que de manhã
Eram onze e quatro e o sono
Não me retinha
Tinha que a ver!

Saí porta, vi rua
Direita para o trabalho
Onde ela se instrui de dinheiro.

Sentei-me, pedi à colega dela
Uma torrada e um galão.

Fiquei esperando que saísse da cozinha,
Olhou-me de repente
Surpresa,
Não que me conheça antes me sabe
Comum a este café e espaço suburbano.

Quinze minutos mais tarde já tinha vindo
E sido ingerido o alimento e o leito com café.
Na sombra da dúvida acendi um cigarro e chamei-a.

Chamei-a ao que ela me veio corada,
A disse que a havia observado já há muito
E que se não assustasse com o assunto.

“Puro interesse inocente e curioso
De um velho amistoso.” Disse-lhe.
Ao que ela sorriu um pouco ainda descrente
Da minha sanidade.

“Minha querida” disse finalmente
“Quero-te oferecer minha vida…”
Ela olhou-me assustada
Eu lhe disse “Descansa que não é nada de mais.
Tenho uma doença que me levará
Nos próximos dias, quero que fiques
Com o que tenho: casa com tudo incluído e carro.
Tens livros e afins culturais e artísticos para te entreteres.
Deixo te-os porque por ti vivi mais uns meses que afinal não merecia.
Tua vida singela fez-me ver o que é a vida em si, vida essa
Que eu nunca vivi.
Contigo, nos últimos meses, compreendi que mais vale silêncio sereno
Que conversa entendida, percebi que mais vale viver que se entreter
Com o sucesso. Deste-me a maior lição de vida e como
Não tenho herdeiros te deixo a ti tudo o que tenho.
Aceitas?
Sei que vives apertada naquele apartamento com o teu irmão
Mereces um espaço teu e assim deixo-te o meu.
Aceitas?
Entende que não há coisa maior que essa para ir em paz para o além-vida.
Aceitas?
Não chores, aceita.”



Nesses últimos dias, tornamos-nos bons amigos,
Afinal minha mente não se canibalizava com a sombra da morte,
Ficava calmo sabendo que ela existia.

Quando morri, morri sereno no sofá de casa dela
Depois de uma longa noite de conversa.








(Assim foi toda a minha vida…)

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