terça-feira, 28 de agosto de 2012


Com um chão propicio à acção
As asas de quem é
São leves e, de verdade, voam.

Ao pé de mim
Guarda-se sempre
Um vazio extenso
Que me deixa
Ser tudo
E me olha com carinho.

Não sei quem me inventou
Mas fez um belo trabalho.

O único problema
É que não foi
Para o tempo em que nasci.

Assim tive de me desconstruir
Peça a peça e voltar-me
A montar, como se nada fosse,
Para poder ser cá fora
O que hoje sei que sou por dentro.

O meu corpo ou organismo
Não é mais limitado pelo real,
Já que sei actualmente afiná-lo
Ao irreal desejo da mente.

Se se acredita faz-se impossibilidades.

E se se as fazem
Então tudo sorri
Pois tudo está por nascer.

Quem vive raramente é,
E quem mais é,
É esse que está em contacto
Com a inexistência de si mesmo,
Isto é, a existência espiritual.

Não tenho qualquer medo de falar de deus
Ou de espírito
Porque sei-os hoje tão possíveis como
A impossível realidade que vejo com os meus olhos.

Não há medo no intelecto.

Olho e sinto tudo
E a vida para mim
É um divertimento brutal.

Que tudo é possível
Não tenho a menor duvida.

Se só vês
O que tens em frente
E o divergente que isso é a ti
Então és um ser triste.

A única maneira de ver o mundo
É vê-lo a partir
De dentro de ti.

O que isto acaba por dizer
É que mais do que ver com a mente
Se deve ver com o coração.

Deus espera-nos encontro.

Ele não fugiu.

Se o queres ver precisas de o acreditar.
É um dos truques geniais de deus…

Mas eu ainda lhe prego uma partida,
Pois concedo-me
A inventá-lo ao meu gosto.

(Já que ele não existe, não é?
Eu dou-me à liberdade de o inventar.)

O único mistério na vida
É não haver mistério nenhum.

A vida não tem medo,
Ela existe.
É o ser humano,
Coitado,
Que o guarda todo para si.

Pois de espiritualidade
Fez civilização
E de liberdade
Prisão.

Ele não suporta
O poder que tem.

Ele não suporta
A responsabilidade e prazer
Divinos que deus lhe concedeu.

Alguns povos antigos
Conseguiram viver com deus.

Nós hoje - coitados -
Nós hoje somos tão estúpidos
Que acreditamos poder ser deus
Nesta pequena vida mortal.

Já não me diz nada a cara desta gente
Senão a inexistência que são.


Vão-se todos embora mais tarde ou mais cedo.

É então importante
Viver com o fim constantemente.
É da maneira que tudo fica para sempre.

Já sofri um tanto
Com a minha gente
Desaparecer por esse mundo
Mas hoje nem por isso.

Fiz deles uma mitologia
Que os já superou
Há muito tempo.

Qualquer um dos meus amigos
Se hoje voltasse
Desiludiria-me.

O que não quer dizer que eu não deixasse
Minha mitologia para trás
E fosse viver com eles.

Sei perfeitamente a relatividade
De tudo o que penso e escrevo.

Isto é só uma maneira
De preservar o meu acreditar.

Quando puder
Em vida ver o meu acreditar
Numa outra pessoa
Toda esta “obra”
Cai para o chão
E fica para quem a pegue.

Não faço questão
De me vangloriar
Por minha arte
Embora que às escondidas
Me sinta muito bem
Com tudo isto que crio.

Sei do tempo em que não existia
Pois me consigo
Abstrair de minha existência.

O tempo.
Talvez consiga sê-lo por momentos.

Isso é uma técnica
Que talvez tenha
Conseguido ao me querer abstrair
Deste ridículo sofrimento
De ser humano emocional.

Sou daqueles que descobriu que a tristeza
E o sofrimento são só um entretém,
Já que basta ouvir uma música ou falar a alguém
Para que tudo se evapore.

Vivo esta vida adulta
Sempre preservando os olhos e coração
De criança.
Assim a vida
Para mim, por mais que doa
É sempre divertida.  

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Nowadays dead people are much more alive than alive ones
A vida só acontece quando não queres nada dela

domingo, 26 de agosto de 2012

genial


I’m an idealist. 
I don’t know where I’m going, 
but I’m on my way.

Carl Sandburg

sábado, 25 de agosto de 2012


Onde estou? Entretanto fugi, tanto à pergunta como à resposta, encontrando nisto direcção. Fizeram-me mal e depois fi-los bem. A vida não é justa mas eu tento-a ser. Falaremos em breve, fruto proibido do amor? Mentiras pelo chão e não as piso que o segredo é vê-las só. Há qualquer coisa por aqui que me intriga. Não sei se falo, escuto ou actuo mas o sinto, o sinto! Amanhã certeza do fidalgo que caga em pé, rasteja no amor e tropeça na vida. Estou cheio e não me alivio. O fim para mim é sossego, é descanso. Cansado de viver o que não posso, o que não pode ser. Falaremos em breve? Diz a árvore para o comboio. Que é feito da vida? Perdida? Não creio, esquecida, quanto muito. Não sei estar por aqui. Olho, interpreto, sinto – sinto muito – e depois esqueço tudo. Tão habituado ao abandono que dele fiz encontro. É doença mas com ela invento salvação. Dói-me tudo. Dói-me o corpo como se fosse ele a vida. Eu sinto tudo, tudo! E só uma mulher coelhinha me podia oferecer seu corpo para o moldar ao meu.

Há algo errado aqui e assim tenho que o compreender para o poder mudar. Hoje não fujo, não me queixo, nem dramatizo condições ou questões. Aceito-as como elas me caiem e interpreto-as conscientemente para poder perfeitamente saber como as mudar, ou melhor, como me mudar para não as ter de acatar. Acabo por andar com uma certa confiança, ou pelo menos, baixa ansiedade. Tudo me é aceitável porque acontece e tem de acontecer porque já aconteceu. Não há que fugir da vida quando se quer arranjar uma solução para ela, como que universal. Se a morte me vier buscar antes, por minha displicência para com a vida, que assim seja mas até lá vou tentando descobrir, interpretar e sentir isto que me atinge e nos atinge a todos. Como já antes disse, a única coisa de que alguma vez me arrependi foi de não ter ficado com o contacto daquela maravilhosa Lúcia de Madrid. De resto toda a minha vida é de perfeita e directa responsabilidade minha. Assim não me distraio a culpar outros.

A vida não tem nada que se lhe diga, a não ser aprender a a observar para a viver.

Descobri que o meu corpo vai além de todos os seus tormentos com a cerveja.
Assim hoje enveredo sempre pelo além e o que seria sem ele(ou ela) ficou para trás, longe dos pés alados que hoje uso nesta caminhada.

Viver é para mim, hoje em dia, realmente difícil de fazer. Sei e não sei porquê. Mas como não me importo e não me posso importar com isso, continuo e continuo a evoluir porque é esse o caminho de deus – o meu deus. Se não dá para viver, ao menos dá para evoluir o que, diga-se de passagem, não é nada mau. O mundo que o cérebro concebe pode por ele ser escondido. Se esse mundo é enorme, menos espaço haverá para o viver. Qualquer pessoa que continue a evoluir sem estrutura física, real ou social para o fazer está-se a condenar ao anonimato, à solidão e todas essas coisas que invalidam uma vida “feliz”. Mas se a tesão de ser, criar e projectar, o que se é, é tão alta, então nunca existem barreiras físicas que as restrinjam, adiem ou resistam. Deus está na mente e seu potencial de amar, isto é, acreditar. O grande homem ou mulher que o consigam trazer para a realidade, em toda a sua acção, têm em mim um grande apreciador e, por que não, admirador.

Já não procuro fugir da vida, a não ser que sinta que ela ponha em causa improdutiva (a meu ver, claro) a minha. Procuro sim, com total tolerância e liberdade, entender como viver a minha e não “esta” vida. Se a morte me é hoje como que quotidiana a vida parece-me sempre de valor. A única questão é que, tendo em posse a suposta “minha” morte, toda a minha atenção e devoção estão viradas para coisas derradeiramente essenciais como o verdadeiro afecto, o amor e uma real e efectiva causa. Isto me afasta, muito infelizmente para mim, do trabalho, emprego e essa consequente integração social. Se não consigo isso viro vagabundo (mental) deste mundo enquanto rei do meu.          O que afinal me alegra neste meu estado actual é o nível de coerência e persistência que consigo. É muito tentador assim continuar… Mas sei que tudo isto é fictício, simplesmente por ser insustentável. Deixo a intelectualidade para um outro pois eu quero ser deveras um homem da nova era. 

(escritos de seguida daí estarem todos numa mesma mensagem)

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Deus É Ser

domingo, 19 de agosto de 2012


Vivo tão perdido
De ser tão encontrado
Que a realidade parece-me sempre
Uma farsa terrível
Ou extremamente cómica e divertida.

Olho-me ao espelho e vejo-lhe potencial
Mas assim que me não vejo
Cai-me o mundo em cima
E esqueço quem vi ao espelho.

Tem de haver reflexo
Num amigo ou amante
Para que quem no espelho vejo
Possa consistentemente existir em mim.

De resto,
Esqueço-me de tudo
E volto à essência que se lembra de mim.    

Atrás a porta
E no descuido
De por além
Conhecer
Desaparecer dentro de quem se é
Inventando.

Por vezes me pergunto
“porquê”?

E logo me respondem o tempo e o espaço
Dizendo-se meus conhecidos…

É então insensato
Continuar minha interrogação.

O que tenho,
É culpa minha
E o que sou
Consequência disso.

Viver, mais que
Encontro,
É, para mim,
Infelizmente,
Procura.

Portanto, adiante,
Viajante da existência,
Há outros mares, outras terras!   

Junto a ela
Sorri o mundo
E a pedra de meu peito
É águia planando.

Só, só isto.

Sem ela a pedra pesa,
Corrói-me a vida
(à podridão)
Fazendo de mim
Uma máquina de fuga.
Fuga que se deduz em arte.

Que escolher:
A arte ou o amor?
Já que a vida parece impossível
Um gajo tem de se condenar a uma das duas.


Foge minha filha
Que fujo eu contigo.

O segredo do nosso sangue
Tem de ser preservado
Para que invés de vivo
Seja louvado em arte.

Somos deuses e os deuses
Não podem pisar o mesmo chão
Que pisam os outros.

Temos de guardar este nosso deus
No peito, no coração.

E no deslumbrar de um vindouro novo dia
Os soltar, soltar nossos deuses.  
Feira de internacionalidades, fundo aprumo em socialidade. Em compasso de tempo vou reagindo às palavras que se me não dirigem, digerindo-as em conclusões instantâneas que renovam um outro ser a ser. Pentagramas de uma espiritualidade passada enganam quem olha com pressa e as asas dos do chão olham danadas as pedras que se arrastam, esperando apenas pelos semáforos. Houve um tempo de dogma ou tabu, concluindo-se nisto que hoje é tempo de tudo que reflecte o nada que se tornaram nossos impulsos a deus, isto é, impulsos orgânicos, tanto de violência, amor ou sexuais. Vive-se certamente um niilismo decadente que consome tudo em frente e quem olha para trás se logo atrasa e tropeça na hedionda incaracterização que se tornou sua vida. Em parte, para a compreender, tenho que me entorpecer nas engrenagens do sistema. Mas compreendido o aviso logo se me acalma o espírito sabendo-se infinito. A vida também tem direito à morte, ao descanso. Talvez ela queira morrer, não sei, ela é um deus, eu um mero humano. Contactam-se vigílias nocturnas para saber da delinquência que elas mesmas trazem. Falam-se a entes queridos esquecendo-se o afecto por eles pois o esforço os ultrapassa. São guerras e mais guerras que atravessam o mundo diariamente, constantemente. E continuamos na sombra desse sol de verdade, sorrindo-nos perdidos, fingindo a vida pois ela se quer sofrida. Foram tempos e tempos foram. O chão que se pisa é como virtual, e o além da internet ou dos filmes em 3D parece tão mais convincente. Amanhã logrará o tempo do encontro, até lá vou sorrindo a isto, porque na verdade ainda é, a cima de tudo, vida, a minha vida.   

Cantorias de meu sonho rogam-se aos céus, nobreza medieval em que o sangue é imagem e a arte paisagem real. Metalurgias emocionais e catarses fabulásticas! Memórias atractivas e conquistas atrasadas por cerveja. Nobre a espera que atinge o horizonte. A criança desmedida da vida atinge a morte a meio folgo e vive depois certezas nulas.
Caluda aos reis e fala o mendigo da esquina! Preparar os cavalos para a cruzada do Niilismo onde todos irão ver o nada que são para finalmente poderem sentir que podem ser tudo e esquecer e esquecer.

Querem que um gajo salve o mundo!

Querem que um gajo faça o que eles querem!

Querem coisas enquanto eu estou bem aqui a vos ver com demandas, ideias e ideais enquanto dois cães vagabundos se matam na rua. Fervam vossas mentes em estereótipos de boa conduta enquanto eu vivo o vento onde todos os meus antepassados foram e serão.

Cantando e jogando a surpresa
Como cabra cega
Da certeza de horizonte.

Deixar morrer
Para quando viver,
Viver realmente.

A nossa fraca mente não aguenta
O nosso sonho
E assim se envereda pelo espírito:
Certeza do coração,
Dúvida constante da razão.

Superlativa ambição
Que nasce da completa incapacidade
Para lidar com esta vida.

Corrompo-me aos poucos
Mas me mantenho a criança sã,
De sempre,
Embalada por minha voluntária tristeza.

Tu sorris
E vês por ti passar
Esquecida
A criança de teu sonho,
A caminho da ilha dos espíritos onde,
De tanta vida,
Se guardam todos mortos à actualidade.

Quem sabe dançar o eterno infinito
Acha deveras pequeno dançar o actual.
É em fins de tarde como esta que eu realmente me sei filho de deus. No sentido de conseguir vislumbrar a divindade do que experiencio de momento. Há tanta beleza neste mundo que por vezes não sei como é possível senti-la toda num só instante que continua. A ordem de deus é evolui. Ouve o teu coração e sê. E assim vou sendo, mais na arte que na vida mas vou deveras sendo. Porquê a negatividade que por vezes me cativa? Sou um bicho com mente de humano que, para se livrar dela, se evoluiu ao suprassumo da intelectualidade para finalmente vislumbrar a tão prometida espiritualidade. Sou santo mas sou também um corpo que ainda não morreu. Para que essa divindade se me aguente tenho de satisfazer também este corpo. Esse bloco de materialidade que guarda toda a merda deste mundo enquanto o meu espírito sábio voa, muito além da terra, em sonhos de plena merecida eternidade. 

   Partindo do princípio que somos bichos e inúteis, um tanto, ao universo, é formidável a atenção egocêntrica a que nos prestamos dia-a-dia. Eu, acima da maioria, reconheço-me como um mestre do egocentrismo e egoísmo máximo. Sei e não sei, ao certo, o que me leva a este fim mas a verdade é que, por mais que tente mudar, não consigo deveras mudar. Viver é um esgotamento por si, assim. Tudo o que não responda à visceral demanda de novidade que tenho é-me um intruso e uma, por vezes, ofensa ou humilhação. Recorro ao meu tempo, humildemente para comigo, ferozmente para com os outros. Meu olhar é necessariamente agressivo e insensível quanto mais me sinta ameaçado, directa ou indirectamente, pelos demais. Vivo prostrado no meu único conhecimento, que a meu ver, de tão único, se torna afinal universal. Mas o universo, como a arte, não tem qualquer dó pela condição física do espírito humano e assim quem assim pensa, como eu, sofre e sofre um pouco mais. Ironicamente, penso que quem mais se “safa”(é bom) nesta maneira de ser é quem muito mais se via(/vê) a (querer) ter uma vida comum, normal, coloquial e social.
Que deslumbre a alma simples! Aquele que aceita e vive, esquecendo o “por resolver”, sabendo-o não de sua conta, pois claramente é representante doutro patamar.
É realmente fascinante o quanto, olhando esta gente ao meu redor, me imagino entre eles, sendo um deles! Mas devido à minha superlativa consciência nunca consigo me coibir a apenas ser sem disso me aperceber. Nasci com uma alma simples mas esta se furou com o amor e depois, de tanto vazio, comecei a encher-me de tudo do mundo. (Bom, mau, o que é isso para uma alma simples?) Assim, hoje, estou cheio de merda e diamantes – numa mesma e única casta, cá dentro – todos não-eu e lá no meio, deambulante, partículas de minha antiga simplicidade juntam toda esta complexidade num só, que sou eu actualmente. Sou então um indivíduo vazio pelo amor e cheio pelo mundo. O que daí advém é um ser com demais consciência de seu próprio e devido absurdo.  

"quotes"


The modern mind is in complete disarray. Knowledge has stretched itself to the point where neither the world nor our intelligence can find any foot-hold. It is a fact that we are suffering from nihilism.     Albert Camus

All roads are blocked to a philosophy which reduces everything to the word “no.” To “no” there is only one answer and that is “yes.” Nihilism has no substance. There is no such thing as nothingness, and zero does not exist. Everything is something. Nothing is nothing. Man lives more by affirmation than by bread.              
Victor Hugo

Nothing requires a greater effort of thought than arguments to justify the rule of non-thought.        
Milan Kundera

He who fights against monsters should see to it that he does not become a monster in the process. And when you stare persistently into an abyss, the abyss also stares into you.                          Friedrich Nietzsche

"The beginning of a revolution is in reality the end of a belief."
- Gustave Le Bon

Oversocialization can lead to low self-esteem, a sense of powerlessness, defeatism, guilt, etc. One of the most important means by which our society socializes children is by making them feel ashamed of behavior or speech that is contrary to society's expectations. If this is overdone, or if a particular child is especially susceptible to such feelings, he ends by feeling ashamed of himself...        
 Unabomber

sábado, 11 de agosto de 2012


SERÁ?

…beber a solução?

Bem, para preservar
É o segredo de muitos intelectuais
E índios…

Sou uma raça em vias de extincção.

Encarno os índios,
Pretos escravos
E os intelectuais,
Por sensibilidade,
Mal tratados.

Viver, hoje,
Só o além.
O viver além.

Se é isso que tem de ser
Assim eu serei.

Falas de Deus
E eu falo de ti
Deusa!

És a minha Mulher!

De ti,
De nós,
Dei à luz um universo imenso e complexo.

Ver-te aqui é uma novidade
E amor que te tenho
Guarda-me ainda em saudade.

Que sorte tive em te ser.

Que belíssima artimanha me pregaste.

Condenado à tua dança
Gero-te palco e plateia
E só tu,
Tu, minha linda, lá danças!

Que é como dizer, vives.

Viver é uma arte,
Tua,
Minha.

Ao longe chovem crianças
E nós sorrimos.

O nosso amor lhes dá asas
E voam elas para longe dos pais,
Para perto do sol.
Onde tudo é e gera calor.

O mundo está amaldiçoado.

Tu sabes e o vives,
Eu sei e o reinvento.

Maravilha é ver-te assim,
Sem mim.
Louca de vida.
Levaste-me para longe contigo
E assim só sei
Ser perto,
Perto de mim.

Resta-me a honra e o desejo.
Crer no futuro sem o querer.

A arte é a minha terra.

Gero-lhe chão e tu céu.

Adoro te ver viver.

Adoro que sejas tu a viver esta vida.

Eu te olho
E amo a cada momento
Mas me não chames
Que tropeço e engulo
O teu mundo no meu.

O que eu quero é morte,
É fim.
Pois só ela eterniza a vida.

Vivo a cada momento a eternidade
Pois não aguentei a longevidade de minha morte.

Nunca pensei tornar-me assim.

Mas tu és tão bela e viva
Que mais vives por mim.

A aura da vida me iluminou
E foste tu quem a mostrou.

Louca vida,
Vive-a feliz comigo
Mas sem mim.   

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Que tarde. Que tarde de sonho. As mentiras do meu corpo aqui não chegam. Aqui vou de mão com o meu espírito, embalado pela ressaca de 20km feitos em bicicleta e bilhete comprado na primeira cerveja. O sonho, o sonho se lança em ejaculação de loucura, frenesim de desejo quebra-me a razão, queimando-a em intuição. Largas demandas do mundo e a ave, lá no alto, sorri a inconsciência das ordens cá de baixo. Chama. Chama quem de ti faz nascer asas e pila de elefante. Puta mulher menina sabes que te amo. Faz de mim o teu consolo que eu construo a vida, passo a passo, com a calma de quem de tudo sabe nada.
Já não tenho qualquer esperança. No entanto aprecio o meu presente como se a morte me já chamasse. E, para quem não sabe, a morte é a que faz as coisas serem eternas.

Favorecer a honra à dúvida

Viver despegado tanto de amor como de família, terra ou sequer caminho. Andar como o vento, voar e ser perdido, e encontrado, nisso. O chão ser furado e as nuvens a sombra do herói. Mascar sofrimentos do passado e cuspi-los para a sarjeta. Ignóbeis materiais desprovidos de espiritualidade… A única coisa que tens em tua posse é o isqueiro, o resto te dá a vida e o coração. Sonho de criança a crescer, a crescer em barba de Homem. O reconhecimento é nulo, és tu um outro, outro ainda que Outro, és O, és Tu finalmente! O sol da manhã te promete o nada que te sempre brotou o tudo. Caminho a caminho, santa profecia, és tu hoje Real.
A poesia é a arte que mais requer que te esqueças de tudo o que sabes e te deixes levar pelo nada.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

"Agora corrompo-me o mais possível. Por quê? Quero ser poeta e trabalho para me fazer vidente: você não está a perceber nada e eu também não lhe sei explicar. Trata-se de chegar ao desconhecido pela desordem de todos os sentidos. Os sofrimentos são enormes, mas é preciso ser-se forte, ter nascido poeta, e eu reconheci-me poeta. A culpa não é minha de maneira nenhuma. É errado dizer: Eu penso. Deve dizer-se: Eu sou pensado. Desculpe o jogo das palavras. Eu é outro. Tanto pior para a madeira que se descobre violino, e que se danem os inconscientes, que discutem sobre coisas que ignoram por completo!"

 Arthur Rimbaud
correspondência, a Georges Izambard, Charleville, Maio de 1871 ( excerto)
in ABCedário do Surrealismo

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Fortaleço-me no som do vazio que é o sussurro de Deus.
O tempo não existe e no entanto existo eu.

A me enlouquecer, breve tempo no eterno da ressaca burocrática, pois aqui, o descanso faz-se a andar de bicicleta. Vejo o mundo passar como se fosse mentira. E verdade que ele é… No entanto, tanta coisa fustiga meu corpo para sair e não lhe encontro saída possível. Quem é o tempo?  Abraçadas à poeira, estão todas as minhas amadas a quem ensinei a estar sós. Reconheço um princípio de fim e tudo que agora é morre a cada deslumbre que lhe lanço. Fosse alguém meu amigo e eu seria outro. Pudesse eu ter amigos e esses me terem por perto enquanto invento precipícios, terramotos e furacões.
A ordem é outra. Que na força desta, essa, consciência tudo morre e vive e chora e sorri a cada momento, instante. Pudesse eu ser calmo e resoluto em corpo, perscrutando a realidade como se dela verdadeiramente fizesse parte. Ai, que morte sombria me acorrenta o espírito e me deturpa o corpo em fera enjaulada. Cada tempo a seu tempo e minha demorada morte será o beijo de deus num qualquer eterno presente do futuro. Amar-me como se fosse eu o dono disto tudo… Que miséria estupenda e deslumbrante!. Basto-me, e canto a glória do meu tão natural encontro comigo e o universo para sempre.

Em arte o peso é outro. É preciso se restringir a si e reconhecer que se não tem fim pensando. A ordem não vê horizonte mas sabe o infinito e com isto o artista vai além de si, buscar os princípios que o levam a contemplar este estado de espírito em férrea vida física. Como se pode falar de deus se o se não viu ou vê? Ora, mas se O se sente… Vá lá. Deus existe, de uma ou de outra maneira, e ele é somente a constante e nunca reversa criação. O que se cria jamais se pode destruir. Quando se cria algo as ondas deste mundo, e dos outros, se logo familiarizam com tal. Podem não a conhecer por ser “nova” mas sempre vem de algo, não é verdade? É filha, prima ou afilhada de já algo que existe. Tudo continua . TUDO. Até a vida mais mísera que vislumbra esperança, consegue abrir porta para o depois de morta. A loucura é a saída para quem demais deseja a vida. Não há nada que a possa matar. Se se pode matar a vida, é só porque quem a tem não a merece. Há além. E essa é uma certeza minha. É nova, tem uns meses, mas é verídica porque a sinto. Tudo o que se sente existe pela simples razão de que se dela tem consciência e vai além do “senão” alheio.

sábado, 4 de agosto de 2012


Aos passos minguantes
Amada nada por Lisboa
E eu entre o ela e o mundo.

Concreto para os outros
Sinto-me explodido
Pelo à deriva da pedra preta.

Por enquanto reina a beleza,
O sol de fim de tarde
E toda a não amargura
De eu a não pensar.

Que não consigo me aperceber de mim
Quando o mundo ou ela me querem.

E no precipício
De me não sentir
Em controlo de minha vida
Vivo a tremenda angústia
De mesmo assim
Existir e ser eu.

Entrou em conflito,
Meu mundo com o mundo.

Deixo as barreiras deitadas,
Espalhadas por aí.

Torno-me de novo
A ausência que sempre quis.

Tenho vontade de largar voo,
Ou correr até cair,
Qualquer coisa que tenha fim.

E, no entanto, aqui,
Estou aqui.

A vida é demasiado incoerente para comigo.

Simplesmente a não entendo.
Então me resigno
E me finalizo por aqui.

…é a única forma
De manter a arte/vida a brotar,
Brotar de mim.

Que culpa tenho eu de me deixar
Influenciar pelo clima do mundo?

É deixar passar,
Que o tempo passa.

Amanhã melhor?

Já o não creio.
No entanto mantenho
Uma qualquer fé misteriosa.
Uma que me sempre surpreende
Por mais em baixo que me sinta.

À noite o meu norte,
E na profecia da vida eu durmo.   

quinta-feira, 2 de agosto de 2012


Enquanto as flores brotem
Eu brotarei!

Fogo de asas de garganta alta.
O azul do céu
Não é nada
Ao meu violeta florescente!

Congratulo a águia,
Minha amiga,
E santo o dia
Em que parti desconhecido
Rumo ao conhecido desejo meu.

Há trevas por aqui.
Trevas densas que
Apesar de sorrirem
É sempre, ou quase,
Um sorriso pobrinho.

Adiante!

O Além me chama!

Conversas com deus
(Que sou eu dividido)
Viram-me para o cosmos inteiro.

Será que me ouves ó Neptuno?

Plutão, tu, apesar de mais longe,
Sei que me escutas a cada instante o coração.

Afinal, não sou eu escorpião?

Vou queimar as memórias de papel
E inaugurar o presente limpo e imaterial.

Renascer dos frutos incompreendidos
Pois distanciados do antigo meu eu.

Lembram-me “Elas”
O meu desígnio.

Ser mãe de tudo isto
E pai Delas todas!

Tem-se de esticar a vida
Quando ela, escassa,
Se revolta à nossa racional consciência.

A técnica é outra hoje.

Hoje existo-me.  

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

"A mulher é o ser que projecta a maior sombra ou a maior luz nos nossos sonhos."

Charles Baudelaire