terça-feira, 28 de agosto de 2012


Com um chão propicio à acção
As asas de quem é
São leves e, de verdade, voam.

Ao pé de mim
Guarda-se sempre
Um vazio extenso
Que me deixa
Ser tudo
E me olha com carinho.

Não sei quem me inventou
Mas fez um belo trabalho.

O único problema
É que não foi
Para o tempo em que nasci.

Assim tive de me desconstruir
Peça a peça e voltar-me
A montar, como se nada fosse,
Para poder ser cá fora
O que hoje sei que sou por dentro.

O meu corpo ou organismo
Não é mais limitado pelo real,
Já que sei actualmente afiná-lo
Ao irreal desejo da mente.

Se se acredita faz-se impossibilidades.

E se se as fazem
Então tudo sorri
Pois tudo está por nascer.

Quem vive raramente é,
E quem mais é,
É esse que está em contacto
Com a inexistência de si mesmo,
Isto é, a existência espiritual.

Não tenho qualquer medo de falar de deus
Ou de espírito
Porque sei-os hoje tão possíveis como
A impossível realidade que vejo com os meus olhos.

Não há medo no intelecto.

Olho e sinto tudo
E a vida para mim
É um divertimento brutal.

Que tudo é possível
Não tenho a menor duvida.

Se só vês
O que tens em frente
E o divergente que isso é a ti
Então és um ser triste.

A única maneira de ver o mundo
É vê-lo a partir
De dentro de ti.

O que isto acaba por dizer
É que mais do que ver com a mente
Se deve ver com o coração.

Deus espera-nos encontro.

Ele não fugiu.

Se o queres ver precisas de o acreditar.
É um dos truques geniais de deus…

Mas eu ainda lhe prego uma partida,
Pois concedo-me
A inventá-lo ao meu gosto.

(Já que ele não existe, não é?
Eu dou-me à liberdade de o inventar.)

O único mistério na vida
É não haver mistério nenhum.

A vida não tem medo,
Ela existe.
É o ser humano,
Coitado,
Que o guarda todo para si.

Pois de espiritualidade
Fez civilização
E de liberdade
Prisão.

Ele não suporta
O poder que tem.

Ele não suporta
A responsabilidade e prazer
Divinos que deus lhe concedeu.

Alguns povos antigos
Conseguiram viver com deus.

Nós hoje - coitados -
Nós hoje somos tão estúpidos
Que acreditamos poder ser deus
Nesta pequena vida mortal.

Já não me diz nada a cara desta gente
Senão a inexistência que são.

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