terça-feira, 26 de abril de 2011

Como escrever prosa se minha mente
Se confunde com a minha alma?

Como falar de coisas coloquiais
Se delas me brotam centenas
De plantas, algas e já imensas árvores de altura!?

Como recorrer a uma coerência de enredo
Se dentro deste que escrevo
SINTO 300 mais
Que pareço desprezar ao manter
A devida suposta coerência.

Que deveras me é, por agora, difícil
Escrever prosa,
Saber um enredo onde me mergulhar…

Talvez, assim, tente inventar um novo canto
Que me conceda,
Alma de poeta,
A escrita do dia-a-dia.

Profetizar o tão simples acto de andar
Em névoa de lucidez prática
E imparcialidade social.

Conceder-me a viver em arte nessa prosa.

Escrevê-la alta e terrena como?

É uma questão a pensar…

Sinto em mim possibilidade para tal
Sinto e é isso que faço minha vida:
SENTIR.

Sentir é o meu enredo, afinal.

Faço de mim dois
Enquanto o coração sente
Minha mente o vai sentindo e nisto
Faço de namorada/o a mim mesmo.

Aí está, quem sabe, a alma de poeta.

Incapaz de se julgar vulnerável.
Incapaz de aguardar auxilio exterior a si.
Incapaz de deixar o ninho de si
Podendo perder o chão no passo em frente.

Não.

Ah… a auto-suficiência… a maldição da salvação.

Irónico pensar
Que o que eu mais desejava
Era ser, precisando dos outros,
Aguardando seu auxilio.

Mas para quê aguardar
Se consigo não aguardar.
E nisto me vou, afinal, privando de auxílio
E me vou aguentando bem,
Bem junto a mim.

Nisto me vou afundando dentro de mim
E isso sim
Gera essa matéria cristal e sucinta
Que se chama poesia.

Essa que me faz seu refugiado
E de minha vida, sua.

Essa que hoje me sustenta.
Essa que me vai brincando,
Fazendo humor de meu corpo
E seu estado físico.

Porque eu, deixando-me ser mais ela
Não morro e todo o instante é universal, eterno.

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