quarta-feira, 6 de abril de 2011

Lembro-me dela
Quando de mim sai vida presente
E nu reflicto o passado,
Sempre estridente em mim.

Ela que já nem é quem vejo
Eu em minha mente.
Ela que se esqueceu de Portugal
Dançando o Brasil com seu sangue
Infantil de África.

Nasceu lá (em África)
Ou lá viveu em bebé,
Daí a ter amado.
Porque é chama em corpo de civilizado.

Conseguiu ela que
Gostasse mais dela que de mim.

E gloriosos tempos
Se seguiram a essa primeira entrega.

Não estava sozinho
E de me não interessar demais por mim
Fazia-me liquido artístico
Numa entrega constante
Ás mil e uma texturas do mundo.

O quanto estava eu vivo na altura!

O quanto hoje
Não lembro
A inteireza desse eu
Agora me tão distante.

Fiz dessa vida capricho
Em vários ofícios
Que de tantos parecem
Parecer que continuo tão vivo.

Mas no canto do quarto
Pensando o tédio do tempo
Me reconheço morto desse meu
Outro querido eu.

Dizia-lhe que era Fénix
Mas do abandono dela
Minhas asas se mais não se
Envergaram de envergadura
Máxima.
E vivo eu em sucessiva cinza
Esquecido até de mim.

Será que me pensas ainda?

Não como obtuso ser
Que te tanto entristeceu
Mas como fonte perpétua
De amor e esperança na vida?

És minha e eu sou teu
Até à cova
Ou te ver num outro corpo, continuação.

De tanto demais engenho no som da vida,
O Brasil te fez, com certeza,
Esquecer de mim.
Ou de tão distantes margens
Mais te lembras em precisão
Que estou aqui e ainda vivo teu.

Que me partilho com outras camas
Nos várias quartos por aí,
Mas nenhuma é tão salgada e risonha como a tua.

Presto-me numa
Tão desmesurada exigência
Que se, até tu, me aparecesses à frente
Recebias um insuficiente.

Fiz-te deusa de minha vida
Daí não precisar de religião.
Inventei a minha de directas origens
No meu, eu, sangue.

Aqui vives livre
E sei que te isso afecta a vida, aí no Brasil.

Não te esqueças minha querida:
Se te sentes leve
É porque em mim tanto danças e descansas.

1 comentário:

Unknown disse...

que lindo garci... sem palavras... muito lindo mesmo, sempre pensarei em ti.