terça-feira, 26 de abril de 2011

Na escada imprópria
Da casa dela
Jorrava sangue a baixo.

A penumbra da luz de lá fora
Entrava dentro em manto doce.

Ela corria persianas
Querendo deixar o doce
Lá fora que mais queria sentir
A amargura de agora.

O morto jazido na sala
Já cheirava mal
Mas ela o insistia presença.

Ficando sentada numa tensa pose
Olhava o corpo,
Sentindo a alma por aí,
Ainda que em só lembranças.

Veste uma veste simples, delicada
Corre o vento lá fora e aqui
Extrema hora de vazio, de nada.

E há uma vela que ainda flora,
Um tempo que vai ficando dobrando
O oxigénio de que se alimenta.
Gira a luz numa tão bela
Continua colheita de algo
Que se acende e se apagará
Quando for seu tempo.

Tempo esse que não respira
Com um morto no chão.
Que não respira a terra
Que o quer em tão sereno pousio.

Ela cansada não larga
O morto,
Pensa que ele
Morre se dormir…

É maluquinha, é certo,
Mas também tu
És maluquinho…

Capaz de assassinar
Por um tão pouco
De vida confortável.

Come e vê televisão
Cerca a mente de obesidade
Que não há em ti, também, mais emoção.

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