terça-feira, 7 de junho de 2011

Ah e o quanto eu queria ser um velho!
Fazer tudo demoradamente,
Ser julgado como um bocadinho
Louco tranquilamente.

Velho sim!

Não concorrer a nada senão à vida.
Ver falar os demais e ouvi-los com atenção
Descansado de não me pedirem opinião
Por ser velho e ultrapassado.

Ah sim velho!

Andar lentamente,
Darem-me o lugar no comboio
Ou autocarro.
Ter a desculpa de estar ensonado
Ou chateado porque sou velho
E ninguém, realmente, me quer.

Que maravilha!

Ver passar meninas bonitas
E já não ter desejo de as comer,
Ficar apenas imensamente enternecido
Por sua juventude e beleza.

Ser velho e distraído,
Nunca pensar no que vem a seguir,
A sério, já saberei que só a própria morte.

Tudo relativo quando velho,
Já tanto vivido…
Deixar e apreciar o viver dos outros.

Começar finalmente a respeitar o corpo
E seu cansaço e tempo.
Descer muito devagar as escadas
Num prédio sem elevador!

Viver uma vida de sonho em casa
Que ninguém procura
Ou quer saber
Porque sou velho e chato.

Fazer de cada tarefa um ritual
Porque sou velho e lento!

E virem uma vez por mês
Os netos e filhos e lhes
Dar todo o amor que antes não quis
Porque depois eles vão embora
E já não me querem.

Fazer tudo com o máximo de valor
Por saber perfeitamente
O pouco valor que tenho ou que isso tem.

Viver feliz,
Imensamente feliz
De saber ser pequeno e substituível
Por um brinquedo ou um doce.

Viver sozinho, de minha velhota
Amorosa morta de tensão alta,
E tê-la sempre em espírito
Pela casa e o dia-a-dia da rua.

Viver antes da morte já a eternidade.

Há de ser bom ser velho!

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