terça-feira, 7 de junho de 2011

Sou só feliz quando deixo de existir
E fico um apenas
Receptor do mundo e do que penso.

Ter meu corpo arejado,
Deixar passar por mim
O vento amado que me renova
A cada assobio.

Tenho de me largar,
Deixar-me ser, afastado
De qualquer absurdo real
Que me ligue eu à minha vida física.

Não sou nada neste momento,
Sou só o estar.

Não tenho nada que me ouse
Conhecer,
Assim, me desconheço um tanto
Para me voltar a conhecer novamente.

Olhar o mundo
Com os olhos do espírito
E respirar o fundo do vazio
De não ter de estar a ser.

Fantasma, estátua, vento, energia
Quero-me total.

E chamam-me ali
E os não reconheço.
Estou além
Lhes digo
E eles riem
E eu escrevo.

Anoitecer-me com ele,
Céu azul, que negro daqui a pouco.

Respeito a ordem
Que de mim vai fazer mais um morto.

Olhar em força para o nada
Que me encanta,
De quais vozes femininas
Que o não são, e me leva à razão
Plantas e flores
Que querem passar daquele para este mundo.

Sou um ouvinte.

No outro, humano,
Sou um furado falador.

Entendo tudo isto
Como uma maldição que tenho de ser
Para equilibrar a salvação
Que por mim quer passar.

Olho e não tenho inimigo
Nem desprezo,
Aceito.

Acarreto as consequências.
Porque não?
São elas até belas
Se as sabe porque razão.

Olho o tecto de meu caminho
E ele já não o tem,
É infinito.

Sair da dose de sangue
Para ser só energia,
Além matéria ou pó,
Espírito!

O piar do pássaro é o que sou,
O vento forte da praia também.

Arte em matéria quase física
Porque ouvida pelos sentidos.

Emoção feita corpo
Desagrada
O corpo meu.

E há uma entrada
E de saída se tem de descobri-la.

Chamas as não há,
Nunca as houve.
Só um incentivo à tristeza…

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