terça-feira, 7 de junho de 2011

Num tempo de uma vida passada
Meu tempo se desembrulhava
Em cadência que não suprimia qualquer surpresa.

Era eu menino
E já me pensava homem.
Não como o meu pai
Mas um outro que até desconhecia.

Eram tempos de angústia
Porque o mundo gritava já
Seu antecipado fim
E eu no meio daquilo tudo
Já sabendo da “continuação”
Ficava confuso.

Tempos que não respiravam
E se prendiam
Não em memórias
Mas em certezas
Que não tinham sangue,
Não tinham vida.

Então lá vivi
Enquanto não vivia cá fora.

Quando me chamaram
Ao recreio
Foi com uma mão de amor
E assim pareceu recreio mesmo,
A vida.

Tempos em que o salto
Era bem mais fácil que o andar.

Tempos giros
Que regados a sangue,
Até de menstruação,
Afirmavam certezas.

Mais certezas…

Tive-as já muitas…
Hoje elas logo que recolhidas
Me caiem pelos calcanhares
Fruto de bolsos que furei
Por traquinice.

Quero certezas longe de mim
Que as já não guardo
Em nobreza.

Quero o som do afecto
Que roga vontades
E nervosismos de atenção.

Quero essa estranha
Aversão ao que parece ser.

Quero, hoje, apenas sentir
E recolher as dúvidas
E delas me cingir
Súbdito a as aprender.

Quem sou eu para privar
Minha vontade
De ver meu espírito
Vivo em realidade?

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