terça-feira, 7 de junho de 2011

Houve um passo que se não ouviu porque ela estando triste, antes de se fazer parecer queria desaparecer. O suicídio é muito doloroso, pensava ela. Chega aqui! Onde andaste ontem? No quarto. Não te ouvi! Não fiz barulho…
Esteve o dia todo a chorar, lembrando o outrora, aquele semblante de alegria em arte que fazia da vida simples e mera plataforma do sonho.
Agora triste e de seu pai carente, dá essas ultimas suas forças a ele, viúvo.
Sua mãe morreu à um ano e seu pai nunca mais saiu de casa. Manda um miúdo fazer os recados e trazer as comodidades para comer, viver. Lá fora dizem que o velho está doente mas ela sabe o contrário: está louco mas não doente. Se fosse artista era um homem feliz de sua infelicidade, assim só é infeliz.
Vou à rua ver o mar, diz ela a si e depois a seu pai. Ele não responde, está só atento à televisão. O mar bravo e insensível dá-lhe voltas à mente e di-la fraca, fraca idiota que se não suporta. Ela chora uma vez mais e volta, não para casa mas para o café. Pede um copo de vinho branco, que faz calor e fica olhando as pessoas passar, o tempo a estar e a ir mas sempre ficar. Ela sossega finalmente sua mente, compreendendo que o que é sua vida é relativo quando há e se vê tanta outra.
Passa a Antónia: Há tanto tempo que a não via. É, tenho estado por casa a descansar, o tempo anda virado. Pois é, é verdade. Olhe como está seu pai? Está bem, está bem, ainda um pouco abatido de minha mãe, mas se Deus quiser melhora para o ano que vem… Mas está doente? Não, não, apenas abatido, sabe, triste, infeliz. Ah sim, ah sim.
Bom tenho de ir indo que a Isabel combinou comigo agora as 16:30, até à próxima. Como está a Isabel? Ah está bem, vai indo. Está bom até amanhã, se deus quiser Antónia. Adeus, adeus.
Com esta supérflua conversa ela se encontrou descontraída, bem-disposta mesmo, que muitas vezes quando se está escondido dentro de si o melhor é conversar sem qualquer conversa aquelas coisas de hábito, que já se sabe o que se vai dizer, ouvir e o prazer é ver falar, ver faces e gestos a dançar, pequenas interrupções e nervosismos, mais pequenos prazeres momentâneos que surgem de pensamentos que se esquivam desconhecidos à conversa. Assim a mente fica só prática e entendida da vida que se quer vivida.

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