quarta-feira, 4 de maio de 2011

25 de Abril?
Coisa tão distante…

Ontem fui eu a Lisboa
E pouca alma lá estava
Reconhecendo 25 de Abril.

Como gritar esse dia feliz
Se hoje ele é
Sucessivo refutado
Por um cariz prático e pragmático?

25 de Abril foi crer em vida.
Um dos poucos acontecimentos poéticos colectivos.

Hoje há-o tão pouco espaço
Para a poesia
Que a única válida
É aquela alérgica ao dinheiro.

25 de Abril é hoje
Mas pelas ruas mais turistas
Que os donos da cultura do país.

Cria antes ter vivido esse 25 de Abril
De meus pais…
Mas hoje mais me interesso
Por este meu tempo
Que já não tolera demais sonho
E quer só a efectiva resolução, acção.



Que quem leva na tromba
Sempre os pobres
E a pequena e média burguesia
Só mais divagantes ficam pensando tristantes…

Os da alta casta
Tanto (de si) matam para nela se manterem
Que crise esta não os afecta.

O dinheiro não dá sossego.

O vagabundo vive a verdade
Por mais que decadente e sofrida.

O rico vive, por excelência,
A mentira pois o dinheiro
Entra numa e qualquer conversa, acção.

O dinheiro é mau
Necessariamente porque
Não existe no meio natural.

Quem hoje pode-me dizer
Que não sente inveja de uma gaivota
Que voa e para isso não precisa de licença
Ou carta de condução?

Que estranho é hoje conceber
Que ainda, entre nós, vivem animais
Que não pagam impostos nem sindicatos
Apenas comem, dormem e procriam,
Enfim, apenas vivem.

Estamos completamente loucos
Nós seres humanos
E isto que acabei de dizer é facto disso.

Diz-se que a única certeza
Que se tem é que se vai morrer.

Os animais vivem essa certeza como a verdade!

Nós, humanos, inventamos mentiras
Bem contadas para fugir a essa certeza
E assim Deus abandonou nosso corpos
Nos reduzindo a trabalhos forçados…

Quem de nós, hoje,
É inteiramente orgulhoso e sábio do seu bem-estar?

Ninguém!

E até perigoso, hoje é,
Sentir “essas coisas”
Que logo alguém nos lembra que amanhã
Temos trabalho
E para a semana temos de ir ás finanças!

Para mim
Corpo que vive de espírito
Virando poeta
Essa constatação é geradora
De uma enorme desilusão diária.

Aquela coisa do pecado original não é?

Obrigam-nos a ter suas doenças
Esses castos de religiões de ouro!

O ouro não alimenta
E o pobre sabe em carne-viva disso!

O rico é que nos dá esse pecado parvo
Para que possamos ser bons servos.

Quando é que o ser humano compreenderá
Que é enganado pelo seu semelhante endinheirado,
À nascença para disso gerar dinheiro, produto?

É que já chega de nos comermos
Uns aos outros!

Nem compreendo como a Natureza tolera
Esta nossa raça
Que com dinheiro se tanto apalermou.

Enquanto o rico gera riqueza
O pobre gera arte, alegria e conhecimento.
Aí está o ciclo “vital” da civilização.

(Daí isto continuar…)

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