quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vida aurora pronta. Sentados na luz da memoria, meus amigos e acontecimentos passados sempre presentes acompanhando-me a fustiga luta que se torna, aos poucos, a vida adulta. Tão mais fácil seria ser cínico e inconsequente, perdido na inconsciência de ter consciência própria. Sou mais calado do que devia e vivo bem menos do que devia. A propósito disto direi que me preservo como um rei mas não será isto não mais que cobardia? Só o tempo dirá. Há espaços em branco e amanhã serei outro. O parar é a antítese do que me possui e assim resisto ao que posso, dou-me a quem me dou porque recebo deles o que quero. Amálgama de vida solta, medo de pousar responsabilidades num meu não-lugar e pré-dizer futuros quando nem o presente consigo ter em mão. Porventura, sentado na estante da sala, eu perscruto o que viveria se houvesse aqui mais que a minha vida, mas pareço lançado no coração do órgão máximo da desilusão: Cérebro. Lançado em tão pérfida mudança civilizacional em que o ser cínico é a ostentação… Poderia me, enfim, esquecer disto e lembrar-me apenas que o tempo não é nada mas uma memória que se ganha dele por hábito e palermice.
Que me sinto um com a vida e a criação.

Vivo como que eterno pois tão centrado no que sinto.

Se tiver que ser, morrerei jovem
No limiar de me acontecer.

Sem pena vou para a frente,
Reconhecendo que sei o que sei
Porque me cumpro sempre no que serei.

A vida é tão bonita,
E mais a sinto
Quando incompleto vejo o completo
Que é a vida sem mim.

Tudo isto…tão bonito.
Entre o dado esquecido e o encontrado,
A espera de paciência que forma
O pequeno homem em aprendiz de sábio.

Silencio na sala de estar
Porque o povo saiu à rua para discutir
A diversão com aversão.

Colho uma cerveja do frigorífico
E fico me a olhar o silêncio
Como se ele matéria-prima da criação.

Lembranças encantadas em solidão afunilada
Pela pacificação minha de directa consequência
Dessa consciência altiva de me enojar minha aparente burguesia.

Espaço ao certo quando fecho os olhos
Engulo e desapareço
No magnifico incerto da imaginação.

Recrio passado para viver o recreio do tempo livre
E olho e creio que tudo é belo
Porque aqui não estou para ver o feio.

Parar, para escutar o avançar.

Depois, além do além a conquista.
Mas essa, além bela,
Não me espera só me inspira:
Sou seu servo,
Seu discípulo,
Seu crente.
Nem triste.
Estou em parte morto,
Mas um morto optimista
E produtivo
Amigo de seu amigo.
Cortamos pétalas de flores não nossas
E de memorias fazemos filmes de Hollywood.

Maçada a vida burguesa
E maçada a solidão forçada
De quase todo o meu serão.

Haverá estrelas no meu caminho.
Por muito que poucas
Serão e sendo,
Eu as verei reflectir em mim
Futuro que creio já neste passado
Que de momento é presente.

Tenho os amigos todos no chão,
Confusos e em senão.

Eu que me há tanto habituei
A contradizer meu desejo
Para desfrutar da infinita arte,
Fico como que não sabendo
Ao certo o que dizer.
Porque dizendo conselho
É errado
Que conselho eu só o sei o meu.

Um está na rua em Paris,
O outro sem trabalho no funil do amor
Assim-assim,
Mais amado porque temido mas facilitado…

A outra mandou-me agora mensagem
A dizer que ainda cá
E não lá vai no futuro próximo.
Que está farta da família e está sozinha em casa
Com os pés na areia dessa praia Algarvia.

Os outros dois estão longe demais
Para saber estes detalhes,
No fundo, superficiais.

Tenho a arte
E a arte é casa primordial
Desde que a sejamos,
Sacrificando nossa interesseira vida
Pelo bem maior da criação.

Tenho a arte e por isso me não queixo.

Há que negar o que se possa
E há que se resignar, para compreender
E assim evoluir, ao que se é, sente.

Há amor em todo o meu pensamento.
E assim me cuido só,
Respirando o infinito em que me proponho mergulhar
Nesse não fim, de no fundo saber,
Que não se está bem aqui.

E o quanto eu adoro
Na solidão da rua ver verter de mim
Pensamento e sonhos…
Sentimentos?

Ou no oposto:
Ver-me aberto ao receber
De um livro seu íssimo projecto!

Não tenho nada a dizer.

Viver é a minha sina
Seja ela o que tiver…
Vasto mundo me enaltece,
Faz-me esquecer que sou
Para te ser intrinsecamente.

Até hoje fui eu
Agora quero ser teu.

Que me leves pelas encruzilhadas dúbias da vida
Pois quero descobri-la.

Já vivi meu mundo
E hoje sei o longe que posso nele chegar.
Assim, perdeu a graça para mim,
E quero enveredar por onde não sei
E consta que ainda não sou – Mundo.

Portanto leva-me que te serei
Mais que eu, teu, ó belo mundo!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O medo de ver coisas a passar
Minhas
Sem eu lhes ter mão.

Contínuas coisas de mim
Que saem
E voam ao encontro teu
E teu.

Quem sou eu?

Não me conheças
Pois eu não me conheço.

Abro portas
E não me responsabilizo.

Falam tortas
As noticias de agora
E lhes digo, enfim,
Há além e há a memória,
Desculpa-me mas tu,
Ó agora, não existes.

“Vistes”? Já passou…
Passa o tempo de descuido,
Abrange a espada do desespero
Em vontade de matar interior e anterior
Quando é a pressa de viver
Que me sangra inocência.

Amanhã haverá a descrença
Pois o que acaba
Cansa de conclusão
Mas hoje há o espaço de conceber
A guerra, o sonho.

Quietinho no canto de outrora
A febre gera alta comunhão
Que esquece corpo e fala
E voa alto a crença em nada.

Jubilo de puto que lembra
A morte com um sorriso.

O velho que era e que serei,
O jovem terno que me tornei.

Só quero abrir os braços
E agarrar alguém
Mas sempre me
Fujo para onde quem há
Já tem ninguém.

O calor do druida
E a secura da puta
Que me comeu a fecundidade!

Nojo à autoridade palerma
De tromba flácida que me lembra
O meu pai.

Descuidos de felicidade
Esquecem-me no canto da janela
E não mais me vejo com ela
E tão pouco com alguém que me seja
Alguém.

Gero o tempo com disciplina
E a minha vida é uma guerra acesa
Assente em aparente passividade.

Gosto dos falhados e dos tristes
Por os poderem ser…

Eu por ser eu já me resolvo em conquista.
Tenho o poder de não ser.
Portas altas de silêncio
Resolvem-se a falar em monólogo
Enquanto eu vou ali e já venho.

Tarde,
Cheguei tarde,
Já as portas eram árvores
Que engoliam o céu em verde.

Caminho perdido.
Recomeço a falar com o vento
E com aquela pouca gente que passa.

Então de uma calçada imensa
Vejo sair de mim
Um cavalo medieval
Que me fala num perfeito português
Onde me quero eu digerir.

Tusso de espasmo, vergonha
Ou intelecto magoado e
Digo que pode ser ali já à frente
No café do Jeremias.

Ele,
O cavalo,
Diz “certo” e me leva
Ao colo enternecido
(eu, eu enternecido!).

(Calculo que o não vêem,
O cavalo…)

Lá chego ao Jeremias.
Ele cansado oferece-me,
Pagando eu, o almoço
E de fome ao alto
Ataco o prato
Que se desvia de minhas garfadas.

Hoje, já compreendi isso
Desde o cavalo,
Nada me surpreende
E assim o apetite
Mantém-se soberbamente voraz!

Peço a conta
E é negativa,
Ao que me pagam a mim
Uma quantia desconhecida…

Vou para a rua,
Talentoso da minha surpresa ser relativa
E corro ao rio,
Sim,
Apetece-me ver o rio!

Quase que me salto ás suas águas,
Agora quase limpas dizem os jornais,
Mas me gritam delas
Soberbas labregas sereias
Dizendo que não,
Não posso lá entrar!

Agora sim, um pouco confuso,
Retraiu-me e me reprimo ao ponto
De ter quase uma indigestão
Mas salta-me um macaco à vista
Com uma bandeja de prata na mão
Ostentando um tão me
Merecido “digestivozinho”,
Que o tomo
E me logo sinto bem.

Vejo o sol cair à água,
Angustiando-me de imaginar
Ele a se afogar
Mas depois me lembro
Que ele amanha renasce tão bem também.

Fantástico!
Palmas!
Grito urros ao vento enquanto essa,
Agora, tanta gente me crê louco!
Enfim silêncio,
Parou tudo.
Fica lá atrás o mundo
E eu canto
A mais doce solidão
No cumprimento sensato
De minha missão.

Vou ao teu encontro
Porque vou ser
E sendo
Sei que te verei ser,
Como eu,
Mas mais como tu.

Adeus tempo de memórias
Olá tempo de acção.

Vamos progredir
Por onde houver a ir
E o resto não é,
De facto, da minha conta.

Sou um corpo,
Uma vida,
Faço deles uma disciplina
De sonho pragmático.

(Uma prece escondida
Em dias que ainda
Não eram meus,
Eram menores,
Porque era eu de alguém.)

Sozinho no espaço
De me entender disso,
Os fracassos têm um só tempo
E esse já passou.
A vitória é uma certeza
Pois tem que a ser
Para os pés andarem com vida
E não porque tem de ser.

Aurora ainda escura,
Amigos longe e tantos
Desconhecidos ainda…

O futuro é a minha promessa eterna
E insensível
Pois não existe.

Falar de calma ao mar,
Sangue na acção.
Colher das ruas
Essa já nossa comunhão
E despedir-me de tudo
O que não sou.

Para sempre haverá,
Para sempre…
E lembrando-me do que sei
Me esqueço.

Perdi o consolo de puto
Que tenta ver o exterior
Para se definir.

Vou inventando e caindo
Vendo o que é ou será
Enquanto vivo.

Amanhã posso cá já não estar
E assim faço do dia-a-dia
A procura de um outro meu lugar.

Vivo a fugir
Porque me minto
De ter forças
Para isto de aqui.

Não há tempo para muito nesta vida…

Seremos breves e evoluamos!
A minha tristeza é tão feliz…

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O diabo sobe à cruz de madeira
Pedindo socorro
Ao homem que lá se empoleira.


Traçadas as vestes de escárnio
O público assenta-se,
Noite dentro, a propor
A morte de alguém.

O cão ladra,
A bruxa se esconde,
O degrau desce e a ponte sobe
O degrau que descia.

Fica-se tenso quando
A cabeça rola o chão
E o corpo (sem cabeça)
Se estende ajoelhado
Como que pedindo perdão.

Mas é noite de festa
E faz-se de almas
Palmas e o que se sucede
É mais um corpo a abater.
Que me passam tortos em cima e eu não me sei como levantar. Sempre cogitado em terras que não têm nome, nem chão. Faço de meu leito solidão e molho o pão de minha emoção actual em niilismo espiritual. Sabe-lo tu de mim? Perdido nos confins de minha mente arbitraria e seguido por uma cobra de horror mesquinho que sozinha me condena eu a a ser. Que de noite invento o dia e de sofrimento o renascer do sonho morto (porque tinha que morrer). Pegadas de um cão que de ladrar não teme mas comer ou morder também não. Palavras encantadas por uma lembrança cheia de caril e malagueta acesa em explosão que faz o tempo esquecer de si para se reacender em bebé velho que chora sorrindo a coragem de viver vencido o caminho que por certo é vitoria da nascente eterna! (Falas demais ó pato dos pardais!) Sincera desmedida e intrínseca maligna fera de me querer eu – EU – feliz fora tudo o que é pequeno e pequeno e passivo e pequeno e… Suo dor de vida para que de me dentro reste o calor de me encantar com sonho meu de viver vida única que acredita em mim e eu nela. Espécie de narcisismo perverso ou absorto mas como de base o amor é deus, vive, e vivendo se faz a luz crescer em ser mortal que morrerá!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Tive uma visão hoje.

Aquela visão de homem santo
Que sente que seu coração
É telefone directo a Deus.

Visão essa que durou
Uma eternidade de “vá lá” 1 hora
Enquanto andava de bicicleta.

Pareço ter o poder
De inverter a realidade
Consoante a minha vontade.

Visão essa que lança o espírito
Para o além vida,
Pagando portagem à morte
Recebendo dela
Sua enorme serenidade
E descrença de medo.

Visão divina, sim é isso.

Deus é um estado de espírito.
Deus é entrega à vida.
Reconhecendo que a morte é sua irmã
Portanto continua a jornada da existência
Em família.

Visão que me faz crer que sou um privilegiado
Nisto de sentir e nisto de viver.

Visão que me faz humilde
À força que tenho
E sábio discreto
Aos olhos do humano.

Tive uma visão hoje
É verdade.

Tenho-as tido,
Ao longo do caminho,
E são-me tão plenas
Que me pergunto
Se não serei o Jesus dos tempos modernos.

Coisa parva e cómica
Mas o sinto
Muito serenamente
E como é sereno
Que o sinto
Não é sentimento meu
Mas duma luz
Que em mim passa,
Uma luz que parece gostar de mim…

Tenho a certeza que deus gosta de mim
E quer muito de mim,
Porque lhe sinto sentir-me
E como que fazemos amor
Pelo telefone do coração.

Em terra de Deuses
Como se fala com o coração
Está-se sempre a fazer amor
E o mais curioso é que não cansa,
Aqui ninguém dorme,
Imaginem só (ó daí!).

Falo casualmente
Para que com risos exteriores
Permaneça a serenidade
De vosso coração
Calada,
Sentindo.

Sei que vós humanos
(e falo para meu humano também)
Têm medo do eterno,
Sereno de amar,
Que aceita a morte como a derradeira entrega.
Portanto falo com boa disposição
E a liberdade que me conheço
De ter o dom, e o prazer,
De amar como deus cria:
Eternamente.
Ténue é a linha
Que me liga à vida.

Ténue é a linha
Do meu caminho.

Ténue, muito
Muito ténue…
Tempo redescoberto em minas
De acesso limitado
Às que se não paga com dinheiro
Mas solidão.

Trabalho os cordões de meu são
Em loucura intelectual
Que me solta solto pelas partículas do universo
Em estrada de sorrisos e choros.

Caminho por mim.
Faço da vida um feito
Porque sei o que lhe quero
E o que ela quer de mim.

Um espaço por ter,
Um espaço que se longe de mim
Fico por ser.

Ser um pouco o sol
E o vento,
O silêncio certamente.

Mas regressa o encontro
E surjo eu de novo corpo.

Muito bem,
Se é por aí que sinto
É por aí que vou.

Cansado de me queixar
Ou sempre relembrar fracassos e raptos.

Não.
Hoje sou só eu
E se me chateia algo,
Só me ali, onde foi, me chateia
Depois caminho e tudo volta ao sitio.

Porquê ser moinho do sofrimento
Quando se o pode ser do sopro da vida?
Tanta coisa que podia ser e não é.

Coisas todas juntas
Mas por dentro separadas
O suficiente para não ter de ser.

A coisa parva de nos olharmos
Buscando encontrar o que de encontro
Só há cá dentro.

E em silêncio nos assustamos
De pertencer ao mesmo
Querendo tão menos mais
O que podíamos ser
E por medo não somos.

Falar alto e dançar o ar
À pedra filosofal que é a calçada da rua,
Noite lisboeta,
E sangrarmo-nos em sorrisos excessivos.

Lembrar que a criança éramos
E de adulto o tempo e o hábito,
De almoçar ali e aquela hora,
Fez-nos desacreditar que amanhã não existe
E por isso possível é de o inventar.

E cansamo-nos nesta coisa
De ser correctos e satisfeitos
Enganando a vida
À morte de a esforçar
Para ser simpático
E preservar a calamidade
De nos dizermos democráticos.



Abrir a porta para a rua
Pisar o chão do presente com estilo
Dançar enquanto correm eles.

Iluminar a noite
Com um sorriso implacável de ser sincero.
Tragar a infelicidade alheia
Como uma especiaria
Que o prato principal tem-lo tu.

Orgiar as emoções
Em tentáculo largo
De desejo que lá no alto,
Onde os ventos são tempestades,
Grita a certeza de um amanhã
Já hoje presente.

Ah sim!
Mandar à merda a merda
E saudar a alegria de sermos um
E havermo-nos muitos.
Por baixo do lençol o segredo
Guardado em tarde de serão imaginada
(como que acompanhada).

Setas altas a passar por ela
Lá em cima
E cá em baixo
A dor de as tão ver assim largadas
Sem ninguém para as deter, possuir.

A largada da noite
Está lá fora quieta e silenciosa.

Ela vai à janela
Ver o dado sitio que a sente
Agora tão infeliz e descrente.

Dentes com fome e lábios de sede
Chegam a conclusões dúbias de realidade
(que não seja estridente).

Vive eternamente
Neste solo infértil
De em tanto crer
E tão pouco ter.

Volta à cama
E toca-se onde há luz.

Sorri e goza por momentos
(só, sozinha).
Quero tudo.
Nem muito
Nem pouco
Tudo.
Tudo sim.
Tudo é bom se se deseja o todo de tudo.

Se cai mal
Largar ali ao lado
Que a outro pode
Ser a solução.

Bocejar alto para fazer rir
A criança que é ela ali velha.

Tratar o António pelo nome,
A Maria por Maria.

Fazer toques de bola
Com os afectos que me afectam.

Falar bem e cuidado aos amigos
E falar mais que mal
Aos velhos descrentes que nos fizeram.

Saltar a vedação da nuvem alta
E olhar o céu, em dor de atenção,
Voa-lo em mente pela fé do coração.

Tentacular o individual
Para querer e crer e ter e ser e saber de tudo e todos.
Que tenho pressa de viver
E a morte tem-me inveja
De lhe ser filho legitimo
Mas tão mais amar a vida.

Voa, voa ó alta ave que me possui!
Que vontade tenho eu imensa
De te dizer ao ouvido
Se não me queres amar
Ali na esquina
Desta rua nocturna.

Porque estou sozinho
E tu sozinha
Se juntos inventávamos
Um só caminho
Tão mais completo?

Minha querida
O mundo anda louco
Mas nós somos sãos!
(vejo-te nos olhos e nesse toque
Carinhoso ao teu amigo).

Anda, dá-me a mão sim,
Temos muito a falar ali na esquina.
Vem, eu cuido de ti,
Aqueço-te a alma
Com meu falo espiritual.

Vem meu amor,
Vem que eu quero só estar contigo agora
Que amanhã é outro dia
E eu tenho pressa de viver.

Cuida-me também
Se assim o quiseres
Que eu sou uma criança velha
Que nada a sabedoria
Em honra tua.

Falemos também, porque não?

Falemos sim
Que falando nos entendemos
A nos largarmos mais e mais
Pelas teias salgadas do amor carnal
E sinceramentemente sexual.

Quero mergulhar em ti
E não mais voltar ao meu corpo sozinho.

Quero ter-te como ponte ao mundo
Que desejo amar mas (ainda) não amo.

És a chave para ser eu
A essência da minha fala
Que de anterior pensamento
É fala espiritual.

Sempre vivi para ti sabes?

Sempre, minha querida,
Sempre vivo eu
Para te agradar.
Tu ó mulher fértil que me ataca o coração
Em canção de beijinhos e carinhos.

Vivo para ti
E só para ti
Vem-me amar então.
Por vezes fico-me a ponderar o porquê de se fazer a vida difícil. Digo isto porque eu próprio a faço difícil para não ver o difícil que ela é, podendo não ter de ser… Acho que nisso sou como todos nós: dificuldade ou incapacidade de me confrontar com a verdade que é a minha vida e não necessariamente aquela em que estou inserido actualmente. Viver é coisa complicada porque mesmo que saibamos parte da verdade, ainda vivemos em sociedade e nisto é impossível, ou quase, manter coerência no nosso caminho da verdade. Ser eu, ser o que sinto como meio, pois o fim só andando se vai vendo. Com certeza que posso supor, imaginar e conceber a vida estando parado, voando pelo pensamento mas isso nunca será o tudo que somos num só.
Imaginemos uma folha branca, virgem e escrevendo-a vivemo-la ali e asseguir o corpo e a mente dizem que se lá já não está. A folha fica legado para relembrar ou para lerem outros, se for boa ou mesmo se assim não for. Mas deixando a folha por escrever e ir viver o que nos sacode a mente era um legado bem mais digno porque deixaria menos lixo e se conceberia a existência de corpo, mente, espírito como um só. Claro que quando a mente está cansada dos fracassos e infortúnios passados, já tem pouca vontade de os ter mais um e assim, muitas vezes, esse ser que tanto tinha a viver começa a escrever essa e, quem sabe, muita outra vida que não iria fazer se só vivesse a vida desse mesmo corpo que o possui ou possui só(depende da perspectiva).
Todos desejamos viver à força toda mas quase todos não sabem porquê; porque é o instinto que os faz resistir, sobreviver. Tendo o homem e a mulher um universo único no cérebro, é estranho que siga cegamente o primitivo instinto. Os seres humanos acabam por ser mais selvagens que os animais pela simples razão de poderem o não ser.
Que de encontro chego atrasado
E compenso em por isso fazer
Toda a minha vida de momento.

Tempo.

Tempo que passa e eu não corro atrás.

Dou largas à entrega
Mas a entrega com rédea sim
Porque o que creio de mim
Sempre mais importante
Que a própria vida
Sei não bem porquê.

Mas sim
Vou contigo e feliz fico.
Estava sozinho e os monstros meus
Ganhavam-me vozes outra vez
E eu resignado a isso,
E tanto de tudo mais,
Fiquei prostrado
Envergonhado de existir
Até te ver
Tarde
Chegar.

Chegaste e me logo alegrei.
Não porque me dás algo
Mas porque tanto recebo
Naturalmente de ti.

És eu de Paris,
És eu!

Talvez daí não te conseguir ajudar à vida,
Sei-te só aconselhá-la.
Mas isso serve pouco
Senão nada
Quando se nem tem uma cama onde dormir…

Sou um mau amigo,
Uma má pessoa meu querido?

Ah, quem sabe, talvez…

Não faço por ser digno a um
Mas ao mundo.

É parvo eu sei
E inseguro também
Mas é o que sou.

Será?

Desculpa-me a indelicadeza
De te ser tão insensível à tua situação.

Mas se queres que te diga
A verdade é que
Como tu és eu
Sou-te tão implacável
Como para comigo.

Não me tolero a fraquezas
Ou incoerências.

Não há razões, há só maneiras de ser.
E eu vou sendo não o que sou
Mas também o que vou vendo.

Distribuo sorrisos, alegrias e amores
E deixo a mim toda a minha devida tristeza.
Que só eu sei dela
E só eu a sei mudar
Para vontade de criar.
Que me tens em figura altiva
De teu sentimento
Como mestre de um qualquer
Mestre oficio de ser “eu”.

Danças em mim
Sim
Por vezes
Mas são só vezes
Dentro do muito de nos aparecermos
Juntos à realidade.

Que te hei de fazer?

Não recordo ao certo
Como ser só português…

Hoje sou diverso,
Não necessariamente complexo.

Averiguo calado por aí
E me tens de seduzir
Com conversas muito tuas
Ou estrangeiras.

E não é arrogância
Pois vou com o vento
E se estou alto
Não é por mim mas por ele.

Deixo-me levar em tão enternecido
Encanto de hoje me bastar
O (tão são bem) estar vivo.

Não nego, nem renego,
Fico.

Mas é um ficar
Que parece estranho
(a quem vê)
Pois só meu corpo aqui é.

Eu sou uma divergência,
Um erro canónico,
Uma inequação que resolvo
Em certa e determinada equação.

Forças da vida
Aliadas ao tempo
Tomaram posse em mim
E já não faço questão
De dizer sim ou não.

Vou, estou sempre a ir
Mas parece que aqui estou.

É complexo também para mim
Daí fazer da minha vida uma ode
De disciplina ao oficio de ser “eu”.

Tempo passa,
Olhos passam,
Eu fico e olho.

Não faço questão
De ir (em corpo)
Que já vou demais quando fico.

Uma horrível auto-suficiência
Que muitas vezes é tão bela…
Por vezes em vestes de promessa crescida
Eu volto à criança que sorri pateta
O cão que passa,
O sonho que fica.

Ao lado da porta do fim da rua
Uma árvore amena
Que não conhecia.

Regressado a memórias
Que esqueci,
Folgo em saber que foram minhas
Mas em tempos de longe
Do que já (ainda) vivi.

Sangra a bandeira do país.
Seu dono enlameado em “coisas de agora”
Que o ecrã diz.

O agora é pouco interessante
Quando é o ontem que se descobre
Com o tempo de hoje.

O presente sente-se hoje,
Sabe-se amanhã
(mas só se se quiser).

Não me recordo de gentilezas
Que não sinto…

Faço o que digo cá dentro
E a realidade e o tempo
Que se acanhem.

Todos temos um só tempo,
Daí não haver sincera sintonia
Fora do amor que aliena.

O bom é estar sozinho mas contigo.
Não partilhar até o sentir brotar de dentro.

Fazer do conjunto um monumento,
Diverso e complexo.
Não uma manada de corpos
Mas uma debandada de sonhos.

Não acredito em ti
Mas acredito em mim,
Daí acreditar em todos nós.
De madrugada apresso-me a te vir ao encontro. Não estás, aguardo 10, 20 minutos e chegas atrapalhada e desassossegada. Falamo-nos afectuosos e entramos, o cinema já nos espera. Lá dentro a tua dança começa cedo dentro de mim e a noite da sala faz cintilar meu sangue em quente calor que só te quer agarrar. E é um bom filme mas tu és melhor! Falamos um pouco, nos tocamos mais e vais com a mão a sítios que me dizem “basta, temos que ir para um quarto, que isto aqui não!” Logo te chamo à atenção a minha conclusão e tu me lanças um daqueles sorrisos segredo que te trazem nua e aberta ao meu pensamento. Portanto, fora do cinema, ainda na rua, minha ou tua casa te pergunto. Dizes-me tu a minha porque a tua tem senão. Lá vamos, já a correr, loucos de prazer, que o acto da concepção, embora que não conceba, não tem sala nem fila de espera, tem pressa de acontecer. Logo no elevador quase metemos a boca onde alarma o publico, em publico, se houver publico. Abre-se a porta e abro a outra minha porta com aquela desorganização própria da paixão. Entramos e ninguém, nem um só barulho. Sozinhos nos comemos sem fim, por fim, desejando que toda a vida fosse assim, nós dois espalhados soltos e perdidos em sentimento e emoção feitos físicos do carnal sexual.
Todo o meu gesto procura o encontro.

Na sombra de um dia turvo em alcoolemia
Eu vejo e sinto a paisagem de pássaros
A me fazer esquecer
Tudo de ontem
E mesmo de amanhã.

De que vale a vida
Se não me encontro onde estou?

Promessas descabidas
Em cara de bebé Tristão.
E nisto estou aqui
Firme de meu cansaço
Virado sabedoria
Que de musica voa.

O espaço que sou eu
E tolda olhares à interrogação.

O espaço que sou eu
Que é só isso: espaço.

Dentro-me existe um mundo
Que pouco lhe interessa este
Onde de olhos penso ver.

Um mundo que vou conhecendo
Deslargando-me deste onde piso o chão.

E em matéria de cansaço
É meu corpo sim
Que sente a amargura
De falhar o viver,
O sonho que vivo eu
Calado e sossegado.

Em memorias de uma outra rua,
Onde em tempos era jovem,
Olho-me como que pai meu
Orgulhoso de ter vivido
E hoje ser eu outro.

Que na calada da noite
Cessa-me o barulho descrente da civilização
E em batida de tambores
E trompetes medievais
Ouço eu meu coração
Soluçar a crença imensa
Em tudo e em nada.

Simulando a comunhão com essa noite antiga
Venero-lhe os lençóis
Em existência perpétua e perpetuadora
De sonhos que choram
O tão demais acreditarem
Em coisa nenhuma
Que é tudo.

Deito minha criança,
Amanheço-me nela,
Porque lhe vou ao encontro,
E sussurro palavras de amor
Que gozam de nenhum pudor
À coisa eterna de se saber vivo.

Deita meu lindo,
Deita e adormece que eu te acordo
A nossa esperança em terra de espírito,
Sonho teu,
Certeza minha,
Sim sim
Adormece coisa minha.

(Passeio-me em morte
Para,
Ao voltar à vida,
Sentir a mais leve brisa.)
Algo mudou aqui sim.

Algo mudou
Porque mudou o mundo
Que vêem meus olhos.

Algo mudou sim
E é tão bom algo mudar…

Mudou sim
Porque estou diferente de mim.
Cresci?
Penso que sim.

Algo mudou em mim
Que agora pareço
Ter medo de pouco
E vontade de muito;
Mas do simples
Não do complexo.

Algo mudou aqui
Dentro de mim,
Que sinto-me efectivo de meu eu,
Já não o posso não ser
Fingindo aqui e ali.

Porquê fugir e de quê
Se eu sou eu
E sou quem sempre quis ser?

Hoje fico aqui
E ficando,
Mudam-se os tempos e
As vaidades,
Que eu genuinamente fico igual
Mudando só de escama pele
Aos olhos teus
Que o que sou mesmo
É segredo de Deus.
Chega a bruma
Donde me encontro.
O sol jazia alto
Num outro lugar
E eu lhe afagava as lágrimas…

Céu turvo de nevoeiro bruto,
O mundo continua
Embora que mais triste
Continua certamente.

A noite se anuncia
Por 1001 sóis
Que fingem a luz
E a levam consigo
Deixando atrás o rasto
Da verdadeira escuridão.

Colher o que me dão
Pois não pode
Assim ser tão pobre não.

Elaboro urros de vida,
Gritos de vitória
Que a planta do vital
Me escaramuça a existência,
Ironicamente.

Prendo a minha atenção
Ao que me faz querer,
Largo a outra
Pelo fumo do fumo meu
Que me sai pela boca
(esconde eu).

Mentiras fundadas verdade
Com a mera e simples
Artificialidade.

Correntes de ser
Qual a escolher?

Vive-se desencontrado
Porque o encontro custa mais.

Há matérias que se não querem desenvolvidas…
Carentes, ficam para quem
Não mais deseja viver essa realidade
Que, no fundo, só faz sofrer.

E daí as vaidades minhas,
Tuas, que interessa hã?
Somos todos uma bola
Que só sabe de si
E esquece o outro
Amavelmente
Em tom de sorriso displicente.

Que acarretar com as verdades
É um feito e muito.
Poucos as querem
Que num mundo de mentira
A verdade é um monstro.

Mas me não me canso
De pregar ao céu
A verdade perpétua
E fecunda
E assim colho
Com minha mão uma outra
E outra pequena mão,
Que quer, que crê
E saltamos a vedação
Tensos de saber
Que a vida existe para viver.
Cada um faz o que lhe é destinado.

Cada é já antes de ainda ser
Só que tem de viver para o saber.

Cada um de nós
Está vivo
Por uma simples razão:
Ser.

Se não é
Vira perverso,
Corre o vento
E o sente como uma ofensa.

Se já fosse
Saberia
Que o vento é só o vento
E ele é só ele,
Que tem o prazer
De também sentir ele, o vento.

Mas o mundo tem tempo
E esse
Tem circunstâncias e terrenos diferentes.

Moldam o ser vivo
Ao que julga ele ter de ser.

E os sábios lá vão descobrindo
Que o único ter de ser
É o que sentem
E não o que dizem…
É um espaço pequeno
E de pequeno ser
Envolve a gente
E faz
Não ter de ser.

Espaço esse que é pequeno
Em terreno
Mas mais que grande
No além terreno do sonho.

Sonhar se faz muito por aqui
Mas por alguma razão fala-se pouco disso.

Chega-se a pensar que não existe
E por isso se importa(troca comercial) muito.

Mas há quem saiba que aqui há sonho
E quem normalmente o sabe,
É porque já muito antes, de assim saber,
Já sonhava.

Não é terreno de corpos
Este Portugal
É sim terreno de sonhos.
Em memorias desatentas
De uma outra nova procura
Me redescubro
Em cálice de espírito,
Sangue de me querer
Finalmente eu vivo.

Sal do chão
E o alho do fim da tarde,
Especiarias da manhã
Para acordar
Espelho reflector
Do sol acima de mim.

Sara a ferida de meu corpo
E se multiplica para mim,
Céu do corpo,
Cérebro,
Em vontade de partir;
Querendo só o tão
Momentaneamente chegar
Num ínfimo
De segundos breves
E partir novamente,
Tendo só como certeza
Que a vida tem que ser vivida
Pelo próprio e não o além de si.
Fazer do que sinto
Um filho meu
Porque o sinto
E é meu.

Divagar o físico
E fotografar, estático,
O sentimento.

Comer pouco
Pois só o ar
Já me tão alimenta
Que tenho de fumar.

Olhar os tempos que são
Com os óculos de sábio,
Que relativizam a relevância.

Sentado na esplanada do café
A noite chega
E estou ainda não nela.

O silêncio breca
As asas da harmonia
E desvirtua o que acredito
De momento.

Passo a ferro o espírito
Tornando-o físico
E tudo que me atormenta
Foge daqui
Pois eu não tenho medo.

A vida é um segredo a preservar.

Sei-a bem,
Ela é que não me sabe.
Ontem pensei em ti.
Pensei de uma forma
Calma e querida
Com tudo de bom
Que deixaste em mim.

Lembro-me dos teus olhos
E teu acordar
E renovo os meus olhos
Em certeza de passado,
Promessa de futuro.

Tu soubeste de mim.
Soubeste o meu mistério
Que é o mais intimo de mim.

Não sei se alguém mais
Me conheceu como tu
E sei, por certo, que
Me não conheço tão bem
Como tu me conheceste...
Há um tempo de promessa
E outro
Mais delicioso
De descrença.



E que bonito é,
Em descrença,
Sair de casa
E vir a descobrir
Não crença
Mas efectiva beleza
Em beijos e abraços desprevenidos?

Viver é sempre belo
Porque sempre há
A receber.

Triste é quem vive fechado.
Inventar um espaço
Na ausência
Do outro que queria.

Um espaço
Que de terreno
Reproduz nuvem
E de movimento
Sentimento.

Um espaço intimo
E acolhedor
Que ao mesmo tempo
É infinito e criador.

Um espaço que
Na verdade
É uma fuga
Mas uma fuga
Que ajuda a pôr em dia,
E à luz do céu,
Sonho meu,
De uma forma natural
E despreocupada.

Espaço esse de liberdade
Em que o contacto
É sempre encontro
E o encontro
Um real incentivo
À chegada à vida
Terrena, simples e mortal.

Ter o infinito
Como uma certeza
E o finito
Como uma dúvida,
É assim que eu vivo.
O passado foi tempo dele
Não de eu.

Que tenho a defender
Ou a arrepender de um tempo
Em que já não era eu?

Hoje é um outro dia e
Amanhã serei outro.

Que chatice esta coisa
De nos termos de ser compreensíveis
Aos outros!

No meu ideal
Falaria só com quem queria
Deixando as centenas que me conhecem,
Falar com meu silêncio
E indiferença
Se me interrompessem.

Eu que me gero e me creio
Em sozinho divino,
Porque me amedrontar de ter de falar
A quem já não me conhece?

Sou dado adquirido
Para quem
Menos me teve
Quando quem me mais soube
E sentiu
É quem mais me sabe mistério.

Eu não sou de ninguém
Nem mesmo de mim.
Então como me tu conheces
Assim me falando tão,
Parecendo com fim?

Detesto que me conheçam,
Detesto que pensei quem sou.

Eu não sou
Vou sendo,
Tudo de trás levando
Em silêncio comigo.

Então porquê contigo isto partilhar?
(se é em silêncio que vou evoluindo?)
No espaço de me ter seguro
Acordo o adormecido ser
De meu ser
E boceja ele em mim.

Promessas a dizer
Outras por fazer,
O horizonte tão me presente.

Abro os braços em consolo ao céu
E distribuo meu espírito
Numa dança circular.

A noite que vem
Faz-me acender a fogueira
Que me aquece e entristece.

Amanhã jornada em frente
Está por fazer
E por isso é bela e assim.

Fiquei eu de me
Falar ontem,
Julguei-me sozinho
Quando por certo
O vento me acariciava a pele nua
E o sol me aquecia a verdura
De minha (ainda) jovem vida.

Então em noites que avizinham o começo
Eu me presto triste de ser tão contente...
Passagens a se fazerem
De esquisitas
E eu de esquisito
Me fico virando a esquina
Escondido.

Sempre procurando
Esconder meu ser de ter de ser,
Para ser um outro que era já eu quando nasci.

Há um espaço em falso
E outro, em seguida,
Em aberto que promete
Se a vontade não for pouca.

Olhar em frente com um olhar sossegado
Boca fechada
Mas lábios molhados.

Fazer das lágrimas de outrora
Mar
Que me leva ao lugar querido.
Fazer do corpo
Caravela
E remar ao desconhecido.

Não ter um outro
Que seguir
Senão o eu daqui.

Lembrar que só um lugar é casa
E esse é sentimento e é partilha.

Ir em frente
Mesmo que o atrás demais prometa.

Crescer e crescer.

Ver o mundo,
Descobrir o prazer de ser
Assim eu
E vê-lo pela primeira vez
Novamente.

Ter que seguir em frente
Porque o atrás já morreu
E só levanta bandeira de futuro
Por presenciar.

Pisar terra firme depois de tudo
E só aí: caminhar
Caminhar.

sábado, 9 de julho de 2011

Vou fazer da noite o meu aconchego.

Fazer dela
Razão de viver para amanhã.

Fazer dela a procissão
Do que sinto.

Expor-me a ela como sou
Aguardando sossegado
O retorno dela,
Da gente.

Fazer da noite
Dia
Através do sentimento.

Ambicionar o
Para sempre
Em breves horas
De entendimento.

Descolorar falsidades
E alegrar unicidades.

Viver perdido
O encontro.

Saber dizer o que sinto
Sem receio ou tormento.

Viver o aconchego
De me não reprimir.

Santa cerveja
E santa noite,
Abram-me alas
À alma
Para eu espalhar amor!
Sossego o tempo de meu ter
E me vem vontade de prazer.

Assegurar-me
Boleia do vento,
Despegar-me de corpo
E planar,
Ó espírito meu,
Centro do universo,
Deus?

Que te tenho hoje
Como uma certeza física.

Lembrar um adeus
Como um eterno olá.

Ah sim
Viver também ao contrário
Para ser total.

Chegada a promessa
De uma nova era
Já me sou ela
Antes dela.

Os ventos mudam
E vivo para os sentir.
Não me deixo esconder
Por ambições imateriais
Do só físico.
Quero-me alimentar o espírito.

Mas ele não se alimenta
Ele é
Basta deixar-me ser
E entregar-me,
Ó espírito.
Aí me sinto em além,
Fogo, luz de ninguém
E por isso mesmo
De Deus, isto é, livre.

Já que a compreensão
É amor sem toque
Nisso me exercito
Para quando te tocar,
Ó mulher,
Sentires tu
O meu eu, eu divino.

Calor apreço
Nada mais
Que afecto e entrega.
Sossego a despedida
E saúdo toda a vida!
Sim
Começo aqui
Uma ordem de ontem
Treinado pelo hoje
Fará um belo amanhã.

Que queira
Quem me queira
Que é para eles
Que a faço,
A vida.

Julguei-a perdida
Em tempos
Mas com prazer
A vi resistir.

Depois
Cansado de a resistir
Lá brotou
De novo em mim
Numa mesma cor
Mas mais nítida
E brilhante.
Coisa do tempo,
Coisa de mim.

Parou-se a carroça
E saltei para fora,
Que já não tinha
Dinheiro para a boleia.

Fui a pé
E o quanto eu vi!

Foi minha vida o que vi.

Sempre sentado no café
Ou deambulante
Pelas ruas da nocturna cidade
Segui e segui.

Muita gente toquei eu,
Muita gente eu nunca vi.

Conversas de sábado
E algumas de domingo
A noite do fim
Principio sim.

Esqueci preposições
De galantes estandardizações
E fui a pé,
É verdade,
Por mim.

Escolhi um tempo
Que era o meu
E visitei quem
Me queria
Por satisfazer.

Um canto que me dei
Foi terrível
Depois o aconcheguei.

Tinha febre e angústia,
Amargura também.
Mas tudo passou
Quando nela toquei.

O tempo me reconheceu
E mandou-me ela para mim.

Daí fui sempre dela
E deixei de ser de mim.

Para quê ser de mim
Se hoje temos um filho?

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Só não fazeis o que está
Ao teu alcance
Mas te faz mal.

Largai os poços negros
Que te interiorizam
Em só
E aceita a vida
Como ela é.

O esgar de olhar,
O ódio, o ciúme,
Terras de só negrume.
Queimada constante
Fortificada pelos
Olhos fechados da mente.

As coisas a sair
E a entrar.
Noite funda
Deste dia solarengo.

A pomada da calma
Não me acalma
Nem desperta
Mantém-se quieta
Em mim, me substituindo.

O largo da vila deserto,
A gente onde
Não há solo
Ou comunicação
Vê essa, a televisão.

E em paz de um oficio
Mais antigo
Que a vida
Decifro o que sinto
Como quem joga um
Qualquer jogo superficial.

Valer o mar…
Que vejo eu
Eternidade
Que quase já concebo.
Noite minha
Noite de sossego.
O pão da manhã
É o teu dia
Ó noite minha
Tão quente e sozinha
Como eu.

Demoramo-nos em solidão
Como quem se guarda à vida.
E a propriedade privada
E esta coisa dos carros
Nos tão desvirtuar
De nossos caminhos
Que tendo de ser únicos
Para se realmente fazer,
Se entrelaçam em muitos
Que já não são teus,
Que já não são de ninguém.

Busco o fim sempre
Porque creio que nele
Se começa,
Se inicia o algo que busco.

Primazia no espontâneo
E logo me deito
Cansado
E acordo num outro local
Onde já não reza
Minha ideia ideal,
Só uma fraca fome
Que pede meu corpo.

Está vento e isto me cansa
Onde está a inspiração?
Deixei-a lá longe
Em me querer
Confrontar o dia
Quando dele não encontro
Confronto.
Tenho em mim
O sonho
De toda a gente.

É o sonho primeiro.
Aquele que nasce da vida,
Aquele que se renasce
Na quase morte.

É o sonho essencial
E todos o temos
E perdemos
Com o escurecer
Da educação e do hábito.

Eu também o perdi sim
Mas quando desisti
De me dele querer lembrar
Ele me apareceu sorrindo.
Todo ele, em si,
A se me oferecer
Sem exigências
Ou mandamentos.
Queria estar comigo,
Esse sonho primeiro,
Tinha saudades minhas…
Seja eu, seja o destino, a vida me escolheu pois me matou antes da morte. Estou-te grato, ó vida, sei o que querias de mim. Viste que era capaz de aguentar, capaz de ter em mim mais que por mim poderia albergar. Deste-me tu, ó vida, sinais bastantes para que eu me lembrasse e soubesse que aguento e persisto como sou e como tu me ensinas. Ó vida, tu és bela porque, afinal, me libertaste desta coisa de viver e não saber bem o porquê de o fazer. Obrigaste-me a ser, obrigaste-me a ter de ser eu, contra todas as probabilidades e nas maiores adversidades, tu me tentaste para ver se era digno de te carregar a chama. E hoje te levo e tu és eu e eu sou tu, estamos juntos e não me creio mais em solidão.

Toco o céu
E lhe falo
A mim
Pequeno
A imensidão que sinto.

Ó meu pai
Tu vives para sempre?
Ó minha mãe
Tu também?

Serras, pássaros,
Vento, conversas
Tudo isso
Deuses e parentes
Tão familiares
E distantes
Porque estão vivos e são eles.

Algo de ter
Quem me quer
Para não me disso
Ter que esforçar.

O tempo passa
E a noite demora.
É tempo
De eternidade
Ó dia!

Passavam comigo
Tardes inteiras
E quando me deixaram
Deixaram-me sozinho.

Eu sorri
Porque soube
Que se foram
Foi porque
Haveriam de ir.

Eles sabem e
Eu sei
Que estamos juntos
E que tudo isto continua
E a solidão
É o licor dos Deuses.
Num dia de sol suspenso em que a gota de água do rio se abrasava em solo seco, uma grande ave voou por aqui. Ninguém sabia que ave era ou espécie, sabiam que era grande e dócil pois não atacou quem a via passar. Nos cafés falava-se nisso a bom tom e alto para os da rua também ouvirem e se juntarem à conversa do colosso que por ali passou. Bebeu-se mais, dormiu-se menos e chegou-se até bastante atrasado ao oficio. E a ave ia e vinha consoante as horas do dia pois à noite não se via. Uns pensavam que era mãe e estava a cuidar dos pequenitos, outros achavam que era macho porque era vigoroso. Nunca se bem soube, pois um dia um menino escondido, pegou-se em cima da grande ave, domando-a com carinho e firmeza e voou para longe, até onde o sol se deixa de ver…
Travessas de seu tempo apanhadas,
Pois caíram,
Pelo criado
Que sempre serve
Pois é servo
De um ele eu
Que cozinha
E faz de tudo seu.

As coisas todas
Amarrotadas e sujas
E desorganizadas
São coisas dele
Do servo
E o ele eu
Apenas cria
Do que é já seu.

A porcaria que
Se avizinha é do vizinho
Ou da vizinha
Nunca de ele eu
Nem do servo
Que é servo
Porque o é.

E viver em pé
Mostra-se uma arte imensa
Que é posta em prática
Pelo ele eu
Mesmo quando tomba
Pois o servo
O agarra e suporta
E ajuda
Pois é servo
E servo é e sempre será.

O tempo faz dos dois um e do um dois
E daí para a frente
Nunca se ao certo sabe
Qual deles é,
Se um dos dois
Se o outro dos dois
Ou se só um.

Tudo acontece repentinamente
E nem o um
Nem nenhum dos dois
Sabe quando
Vem a onda
Ou raio
Que os junta ou separa.

Mesmo com tudo
Lá fora por fazer
O cá dentro
Está sempre por saber,
Já que não é coisa
De uma só noção
Mas uma
Inconstante destabilização
Que momentaneamente
Está estável.

E o cérebro
Passeia a perguntar o que é isto
Enquanto o coração afirma
E o espírito sereno sorri.
Tudo o além de eu
É demais.

Se sou mais que eu
É por simbiose
Não por disso possuir.

Coisa de eu
É sempre universal.
O eu é igual ao tempo:
Completamente espírito
Completamente inexistente em factor físico.

Anda a carroça de meus pés
E eu ando atrás.

Sou duro como um velho,
Carrego minha morte
E se me chamares,
E de ti gostar,
Sorri-te minha criança despreocupada.

Que a morte não é triste
Nem sombria
É só o sono dos deuses.

O segredo é sorrir por dentro
E deixar a face séria
Observando a morte viva
Que a rodeia.

Que dança feliz sempre
Minha criança
Em mim
E eu me vou
Cingindo assim
Meio que pai dela:
Plataforma de censura
Ou controlo
Que ela é demais bela…

Vive-se em nervoso
Mas eu nem tanto.
Colho o que posso
E tenho minha floresta
Onde para lá andar
Basta-me parar o corpo
E pensar, pensar.

Que de refúgio
Não anseio
Tenho já o meu
Bem vivo e quentinho
Que cheira a madeira quente
E brasa
Que essa minha fogueira nunca se apaga.

A vida é triste
Só para quem tem medo da tristeza.

Eu gosto dela,
Da tristeza.
É uma coisa calma, serena e nobre,
Respeita seu semelhante
E abraça o além de si.

A felicidade é que muitas vezes
Me enlouquece
E quero-lhe o fim rápido
Que não me sei gerir assim.

Preciso de um pouco de morte
Para viver bem.
E aqui, assim de repente, algo me toca e sei-lhe o toque mas finjo não saber e resisto. Da resistência insiste o toque e eu lá me viro e vejo enorme sorriso me olhando enternecido. Pego a bengala, me levanto e um grande abraço. Reencontro de mais de 10 anos de espera. “És tu então!” “ Cheguei há pouco, ajuda-me a trazer as malas.” e nem preciso dizer nada, estou como que hipnotizado por meu amigo. Lá fora está uma chuva difícil e algum frio. Molhámo-nos um pouco e nos acudimos da lareira , sempre quente, sempre viva. “então como vieste?” “ De avião. Foi boa a viagem, aqui a chegar a Lisboa é que houve alguma turbulência.” “Então e o que te traz aqui ó desgraçado? “Estou a fazer um estudo de campo rural, digamos assim. Então escolhi aqui a tua casinha, o que achas?” “ Acho óptimo, óptimo. Estou tão feliz por te ter aqui! Ainda por cima nem avisas nem dizes nada. Quando me tocaste soube logo, não me perguntes como, que eras tu pah, só podias ser tu! E vê bem, ao fim de tantos anos, como soube logo que eras tu? É maravilhoso! Vem, vamos, o que queres comer ou beber hã? Ah sim, vamos conversar!
Bonito é ver o mar
E o português a pescar.

Bonito é saber
Que se continua
A bem comer.

Bonito é ser português:
Um bárbaro afável
Camuflado de europeu.

Bonito é ser simples
E pobre
Tendo a vida como
Um dado certo
Para o pouco que se tem, quer.

Bonito é saber ser pequeno
Para por dentro,
Às escondidas, se sentir bem grande.

Bonito é o sol e o calor
Graças
E vamos para a rua!

Bonito é saber apreciar
Com a vista
E saber que o tocar é menos
Que a fantasia
Que vive em nós,
Pensamento.

Bonito é ser daqui e não de lá.

Bonito é reconhecer
Que viver basta
E o demais
Que nos aflige
Dos tempos modernos
É devaneio,
É palermice.

Bonito é ter o corpo ao sol
E ostentar
Pele mulata ou preta
Com orgulho
E como identidade.

Bonito é olhar o horizonte
E saber que nos pertence
Não por ser nosso
Mas ter outras almas
Que falam nossa língua.

Bonito é saber de História
E saber de Filosofia,
Crenças e manias.

Bonito é ver que aqui
Estamos nós bem:
Uns a pescar,
Outros a olhar,
Outros a escrever,
Outros a ler,
Enquanto o mundo,
Lá atrás,
Anda de carro e compra
O que podia, por ele, se oferecer.

Bonito é estar na rua
E sabe-la viver.
Que há uma Arte da rua
E só dela sabe
Quem já a fez ou faz.

(Bonito é viver e ser português!)

terça-feira, 7 de junho de 2011

Uma ode à fertilidade, sim, porque não?

Fazer crer como quem, por natureza, faz nascer.
Inventar o inconcebível fazendo o amor e o êxtase em mútuo.
9 meses e há todo um novo mundo por viver, algo que é
puro e tem que aprender. O que em tempo se julgou ter
de fazer hoje cansa e nos pesa, nós humanos.
Reflictam homens e deixai as mulheres pôr em ordem a
bagunça, que vossas só pilas geraram. Em tempos aéreos,
eu sonhei e me perdi num não eu que sou eu agora: descobri
o que era de mim espiritual e além terra queria voar.
Dar a mão e o coração aos mortos e aos por nascer,
inventar uma civilização que mais que actual, universal
e prosseguir sorrindo o giro que é isto de viver.
Um lençol azul manso
Que acarinha meu turbante de orgulho próximo.

Vejo a queda de água a cair
Enquanto me levanto,
Surpreso de energia,
E me dobro por dentro,
Ó noite minha.

Ficam segredos por contar
Tragédias que nunca foram
E sonhos a ser.

Há um sono dentro
Que quer partir,
Deixar a confusão do barulho e ir.

Dormi-me ali um pouco e tudo
Parecia certo,
A vida que tinha e a que teria
Se me levantasse.

Então lá me levantei
E notei que
A gravidade,
E minha consciência dela,
Me puxavam para baixo
E que meu sonho
Se parecia agora que longínquo.

Como permanecer no sono,
Que é o sonho,
Na vida em que se realmente anda?

Porque me é hoje
Pesada a vida
Como se me fosse negada
Logo antes de principiada?

E noto bem,
Que não só a vida,
Que para não lhe sentir frígida
Eu me nego passagem
Para distrair culpabilidades…

Sou eu ou a vida
Que me pára?

E será que me paro deveras
Ou me simplesmente adio?

Voltava agora de bom grado
Para a terra do sonho
Que esta terra faz demais barulho.

(Dormir a sesta é coisa
Que me molesta.
Tenho toda uma nova caminhada
A fazer
Para me despertar deveras.)

E uma menina,
Com certeza que bonita
(que não lhe vejo a cara),
Maneja a mão ao alto
Chamando seu amigo, seu irmão.
E aquele com quem ela está
Vai pescando, aguardando.

Eu vou-me fingindo
Responsável por tudo o que alcanço e vejo.

Não me poderia cingir a mim?
Ser apenas eu e minha vida?

Enfim…
Antecedo a velhice
Neste corpo esbelto e firme
Que deveria combater uma guerra
Ou gerar um filho:
Coisas úteis…
Sou só feliz quando deixo de existir
E fico um apenas
Receptor do mundo e do que penso.

Ter meu corpo arejado,
Deixar passar por mim
O vento amado que me renova
A cada assobio.

Tenho de me largar,
Deixar-me ser, afastado
De qualquer absurdo real
Que me ligue eu à minha vida física.

Não sou nada neste momento,
Sou só o estar.

Não tenho nada que me ouse
Conhecer,
Assim, me desconheço um tanto
Para me voltar a conhecer novamente.

Olhar o mundo
Com os olhos do espírito
E respirar o fundo do vazio
De não ter de estar a ser.

Fantasma, estátua, vento, energia
Quero-me total.

E chamam-me ali
E os não reconheço.
Estou além
Lhes digo
E eles riem
E eu escrevo.

Anoitecer-me com ele,
Céu azul, que negro daqui a pouco.

Respeito a ordem
Que de mim vai fazer mais um morto.

Olhar em força para o nada
Que me encanta,
De quais vozes femininas
Que o não são, e me leva à razão
Plantas e flores
Que querem passar daquele para este mundo.

Sou um ouvinte.

No outro, humano,
Sou um furado falador.

Entendo tudo isto
Como uma maldição que tenho de ser
Para equilibrar a salvação
Que por mim quer passar.

Olho e não tenho inimigo
Nem desprezo,
Aceito.

Acarreto as consequências.
Porque não?
São elas até belas
Se as sabe porque razão.

Olho o tecto de meu caminho
E ele já não o tem,
É infinito.

Sair da dose de sangue
Para ser só energia,
Além matéria ou pó,
Espírito!

O piar do pássaro é o que sou,
O vento forte da praia também.

Arte em matéria quase física
Porque ouvida pelos sentidos.

Emoção feita corpo
Desagrada
O corpo meu.

E há uma entrada
E de saída se tem de descobri-la.

Chamas as não há,
Nunca as houve.
Só um incentivo à tristeza…
Ó mulher se tu não tivesses corpo
O que tu serias?

Sonho-te em sossego
E vejo-te em brasa.

E nas praias te deixas e deitas
E me excitas mais
Que podias se me falasses.

Que eu as quero a todas
Ao mesmo tempo,
Que todas são uma só,
Sei-o bem!

Olho-te nos olhos,
Ó mulher,
E sei que me amas!

Podes me não conhecer
Mas amamo-nos visceralmente!

Antes tinha-te medo,
Ó mulher,
Porque me pensava em cristandade
Monógoma com outra.

Mas hoje…hoje…
Ó mulher
Hoje amo-te plenamente!

Desde aquela com que ontem dormi
Até esta que me olha agora de sorriso doce
E curioso.

Amo-te em destreza de me saber dar
E em saber que tu,
Ó mulher,
Tu me sabes sempre receber!

Mulher, é um ser universal
Não se encerra em corpos sozinhos.
A mulher que tu amas tem
As feromonas que te encaixam a antena.

Quem de mim eu fui?

Medo de mulheres jamais!

De homens sempre,
Que eles não sabem sê-lo.
Isto é, homens ambicionam meu mesmo trono.

Homens, a maioria,
São crianças com pila.
Eu tenho a minha mais viva
Na mente e assim a desloquei para o coração
Para amar tudo então!

Querem-me sossegado, civilizado?

Ai, é que não!

Um homem viril
Não sabe o que é isso de consumir.

A mulher consome distraidamente
Para a distrair de sua tarefa magistral: dar à luz!

(Ó minha querida
Falas-me nesse tom de desdém…
Não sabes o quanto te podia fazer bem.)

Quero me alcançar em tal pose
De sacrilégio que o que apenas busco
É compreensão feminina,
Isto é, muito sexo!

Que o racional
Já o tive bastante
Mas é coisa de homem
E assim irrelevante.

Agora, a mulher não é faculdade de direito
Mas de Dever!

Até a mulher puta
Sabe o que eu quero dizer!

Vamos então,
Como pausa de palestra e para festejar
Esta ultima deixa,
Praticar o amor com nossas progenitoras
Que nos não deram à luz
Mas nos têm, sempre que podem, nus.

Está feito? Foi bom?

Pois então continuemos:

A mulher sabe insinuar.
Muitas vezes não sabe falar.

Ela dança com as energias
Da compreensão afectiva,
Que talvez seja a compreensão universal.

Assim ela foi equacionada burra
Nas passadas gerações “nossas”.
Mas digo agora a mentira que foi
Essa momentânea verdade.

A mulher sabe sentir
E sabe precisar
Sabe pedir e sabe desprezar.

O homem não.

Ou é um cão dócil que se
Dá bem com tudo
Ou não quer nada com ninguém
E o demais, razão para rosnar e atacar.
(Só será sensato tendo
amado antes uma mulher.)

A mulher sabe insinuar tudo isto
Em leve devaneio
Que é efectivo e sólido.

E dos que estão presentes
Seu gesto é ouvido!
Houve um passo que se não ouviu porque ela estando triste, antes de se fazer parecer queria desaparecer. O suicídio é muito doloroso, pensava ela. Chega aqui! Onde andaste ontem? No quarto. Não te ouvi! Não fiz barulho…
Esteve o dia todo a chorar, lembrando o outrora, aquele semblante de alegria em arte que fazia da vida simples e mera plataforma do sonho.
Agora triste e de seu pai carente, dá essas ultimas suas forças a ele, viúvo.
Sua mãe morreu à um ano e seu pai nunca mais saiu de casa. Manda um miúdo fazer os recados e trazer as comodidades para comer, viver. Lá fora dizem que o velho está doente mas ela sabe o contrário: está louco mas não doente. Se fosse artista era um homem feliz de sua infelicidade, assim só é infeliz.
Vou à rua ver o mar, diz ela a si e depois a seu pai. Ele não responde, está só atento à televisão. O mar bravo e insensível dá-lhe voltas à mente e di-la fraca, fraca idiota que se não suporta. Ela chora uma vez mais e volta, não para casa mas para o café. Pede um copo de vinho branco, que faz calor e fica olhando as pessoas passar, o tempo a estar e a ir mas sempre ficar. Ela sossega finalmente sua mente, compreendendo que o que é sua vida é relativo quando há e se vê tanta outra.
Passa a Antónia: Há tanto tempo que a não via. É, tenho estado por casa a descansar, o tempo anda virado. Pois é, é verdade. Olhe como está seu pai? Está bem, está bem, ainda um pouco abatido de minha mãe, mas se Deus quiser melhora para o ano que vem… Mas está doente? Não, não, apenas abatido, sabe, triste, infeliz. Ah sim, ah sim.
Bom tenho de ir indo que a Isabel combinou comigo agora as 16:30, até à próxima. Como está a Isabel? Ah está bem, vai indo. Está bom até amanhã, se deus quiser Antónia. Adeus, adeus.
Com esta supérflua conversa ela se encontrou descontraída, bem-disposta mesmo, que muitas vezes quando se está escondido dentro de si o melhor é conversar sem qualquer conversa aquelas coisas de hábito, que já se sabe o que se vai dizer, ouvir e o prazer é ver falar, ver faces e gestos a dançar, pequenas interrupções e nervosismos, mais pequenos prazeres momentâneos que surgem de pensamentos que se esquivam desconhecidos à conversa. Assim a mente fica só prática e entendida da vida que se quer vivida.
Quero então
Uma nuvem hoje,
Um sol amanha,
Ser o que se é
Porque não se tem de ser.
Augusto quis dizer isto
E Deolinda, o tão rápido negou
Indo ali à cozinha.

Figura estendida a mula a bufar,
Está com fome ela e faz frio.
O José não a acolhe dentro de casa,
Assim ela quase que morre lá fora.

Silêncio, que é campo.
Seguia de par em mão
Desconhecido com uma conhecida,
Uma só dose de serão.

Luzes amarelas das janelas
Introduzem a noite
Que se aproxima
Tenrinha.

Calçada e então porta
Jantarada, e porque não, amigos.

Olá, olá.
Sorrisos nas mãos e em plenas bocas
Por elas, algumas, que mais que beijo
De bochecha mereciam um de lábios.

O que há?
Já encomendamos, está a sair!

Ó não. Mas apetecia-me entremeada…

A Lena disse e foi o que
Pedimos para todos!

Ah, muito bem, muito bem.
Palmas sim, palmas a vocês todos!

Casa de banho e um xixi
Que isto de fazer anos
Enerva a bexiga.

O jantar foi um jantar
Mas a noite
Adeus, adeus,
Agora é minha!

Fornicamos minha querida?
Ou nos amamos por aí
Mais modestamente hã?

Ó querido…és tão romântico…

Sim, no princípio da praticabilidade o sou!

Escolhes o irmos
Já que me levas de braços.


Foi então que acontece aquilo
Que te disse à dias…
Ela morreu-me ali atropelada
Por uma bicicleta!

Um escândalo!
Passam-me uns quantos desejos
Pela mente mas não os sei se meus.

Estou agarrado à vida
Tão sofregamente
Que não vivo.

Há sempre um além de mim,
Que como mais poderoso que eu,
Me concedo a ser.

Não sei lidar com a minha circunstância actual.
Ela é uma trança irregular
Que num cabelo como o meu
Se une e já não se vêem os fios
Que a uniram…

Tenho uma vida estranhamente difícil
Porque é, acima de tudo, fictícia.

E aí me vou gerando louco
Para desenlaçar esta minha
Absurda incoerência de vida.
Um barco ao mar
Desperta seu pescador
Que a pesca
Está na hora de apanhar.

Ensonado,
Lembra saudades de casa
Mas o trabalho
O chama fisicamente
E a obra vitral
Do espírito se evapora.

O mar está calmo o que acalma José.
Os peixes aparecem muitos e assim
Sabe que orgulhosos nativos de casa.

Filtram-se-me as portas agora
E o pescador apareceu
Em minha casa.

Então José como andas?

Vou bem shor (meu nome),
Vou bem.
Apanhei muito peixe ontem
Está tudo feliz lá em casa.

Pois eu o estava a relatar agora
E de repente,
Não sei o que aconteceu,
Mas apareceu-me você
Aqui em minha casa
A beber seu cálice.

Cálice não, vinho tinto!

Mas sabe o que aconteceu?

Eu não, ontem festejámos a pescaria
Até tarde e hoje vou por onde me deus leva.

Então sabe que deus
O trouxe aqui a minha casa?

Não, não sei…
Isto é a sua casa?

É sim!

Ah, está certo…

Não está não!
Mas que baralhada.
Agora tenho que começar
A ter cuidado com o que escrevo
Que me pode aparecer em minha sala.

É verdade, hoje tudo pode acontecer…

É isso José.
Sente-se aqui ao pé de mim,
Vamos conversar.

Como é o mar?
Entender o crescer como dor que penetra e fica, endurecendo o corpo e a alma em fatalidade antecipada. Cansaço de me quererem ajuda que não sei dar. Livrai-nos do mal… Livrai-me do bem, que eu só gosto do que não entra nessas “vossas” classificações. Não procuro sucesso ou insucesso, procuro apenas presenciar a vida como a proponho a mim me querida. Além de que todo este desnecessário sofrimento é coisa de velho e eu sou jovem sim. As caras sérias e tristes e desiludidas de minha cidade enraivecem-me a alma, rangendo os dentes e carregando as sobrancelhas, eu aflijo quem me olha desprotegido. Pudera, até eu tenho medo de mim neste estado. Quero-me encontrado mas como já tanto fugiu de mim eu fujo agora mais ainda para normalizar a perversidade que se estruturou em mim impunemente. Mas vou indo, esperando o dia que cai como um peso e não uma alegria e fingindo apresso por isto tudo para gerar poesia. Mas é só isso, eu minto muito para poder sorrir e me conter de querer matar ou entristecer. São tempos estranhos em que tudo parece fútil e desnecessário. Como que o humano fosse de principio falhado e nada houvesse a lhe fazer para o salvar. Que penso eu? Jasus Maria!
Em Portugal pausa o sítio
Vai-se para o trabalho,
Volta-se do trabalho.

Fim-de-semana sem trabalho,
Sair à noite
Jantar com alguém
Depois de novo trabalho e afins.

Há pouco em Portugal
Devo admitir.
Muito pouco onde eu vivo
E eu sendo muito
Se não me acudo
Quase que morro.

É, Portugal, és muito pouco para mim,
Ás vezes alegras mas demais vezes me entristeces.

Mas não te preocupes Portugal,
Não és tu mas eu
Que te não abraço como fatalidade
Que aqui te vivo
E a isso não me concedo admitir.

E não és tu Portugal não,
Nem eu.
É esta casa
Onde vivo
Que tem muito amor concorrido
Pelo hábito
Gerando suplício tanto
Na terra como no céu.

É Portugal não és tu,
Não sou eu
Nem aquela família
(que não largo)
Mas os mercados!
Essas estranhas crianças
Que brincam com nossos alimentos
E mantimentos.

Ó Portugal não és tu,
Nem eu, nem essa minha família,
Nem sequer esses tantos mercados
É toda esta raça humana
Que além de tudo
Te inventou, também, nome e espaço.



Afinal a culpa não existe
É só um meio de subsistência…
É um mundo belo
Esse que se me avizinha.

Um mundo onde o sorriso
É linguagem
E a conversa é feita
Tendo como conclusão a acção.

Mundo que é este
E assim nada de metafísicas.

E passear pela terra
E cheirar o ar
E vê-lo aceso tanto
Em mim como nele.

Viver o encanto de nos termos
Trabalhadores do que colhemos.

Inventar algo que ajude a viver
E não o adie por prazer.

Estar cercado de vedações?

Olha que não.
Manda-as a baixo e partilha o que tens
Que teu vizinho não tem.

Aí não há policia,
Nem estado, nem mercados,
Com a gente faz-se toda essa comunicação
Por entre gestos e fala.

Viver crente do que se vive
Porque viver é isso
E não estar em receio
Que nos mandem para a rua.

Então, a rua é o meu lugar!
Vivo do ar e do que colho
E partilho com eu só olhar.

Que medo, viver em casa
E ter medo que nos tirem,
Tamanha desgraça,
De ver televisão.

Viver fora porque essa
É (hoje) a vida de dentro.
E é a cerveja que me escreve
E não eu.
Eu sou sossegado de meu aqui
Estar vivo a olhar.

Satisfeito e curioso
Nada pensante e entediante.

Reconheço que não sou eu
Que escrevo meus escritos
Mas algo que se solta de mim
Quando por bem ingiro
Uma ou duas cervejas.

Porque eu, eu, comigo
Fico sem pensar e olho
Mas não reflicto apenas olho e é só.

Olho e sinto para completar.
Mas é um sentir leve
Que acarinha o coração
Sem o sequer tocar.

Olho e vejo quem de mim
Perdeu lugar e ganha um outro estranho
Que aparece em palavras em folha vazia.

Porquê escrever?
Que estranho dote me veio…

Penso em mim e não me creio
Fui eu que escrevi?
Ah e o quanto eu queria ser um velho!
Fazer tudo demoradamente,
Ser julgado como um bocadinho
Louco tranquilamente.

Velho sim!

Não concorrer a nada senão à vida.
Ver falar os demais e ouvi-los com atenção
Descansado de não me pedirem opinião
Por ser velho e ultrapassado.

Ah sim velho!

Andar lentamente,
Darem-me o lugar no comboio
Ou autocarro.
Ter a desculpa de estar ensonado
Ou chateado porque sou velho
E ninguém, realmente, me quer.

Que maravilha!

Ver passar meninas bonitas
E já não ter desejo de as comer,
Ficar apenas imensamente enternecido
Por sua juventude e beleza.

Ser velho e distraído,
Nunca pensar no que vem a seguir,
A sério, já saberei que só a própria morte.

Tudo relativo quando velho,
Já tanto vivido…
Deixar e apreciar o viver dos outros.

Começar finalmente a respeitar o corpo
E seu cansaço e tempo.
Descer muito devagar as escadas
Num prédio sem elevador!

Viver uma vida de sonho em casa
Que ninguém procura
Ou quer saber
Porque sou velho e chato.

Fazer de cada tarefa um ritual
Porque sou velho e lento!

E virem uma vez por mês
Os netos e filhos e lhes
Dar todo o amor que antes não quis
Porque depois eles vão embora
E já não me querem.

Fazer tudo com o máximo de valor
Por saber perfeitamente
O pouco valor que tenho ou que isso tem.

Viver feliz,
Imensamente feliz
De saber ser pequeno e substituível
Por um brinquedo ou um doce.

Viver sozinho, de minha velhota
Amorosa morta de tensão alta,
E tê-la sempre em espírito
Pela casa e o dia-a-dia da rua.

Viver antes da morte já a eternidade.

Há de ser bom ser velho!
Num tempo de uma vida passada
Meu tempo se desembrulhava
Em cadência que não suprimia qualquer surpresa.

Era eu menino
E já me pensava homem.
Não como o meu pai
Mas um outro que até desconhecia.

Eram tempos de angústia
Porque o mundo gritava já
Seu antecipado fim
E eu no meio daquilo tudo
Já sabendo da “continuação”
Ficava confuso.

Tempos que não respiravam
E se prendiam
Não em memórias
Mas em certezas
Que não tinham sangue,
Não tinham vida.

Então lá vivi
Enquanto não vivia cá fora.

Quando me chamaram
Ao recreio
Foi com uma mão de amor
E assim pareceu recreio mesmo,
A vida.

Tempos em que o salto
Era bem mais fácil que o andar.

Tempos giros
Que regados a sangue,
Até de menstruação,
Afirmavam certezas.

Mais certezas…

Tive-as já muitas…
Hoje elas logo que recolhidas
Me caiem pelos calcanhares
Fruto de bolsos que furei
Por traquinice.

Quero certezas longe de mim
Que as já não guardo
Em nobreza.

Quero o som do afecto
Que roga vontades
E nervosismos de atenção.

Quero essa estranha
Aversão ao que parece ser.

Quero, hoje, apenas sentir
E recolher as dúvidas
E delas me cingir
Súbdito a as aprender.

Quem sou eu para privar
Minha vontade
De ver meu espírito
Vivo em realidade?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Então em dança
De me querer vivente
Chora a criança de mim
Em sorriso que tudo alberga
E carrega as energias de um
Tão fim de principio de vida.

Não choro a despedida

Ela me foi querida.
Quero mar em frente
Para que de repente veja terra.

E o som marinho
Que me acompanha
A vista é tão lindo.

Viver aqui porque já vivi
Tudo aquilo que já vivi.

Acordo a minha pedra e a contemplo.

É minha e é uma pedra,
É a minha pedra.

E eu fui e sou
E não serei mais ela
Que hoje meu corpo se lança
E minha mente fica
Para equilibrar essa balança minha.

E jogo o terror
Como se fossem peças lego coloridas.

E brinco os ventos
Que se dizem frios
E eu só os acho ventos.

Vou-me deitar em harmonia física
Que já me reza o sonho.

Até amanhã.

(Bem-Vinda…)
Distribuindo num compasso de divagação
Meu sangue em discordância total
Com meu conhecimento, de facto,
De que “ele” foi ali.

Fugi-me ao perto e corri e corri
O longe como se fosse quase
Ao seu encontro.

Mas lá cheguei
E só uma árvore,
Só uma árvore encontrei.

Fiquei olhando em redor
Na esperança de ver conclusão.
Caiu-me coco(o fruto) na cabeça
E doeu, doeu muito!

Entendi,
Ah sim que entendi!
Que precipício saber-se tão vivo que se pondera viver. Consciência que dói, dói o prazer, a emoção física e fatal do momento que passa. Assim, pensando o viver, parece que o eterno existe em plataforma do real e isso parece-me belo.
Será?
É que também algo de perverso, algo de alienado talvez…
É um alienado que junta morte à vida em pose de plena meditação. Parece que “as coisas” do corpo são supérfluas e que o nada é doce e melancolicamente perpétuo.
Será esta maneira de estar algo de benévolo ou malévolo para mim e para meu tempo? Não sei se perco meu tempo em viver “além” desdenhando o prazer remoto e leve do real.

Se me paro num de maior energias reprimidas que é a ressaca e me concentro numa só, só coisa, parece que ela ganha conteúdo para por si viver. Parece que todo o universo está aqui neste momento. Paro o tempo, desapareço dentro, ou fora, de toda a relatividade da existência carnal e sou um só espírito com o mundo e os sentidos. É verdade? É a verdade?

Tenho dificuldade em ser hoje em dia natural e despreocupado. Tudo é sentido, depois analisado. Parece que me construo e desconstruo por obrigação, desígnio ou destino.

Não sou bem eu que desejo meu desejo, ele é-me imposto por uma qualquer força maior… Estarei louco? Estava a pensar isso há pouco… eu acho que sim.
Pelo menos tenho as portas do louco de mim abertas. Todos somos a uma certa medida loucos, já que nosso sub-consciente e inconsciente são à partida designados como loucos aos olhos da física realidade. Mas (o meu louco) é um louco propositado, voluntário e hoje devoto, se assim posso dizer… Viver sem esta minha, hoje, loucura seria um enorme infortúnio porque me inseriria necessariamente na loucura do mundo actual. Loucura essa, a meu ver, completamente supérflua, por mais não seja, por ser “só” actual.

Portanto seja ou não loucura dela me quero agora, é-me ela útil e produtiva, serve-me o propósito que eu desejo, ao que eu me disponho.

Desde que a mulher continue a viver o dever de ser Mulher e não trabalhadora só, o mundo - humano – e os Deuses têm salvação, isto pela simples razão de ela, a Mulher, continuar a Criação.
Em desígnio de me querer
Em tão albergante ser,
Estala-me o corpo em fatalidade
E o estico, o mais que posso,
Com (meu) espírito e ele vai dando.

Quero o que quero
E o a mais deixa-o lá sossegado
Em corpo e mente dos demais.

Fico-me por mim e já é muito!

Vivo então esta vida
Deveras agora minha,
E não busco justificação ou salvação
Tenho a minha.

Graças ao tempo que resisti e aguentei
Hoje não preciso de ninguém que não queira.

Sei quem quero e nisto me deslargo
E largo tudo de desnecessário
Pelas ruas e figuras inertes ao tempo.

Eu me movo em dança do passado
Pousando em escrita presente
E voando ao futuro
Numa infindável ode à vida universal.

Todos meus irmãos
Não tenho preferidos nem senãos.

Todos Deuses e Génios
De se levarem sozinhos seus imensos
Únicos caminhos!

Gente do amor e do sensível,
Gente do sentir e do viver.

Qual repressão? Não!

Em nós há espaço para tudo
Calor de quem se sabe imenso
E no outro continuação.

Não estou sozinho pela primeira vez
Na minha vida,
Sou eu voluntário ser que distribui seus amigos
Pelo seu antro mental, corporal, espiritual.

E todos Deuses!
E todos lindos!
E todos sozinhos!
E todos fortes!
E todos fracos de tão fortes!
E todos assim vivos, perto de mim.
Entra devagar
Que o copo
Se já acaba
E eu não me acabo nunca.

Entro eu na tua
Que silenciosa me aprumo
Em dengosa asa feminina.

Sapatos pretos
Mente branca
O corpo de meu tempo: amanhã.

Manhã tigresa
Calor em sol bimol
E eu sorrindo
Ainda deitado,
Apoiada face em perna depilada.

Então o sol
Me cai em energia
E salto
Eu da cama com alegria.

É fruto a comer tempo
A me de encanto pertencer.

Há um livro na mala
Mas Deus me livre!
Que não quer ser ele lido.

Há burocracias
Para conter o tempo da vida.

Assinaturas, processos,
Desaventuras de ser civil.

Em parte desmamado da árvore mãe
Vomita em tom de sorriso o leite
Que sendo do pai
Não é leite mas provavelmente sémen.

Ah mas eu não,
Eu quero as mamães!

Mãezinha pequenina
Faz-me uma filhinha.
Em segredos de fosfato de sódio
Eu me enlouqueço de paz feminina
E vibro o cano da espingarda para o ar
E disparo fogo
Chama da vida!

Palmas ao desconhecido que se encontra!

Festa na igreja de São Mamede,
Procissão, vai passar o príncipe
E o príncipe sou eu!

Eh lá! e cavalos e estacas altas,
Tendas de comida
E velhos em cima, não,
Em baixo delas!

A luz do sol ilumina a cara
De minha filha
E choro eu lágrimas.

Dedos na testa,
Tem ele febre?
Não, está só feliz!

Irra que a doçura do vinho
Corre-nos as entranhas em mel de convívio.

Jura.

Não, que para quê jurar
Se está isto a acontecer?

Regras da minha antiga cidade
Que é moderna agora…

Quais regras? As esqueci
Em dom de saber também ter trevas!

Louros lingotes de ouro
Ao longe
Chegam que perto
Mas não deles comemos
Então porque os querer?

Então, em amor de ter minha mão
Dada a outra,
Minha mulher que ri em posse de grávida feliz!

E eu aqui
Eu mísero eu
Que combati e combati
O que não havia
E agora danço o que há
E danço bem!

Que maravilha!

Sombrinha, que está calor…

Olho na penumbra a festa
Eles ali felizes
E eu aqui feliz.

Saber viver isto.

Como pude chegar aqui?

Ai que sim
Que estou feliz e estou só aqui.

Não quero mais que o mais
Tem pouco do que eu quero, já tenho.

Lanço os braços ao alto
E agradeço
Deus meu:
VIDA
MÃE NATUREZA
AMOR
VIDA
GRANDE ESPÍRITO
AMOR, amor sim
Tudo isso amor.
Fica por tocar à porta de dona Joana. Ela que tem tudo para salvar a dor que me dói a alma. Nesse instante de à 2 horas fui picado pelo bicho que tinha asas e falava português. Bicho alado que era feminino: cara esguia, olhos castanho mel, tronco delgado e ancas de quem parece estar sempre com o cio. Picou-me o bicho e eu deixei. Também não lhe vi o bico ou ferrão, só a boca e o rabinho.
Dona Joana, ó dona Joana!
Que é filho?!
É ela , ó desculpe ele, o bicho picou-me outra vez!
Ó mas que chatice , parece que ainda não aprendeste a não lhe falar.
Eu penso nisso e estou atento mas logo que ele me aparece fala-me de seduções que desconheço e fico atordoado e lá ela, ah desculpe, ele me pica.
Mas porque dizes tu ela e depois “ desculpe, ele”?
Porque o bicho é uma ela ao que me parece. Tem asas e ancas e mamas e etc.
Ó meu filho, isso não é um bicho, é uma menina, provavelmente uma menina que tu gostas muito, daí ela ter asas…
E não é ela perigosa dona Joana?
Não ela é tua musa, ao que parece, estás apaixonado meu filho, apaixonado…
Pressão de animal ao dócil ruge o canto de borboleta em doçura quase violenta. Um traço de formosura girando e se dobrando em perversa estatura que rebaixa o além de si em pequenez. Uma tez pálida, quem o ou a assiste e ele que é uma ela que se finaliza num ele se apruma de sucessiva contradição para não ser descoberto seu filho incerto que é, era ele, ela em pequeno que olhando o mundo o vi-a a ele sorrindo mas o mundo esse nele coincidia num sempre de absurdo em que não existe equação de compreensão. Era e é e era uma ignorância que ele, ela era e é um feroz bicho que de não se conhecer força nem espelho nem amor foge sempre encontrando os outros em surpresa fulminante. Esses, os outros, uns poucos dos outros que sentados vulneráveis à graça perpétua de um mundo que sempre vive mais, vêem e sentem o que essa feroz besta ignorante não consegue ver nem sentir.

Besta peluda fétida e de olhos encarnados que não se sabendo de seu sitio anda sempre por todos nós em geralmente “ideia de se saber”. Tenho medo dessa besta e quem a mais tem mais sorri de já não ter de fugir desse bicho que nela encontrou poiso, pousio momentâneo da horrível constante fuga de não saber nem se poder saber quem é-lhe essa besta que é um ele… Sei que ela, ele na verdade não existe mas em questão de sentir o existir é relativo…
Encontro com o vento. Fala-me ele de ti enquanto em canto de silêncio eu oiço e de ouvir acabo reproduzindo uma sinfonia em honra tua. Os tempos em precipícios de montanhas que em olhos soberanos se olham e escutam com respeito. Sentada naquela ali, uma rocha acesa e ali um pouco mais à frente e já noutra montanha as vestes de uma menina mulher dançam o vento em crer.
Lá em baixo, eu, desejando voar, desci, desci o alto de mim, onde ontem estava e aqui bem perto do chão desejo voar. Um desejo antigo e ardente que vivia em mim lá nas alturas. Porque estar lá em cima se não há mais tecto para alcançar? Cansei-me do topo e desci. Desci e desci levou dias meses anos já não sei ao certo mas desci e agora aqui sentado já também quase que me esqueci do porquê de meu descer… Conheci tantas árvores arbustos coelhos e cabras das rochas e ventos e silêncios e céus e sóis e luas conheci tanto neste meu descer que me esqueci do que queria ao descer. Mas agora que meu pé pisou o plano do chão não inclinado, esta terra tão espaçosa e pouco exigente, não sei se ainda desejo voar. Para quê voar se se está bem e deveras foi uma conquista estar onde estou?

Já não desejo voar não,
Vou antes andar,
Sim, isso,
Vou apenas andar.
Um vazio me tão grande
Se refugiando segredo.

Eu segredo não!

Segredo ao ar
Que é pureza digna de ser vista.

Segredo um tão doce chorar
Que é amoroso e criança.

Esse segredo pegado
Pelas mãos fortes de Homem
Levado ao alto como santificação do real.

Que mais completo ser
Que ser o vulnerável em pose de Homem.

Ser tudo isto
Com uma cara risonha
Que afecta a tristonha
E ilumina o mar em visão.

Lembrar que tudo de puro, valioso
E assim desejoso de mais conhecer em frente
Almas, até a si divergentes.

Loucura da mente
Se possível
Para ganhar arquitectura
Inconcebível ao real.

Ser homem com criança ao peito.

Ser destro na matéria de ser
E enfim reconhecer que há tão além de si.

Cansado não e infeliz…que distante ambição!

Só quem renega a si
Para poder o mundo fica infeliz
Com o que sabe e é.

Quem tem afecto, amor
Sabe que de mais interior
Há demais exterior.

Assim conhecimento
E sapiência, só amigos da vida.

Ficam os calos ao corpo
E deixa a mente e espírito em destra incessante comunhão.

Caminhos de uma só luz:
Solidão!
Ontem sonhei contigo.

Sonhei que estavas louca
Envolta na realidade.

Olhei-te, assustei-te
E me assustas-te a mim
Cara feia de não coração.

Sonhei contigo
E há tanto que te não sonhava…

Foste louca, desvairada
Pelo sono doce de minha cama,
Tornozelo da mente a dentro,
Frágil coeficiente de emoção.

Quer isto dizer que me falas ao longe?

Queres-me comunicação?

Creio não.

Antes refúgio de meu louco
Projectar em ti
Incoerência minha
De tanto ter como fundamental
Obrigação a ser coerente.

Que não leva senão à loucura
Um tão dever de coerência…

Louca não.

Sensato, apenas sou sensato de minha situação.

Vida a tenho e sempre serei.

Vivo louco para sonhar o viver até o poder ter.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Quero realmente amar as pessoas.

Quero deixar-me de ser
Para só crer nelas.

Quero gostar
De quem escolho gostar,
Quem me entende
Ou me crente.

Ter em mim o elogio do afecto
E ser assim paz de corpo
Em intelecto louco.

Gostar de pessoas
Porque só isso vale neste mundo.

Cansado do segundo,
Sonho longínquo,
Vivo o primeiro.

De uma só, só vida
Inauguro a incessante
Evolução esquizofrénica
Que me apresenta
No uno a revolução
Do tudo e do nada.

Ser assim,
Assim bem dentro e aconchegadinho,
Escrevendo o alento
De pensar amor.

E de o tanto exacerbar,
Largados cadernos e canetas,
Abraçar o amigo,
Os amigos, a amiga,
O desconhecido que sorri de mim,
Os desconhecidos
Que também, sem dúvida,
Merecem meu apresso e dádiva.

Ser assim um todo num só,
Sendo simples de seu múltiplo
Porque em sempre dividido
Por muitos outros em canção
De amor, afecto, interesse.
Saudação à noite que vou ter

Que me aceites bem
Vestes esfarrapadas,
Coração furado
E olhos lunares
De quem tristeza
Fez desenvolvimento.

Que me aceites bem
Noite minha.
Que de mãe fazes
Quando assim quero e me esforço.

Sabes... Eu para ter vida
Só com esforço
Se não largo-me na morte da civilização
E como que morro afogado.

Aceita-me bem noite minha.
Aceita-me como filho
Que já tiveste
E deambula perdido
Pelo som do nada.

Lembra-te que comigo
Tens sempre porta-voz de tua maravilha.

Ah minha noite querida
Se soubesses o quanto anseio partilhar-te
Com uma ela que me agrade.

Mas não, vem-me à mente solidão
E obrigação de poesia
Que me requer o nada ter
Para tudo poder fazer.

Sou estranho eu sei.

Mas sou teu filho
Noite minha.
Noite lisboeta que tem silencio e festividade.

Noite minha
Vou hoje a ti
E não sei de meus amigos…

Uns não me respondem
Outros trabalham amanhã cedo
Outros dormem em tua rua
Por virem de Paris à pressa fugindo
(cuida bem dele noite minha)
Outros nem sei ainda
De sua existência.

Mas fico eu
Minha querida
Eu para te dar
Minha sina.
É plena entrega se dela
Me fizeres
Brochura de noite de amor.

Noite minha, tusso:
Falta de vida…
Pesam-me os pulmões de não
Os poder respirar com vida.

(Estou errado,
Acerta-me aqui a coluna vertebral…)

Se contigo partilho minha vida
Então não mais tristeza por,
Pelo menos,
Amanhã, mais um dia.

Que vivo em segredo para,
Entre outras coisas,
Te contar.

Vês?
Sou te querido
E sincero,
Só te quero dar
E assim dá-me tu teu enleio
Sábio de Deus que não morre…

Tu não morres pois não noite?
Serena estada.
Ela que divaga o sol
Esqueceu-o em tempos remotos
Onde com asas desviava atenções
E surpresas muitas.

Que de tropeção
Iluminou o erro em salvação,
Não mais crente do descrente,
Sorriu ao ente de si ao mundo.

Encanto profundo…
Abraçou a terra, o mar e pessoas
Numa singela procura que afinal era encontro.

Então de tamanha conquista de procura
Encontrou e encontrando,
Tudo largou em sossego
De apenas querer agora viver.

E viver viveu ela
Pois nunca mais dela se soube.
Pondera-se a questão:
Será se sim,
Será que não?

Enleio de um desassossego
Tão-me comum
Tão-me passado.

Olho o alto
E ele me está
Aqui
Baixo.

Colho-lhe uma maçã
E me regozijo de seu sabor natural.
Um passo em falso
E já não é teu
Teu caminho.

Um passo em falso
E logo toleras um outro
Que não teu por habituação.

Um passo em falso
E pumba já não és tu.

Cuidado é o que tenho,
Até demais cuidado
E aí me logro de infortúnio e sofrimento…

Que deixado em paz é o maior dos desafios!

Querer andar por aí
Só vendo
Não sendo visto
Desafio, desafio…

E cansa-me esta coisa
De me proporem.
E ter eu a ousadia
De dizer que não pode ser.

Fico como que culpado
De assim dizer
Porque, na verdade, queria
Um até tão bem um pouco me entreter.

Mas é só bocado
E minha fluidez,
Que de natural e hábito precisa,
Não me tolera nada
Que não seja inteiro.

A arte dura a vida não.
Daí escrevo agora e
Não vou ver o tal “senão”.

Mais necessidade tenho eu
De me fazer em arte que em corpo social.

O social mesmo que artístico
(como muitas vezes o apresento)
Quase nunca me basta
A não ser que haja continuação:
Em Mulher, caminho ou direcção.
Parece que é sexta-feira santa, tão longe…
Que ninguém se lembra.

Demora-se no café, esplanada,
Come-se de família,
Vê-se filmes em casa em modo sozinho,
Vomita-se a ansiedade em incomunhão, incompreensão…

Sexta-feira santa…qual? Esta?

Creio que não, que pouco tem esta de santa
Mantém-se igual a qualquer outra.

Estranho esta coisa de ainda
Sermos uma civilização
Com ligação à religião
E parecer não haver nenhum qualquer Deus
Na nossa informação, movimentação…

Há trabalho, dinheiro, família,
Casa, futebol, pobreza, desgraça,
Acidentes de viação e crise económica
Mas Deus, não…

“Ele” ainda nos dá estes feriados
E a isso lhe estamos, ainda, inteiramente gratos,
Mas aparecer e connosco estar, falar, não.

Parece que Deus não existe aqui…
Ode à condição actual-Cultural

Em passado que me passo presente
O futuro me não chama à recepção.
Fica ali me olhando e eu a ele.
Espero sentado, já ausente de minha situação.

Não me chama ele há 2 anos e já peso úlceras no cu
Que aqui, onde estou,
Só sentado.

Ao lado estão outros
Mas como proibido falar
E se falar perco o lugar
Me subestimo de poder
E me deixo sentado.

Lá vão chamando um e outro
E tarda tanto que me chamem a mim
Que já nem nisso creio.

Mas melhor aqui
Que onde já foi.

Melhor aqui
Que ali onde já não sei dele de mim.

Melhor aqui
Que parado permaneço
E como de nada faço,
Nada apago,
Nada perturbo.

Mais 2 anos…
Cadeira de rodas.
Já nem minhas pernas andam,
Fizeram greve e se cancelaram.

Olho com olhos
De já mocho
As luzes artificiais
Da sala de espera
(que) me comem os sonhos
Em setas afiadas
Que já nem me penetram a carne
Feita cimento igual a estas paredes.

Recebo uma chamada.
É do passado,
É para mim!

Olho em volta e já nem me sei...
A voz que me fala
Sabe-me e diz-me disso.

Ao fim de hora e meia
Lembro pedaço de quando ainda andava.

Desligam-me a chamada,
Passou o tempo…

Eu sorrio.
De me lembrar de quando andava
Minhas pernas cancelam a greve
E me andam!

Vou porta-fora pó passado!
Que se dane o Futuro!
Para quê cansar-me em ego?

Para quê viver-me
Em tão pose imperial
Mas só?

Ai não.

Quero a tua e a tua mão.

Vamos juntos
Sem senão.

Tenho demais vida em mim
Quero-a dar a ti e a ti.

Chato é sentir
Tanta vida por viver
E tanta, tanta
Desperdiçada em dever ser.

Não eu
Mas tu e tu.

Eu pousei minha vida ali
E fui descobrir o espiritual.

Não sei se o encontrei
Ou se o sou
Sei que o sei
E disso me bastou.

(ilumina-me a sala
Que está ela escura)

Só o que se quer
E melhor crer
É que é, enfim, verdade.

E eu crer
Creio em tudo
Creio em nada.

Sou como Deus:
Cansado de seu poder…
Morte longínqua
Que de morte te assumo vida.

Em tédio de querer não ser
E nisto me tão certa nasceres
Empurrei-te ao canto
De meu canto
E espremida
Por mim
Geraste vida e mais vida.

Então quem sou eu
Senão um
Que de ti nasceu 2 vezes:
Uma de corpo
Outra de espiritual.

És minha
Morte que é vida
Vida que és morte.

Sossego…eu entendo.
Fui crente do niilismo
Em fumo de criança crescida
Negava tudo.

Aos poucos fui crescendo
E com isso sentindo,
Se tornando essas as minhas verdades
Fui (finalmente) existindo.

Delas me tornei tão sábio
Ao ponto
Que quando largou Deusa minha
A haste de minha vela
Exacerbei-a em correria
De largar tudo o que demais sabia.

O começo foi duro
O meio foi meio
E o fim mais seguro.

Agora lembro que
O que fui, senti,
É o que sou e falo.

Assim hoje
Mesmo tilintando
De falta (ou demais) energia
Reconheço que o que passou
Sou eu e o que sou continua.

Sou crente hoje
De meu passado.
O que senti são deuses
E o que vi verdades.

Com isto, passo o tempo
Me querendo
Me seguindo.
Abrindo aqui e ali
Uma cortina
Porque quero ver.
Quero ver mais que o que já tenho aqui.
Fugir…fugir da vida!
Que ela se quer demais querida!

Fugir, porque fujo?

Porque sim!

Fujo um pouco ali e ali
Para que no encontro (isso sim!)
Me encontrar deveras!

Fujo para poder encontrar, é isso!

Há que fugir um pouco
Para ganhar a carência
E dela fazer a mais louca
Entrega de felicidade.

Pois no encontro,
De me lembrar fugir,
Encontro mesmo!

Fujo então, afinal,
Para gerar o mais belo encontro!

Claro que não demais natural
Este procedimento
Mas hoje nada o é também,
Senão, o meu encontro!

Porque é vital.
Porque é gerado de minha auto-criada
Carência e fugimento.

Sou, todo eu, pré-propositado.

Invento minha vida,
E no fundo, nisto
Não a deixo natural rolar.

Mas é assim agora…
Foi, fui ontem outro
E amanhã sim, amanhã…

Amanhã não existe que reconforto…

Palerma devasso eu sou!

Mas só porque quero mais e mais encontro.

Hoje, sereno do que quero,
Não me dou
A demais do que, a mim, peço.

Chega, basta, o que hoje desejo.

Na verdade sempre basta
Quando já, de partida, demais se deseja!